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Os 45 anos de um mito: o disco “prisma” do Pink Floyd

'The Dark Side of the Moon' está em qualquer lista dos maiores discos da história do rock

Por Roosevelt Garcia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 mar 2018, 16h15 - Publicado em 19 mar 2018, 13h04
 (Reprodução/Veja SP)
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Houve um tempo em que havia lojas de discos nas ruas. Aliás, houve um tempo em que havia lojas de discos. Pensando bem, houve um tempo em que havia discos. Bom, mas isso não vem ao caso. A questão é que, certo dia em 1976 eu estava andando pela rua e passei em frente a uma loja de discos, e quando passei, fui surpreendido por uns sons estranhos, que normalmente não se ouvem num lugar daqueles. Relógios despertando, um monte deles, de diversos tipos, e parecia que eles estavam todos em sincronia, um som ensurdecedor que vinha das caixas acústicas da loja. Me deti por um instante, pra tentar entender o que era aquilo. O despertar dos relógios foi abaixando, e em seu lugar entrou uma batida grave, hipnótica. Aquilo me deixou curioso, e esperei mais um pouco. Quando o cara começou a cantar, senti uma tremedeira, daquelas que a gente sente quando se apaixona. Imediatamente entrei na loja e perguntei correndo pro vendedor o que era aquilo que estava tocando. “Ah, é o Prisma do Pink Floyd”, ele me respondeu, já me revelando o apelido brasileiro do disco The Dark Side of the Moon, que tinha sido lançado três anos antes, mas eu nunca havia ouvido falar.

Eu tinha 13 anos de idade, já curtia rock naquela época, mas o Floyd era uma completa novidade pra mim. Não me lembro quanto o disco custava, e nem como consegui o dinheiro, mas algum tempo depois, lá estava eu pra levar aquele tesouro pra casa. Aquele foi o início de uma relação que dura até hoje entre mim e o Floyd, e ainda hoje, 42 anos depois daquele dia, e 45 anos depois do lançamento do disco, ouço The Dark Side of the Moon como se fosse a primeira vez. E claro, depois fui atrás dos discos anteriores deles e acompanhei o lançamento dos próximos.

Isso não é um sentimento só meu. Esse é um dos álbuns mais vendidos e mais cultuados de todos os tempos. Pra se ter uma ideia, mesmo depois de vinte anos de seu lançamento, ele ainda figurava entre os 100 álbuns mais vendidos de cada ano, e calcula-se que vendeu mais de 50 milhões de cópias no total. É o álbum que ficou mais tempo na lista da Billboard; no entanto, nunca chegou ao primeiro lugar.

O álbum foi lançado em março de 1973, completando portando 45 anos neste mês, e sua história, antes e depois do lançamento, é repleta de curiosidades. Veja algumas:

  • O grupo fez shows completos com as músicas do disco, mesmo antes de ele ser gravado, o que lhe permitia ir ajustando as músicas a cada apresentação.
  • O disco foi gravado nos Estúdios Abbey Road, em Londres, pois era o único do mundo que tinha capacidade técnica de realizar o quer os músicos queriam.
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    Foto da turnê The Dark Side of the Moon, em 1973 (Reprodução/Veja SP)

     

  • O engenheiro de som do disco foi Alan Parsons, que já tinha trabalhado com eles no disco anterior Atom Heart Mother, e também tinha sido engenheiro do disco dos Beatles Let it Be. Tempos depois, Alan Parsons criou seu próprio grupo, o Alan Parsons Project.

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    Alan Parsons durante mixagem do disco The Dark Side of the Moon (Reprodução/Veja SP)

 

  • Os sons de moedas e caixas registradoras na faixa “Money” são reais, gravados por Roger Waters, que fez um loop com uma fita magnética. Não existia gravação digital, por isso a fita era tocada num gravador enquanto o som era gravado em outro.
  • O grupo às vezes atrasava as gravações para assistir ao programa Monty Python Flying Circus, cultuada série do grupo Monty Python, que foi a inspiração para um estilo de humor copiado à exaustão por todo o mundo, inclusive no Brasil, com TV Pirata, Casseta & Planeta e Zorra Total. O grupo era tão fã do Monty Python que parte do lucro das vendas do The Dark Side of the Moon foi usada para ajudar a financiar o filme Monty Python e o Cálice Sagrado.

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    Monty Python e o Cálice Sagrado, financiado com a ajuda do Pink Floyd (Reprodução/Veja SP)

 

  • A faixa The Great Gig in the Sky, uma das músicas mais marcantes de toda a história do Floyd, é um grande improviso. A cantora Clare Torry, contratada para o vocal dessa música, foi somente instruída pelo grupo sobre o tema e ela poderia fazer o que quisesse no microfone. Saiu uma das mais belas músicas do rock de todos os tempos. Em 2005, ela ganhou na Justiça do direito de figurar como uma das compositoras da faixa, o que não era creditado até então.

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    Clare Torry, a voz por trás da fantástica The Great Gig in the Sky (Reprodução/Veja SP)

 

  • Time, a música que mencionei no início deste artigo, ainda é uma das mais reproduzidas no rádio nos Estados Unidos, tendo uma média de 13 000 execuções por ano nas rádios por todo o país.
  • Houve uma versão “quadrifônica” do disco lançada em em seguida, com uma mixagem completamente nova. O disco era feito para ser reproduzido nos novíssimos sistemas (da época), com quatro caixas acústicas que circundavam o ouvinte, um sistema pioneiro de imersão de som, que muito mais tarde evoluiu para o surround.

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    Edição quadrifônica alemã do álbum (Reprodução/Veja SP)

 

  • A icônica capa do disco foi elaborada pelo estúdio Hipgnosis, responsável por grandes artes de capas de todos os tempos. Seu significado, no entanto, permanece um segredo. Por se tratar de um disco que fala das relações e sentimentos humanos, muitos dizem que a luz branca ascendente incidindo sobre um prisma, e se decompondo numa direção descendente, significaria que o espírito humano é monocromático enquanto evolui, mas que enfrenta a decadência logo depois. Outros sugerem que o gráfico diz mais respeito ao próprio grupo, simples a princípio (linha branca), mas que se revela complexo (arco-íris).
  • Surgiu pela internet há algum tempo uma teoria de que The Dark Side of the Moon é na verdade uma trilha sonora para o filme O Mágico de Oz, de 1939. Isso porque o disco parece perfeitamente sincronizado com o filme.

Assista a uma montagem e tire suas próprias conclusões.

 

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