Documentário conta a história da ditadura com imagens de pornochanchadas
'Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava' é resultado da pesquisa da diretora Fernanda Pessoa
Em 2009, quando trabalhava na filmoteca da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Fernanda Pessoa tomou contato com fotos de filmes da Boca do Lixo, região do centro de São Paulo famosa por ter sido um polo cinematográfico independente. Já em 2012, fazendo mestrado na França, ela iniciou uma pesquisa sobre a produção do cinema nacional de 1971 a 1980. Depois de assistir a cerca de 150 longas-metragens, realizou Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava, documentário em cartaz.
A diretora selecionou 27 fitas (quinze delas produzidas em São Paulo) e, durante cinco anos, fez um minucioso trabalho de edição, junto do montador Luiz Cruz. “Desde o princípio, não queria entrevistas com diretores, técnicos ou atores. Sempre desejei contar a história da ditadura militar só por meio de imagens dos filmes daquela época”, diz.
Rejeitado por muitos cineastas, o rótulo pornochanchada (a mistura do humor com o erotismo) nasceu no Rio de Janeiro e, em São Paulo, ganhou maior adesão e subgêneros — pornô social ou político eram algumas das expressões usadas pela crítica, por exemplo, para definir dramas como Noite em Chamas, dirigido por Jean Garret em 1977.
Além de Garret, outros se destacavam na então efervescente cena cinematográfica paulistana, como David Cardoso (19 Mulheres e um Homem), Silvio de Abreu (Elas São do Baralho), Adriano Stuart (Cada um Dá o que Tem), Ody Fraga (Palácio de Vênus) e Alfredo Sternheim (Corpo Devasso).
É muito curioso notar que o cinema erótico dos anos 70 consagrou estrelas como Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Aldine Muller, Vera Fischer, Nuno Leal Maia e Arlindo Barreto (ator retratado no recente Bingo, o Rei das Manhãs), mas também contou com a presença de astros mais, digamos, sérios, como Antonio Fagundes (A Noite das Fêmeas) e Tereza Rachel (Amante Muito Louca).