Nova biografia revela trajetória de Caio de Alcântara Machado
Detalhes da vida do paulistano precursor de eventos de negócios no Brasil, radialista e empresário serão contadas nas páginas de Vai Dar Jacaré
Reportagens, cartas e arquivos dão vida a uma nova biografia sobre o empresário e radialista Caio de Alcântara Machado (1926-2003), considerado o pioneiro das feiras de negócios na capital paulista e em todo o país. “Quase toda semana ele aparecia em Veja”, relembra Maria Izabel Moreira Salles, que assina o lançamento Vai Dar Jacaré.
Para escrever a obra, a psicanalista e historiadora também retomou parte de suas próprias memórias. “Nós nos conhecemos durante o curso de um curador americano e dali nasceu uma profunda amizade. Ele ia ao meu consultório, levava um lanchinho e narrava detalhes da vida”, conta. “Ele era um grande contador de histórias, mas incluía ‘penduricalhos’ ao falar, então tive de checar tudo e foi um trabalho biográfico, histórico e jornalístico.”
Por escolha da autora, o texto segue o formato de romance e aborda a difícil relação de Caio com o pai, seu desempenho (bem abaixo da média) na escola e a trajetória profissional. “Ele não aguentava o peso de ter nascido Alcântara Machado. Ficava de castigo, era repetente e foi levado para um colégio interno.”
Após tentar seguir os passos do pai na política, formar-se em direito e sonhar em ser piloto da Força Aérea (sem sucesso), Caio passou a tomar conta das Lojas Assunção, empreendimento do pai que vendia rádios e vitrolas. “Para vender e promover os discos, decidiu fazer shows de rádio chamados Parada de Sucessos. A ideia evoluiu tanto que ele não sossegou até abrir a 35ª loja. E o pai achava tudo um escândalo por ele viver rodeado de artistas, cantores e boêmios.”
Antes de descobrir a vocação, Caio chegou a visitar uma vidente com amigos. “A madame falou: ‘Não consigo ver nada, só sei que você será uma pessoa importante e dono de um circo. Vejo palhaços, mágicos e cachorros pulando’”, narra. “Ele saiu de lá arrasado e decidiu que as previsões não poderiam dar certo.”
Após se desligar dos negócios da família, Caio fundou sua agência de publicidade e ouviu falar nas feiras industriais pela primeira vez durante uma viagem a Nova York. Incentivado pelo empresário Charles Snitow e pelo presidente Juscelino Kubitschek, inaugurou a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), no Parque ibirapuera. “Quando ele entrou, veio uma emoção brutal: parecia justamente a entrada de um circo, com apresentação de palhaços, poodle na argola e até o mágico que a vidente havia prometido.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 19 de maio de 2021, edição nº 2738