O que torna um vinho mais sustentável?
Vinícolas aderem a uma série de medidas para produzir a bebida com menos impacto ao meio ambiente
Sustentabilidade não cobre apenas o aspecto ambiental, mas também o econômico e o social, atuando em todas as fases do processo, desde a produção de um vinho (na viticultura, enologia) até seu engarrafamento, comercialização, marketing, recursos humanos etc., e toda a relação da empresa com a economia e a sociedade. É bom enfatizar que orgânicos/ biodinâmicos/naturais (OBN) nem sempre são sustentáveis.
Embora os OBNs sejam claramente uma tendência, e altamente positiva, esses métodos tendem a permanecer em produtores pequenos e de maior valor agregado, ou seja, de impacto ambiental menor, enquanto a sustentabilidade pode ser aplicada a grandes empresas. Nos vinhedos, não se engloba apenas o aspecto de manter a qualidade do solo e um controle de pragas amigável ao meio ambiente (não uso de agrotóxicos, que é a bandeira dos orgânicos), mas também o uso eficiente de energia, redução da emissão de gases, além do controle biológico das pragas (em caso de pestes, introdução de seus inimigos naturais, sejam predadores ou doenças que os atacam) e da redução do uso de água e sua reutilização.
Dentro da vinícola, um exemplo de sustentabilidade é a adoção de energia renovável, como solar ou eólica. Uma vinícola consome muita água e energia elétrica, além de insumos usados diretamente nos vinhos (foco dos naturais), como conservantes e leveduras. A redução, reciclagem e reutilização dos resíduos são práticas fundamentais para a sustentabilidade.
Os maiores agressores do ambiente nessa indústria, contudo, são outros. O transporte do produto final, um elo esquecido da cadeia quando se fala de ambiente. A emissão de carbono, que não é foco dos produtores OBN, é de fato um vilão nesse enredo, já que aviões, caminhões e navios são grandes emissores de CO2. Para o transporte, das vias mais comuns, a mais amiga é a marítima (a terrestre é cinco vezes mais agressora, e a aérea, onze). É menos antiecológico comprar no Brasil um vinho que veio de navio da Austrália (a 15 000 quilômetros de distância) do que um que veio de avião da vizinha Argentina (3 000 quilômetros).
Outro agressor importante está na embalagem do vinho, na qual o vidro tem a parte do leão. Do carbono emitido para a fabricação de uma garrafa, 85% vem do vidro, 9% da caixa de papelão, 4% da rolha de cortiça, 1% do papel do rótulo e 1% do plástico da cápsula. Importante, portanto, evitar as garrafas pesadas. Na arquitetura das vinícolas, a sustentabilidade prioriza a iluminação natural, uso de materiais locais na construção, movimentação do vinho por gravidade, evitando o uso de bombas. Há inúmeras certificações, sendo as mais conhecidas a ISO 14001 e 14004.
CHÂTEAU D’ANGLÈS GRAND VIN BOURBOULENC GRENACHE ROUSSANE LA CLAPE AOC 2019 Propriedade sustentável na AOC La Clape, região Languedoc-Roussillon, no sul da França. Elaborado com uvas brancas da área: bourboulenc, grenache e roussane, amadurecidas de cinco a seis meses em barricas de carvalho. Amarelo palha-dourado. Aroma de baunilha, frutas maduras, pêssego, abricó, mel. Paladar encorpado e macio. R$ 329,90, na Evino.
BODEGA NORTON BARREL SELECT CABERNET SAUVIGNON 2021 Da Bodega Norton, que pratica sustentabilidade, de Mendoza-Argentina, 100% cabernet sauvignon, metade estagia em barricas francesas por três meses, e metade em concreto. Cor rubi escura. Aroma com muita fruta, amora, cerejas, ameixas, especiarias, cravo, alcaçuz. Paladar de bom corpo, com 14% de álcool, bons taninos e acidez. R$ 139,90, na Evino.
V9 GRAN RESERVA D.O. VALLE DEL MAIPO CABERNET SAUVIGNON 2020 Da Viña Ventisquero do Chile, vinícola sustentável. Uvas cabernet sauvignon do Vale do Maipo, com dez meses em barricas de carvalho americano. Vermelho rubi escuro. Aroma frutado, ameixas com notas de madeira nova, café, chocolate. Paladar de médio-bom corpo, taninos doces, acidez moderada. R$ 88,12 na Wine.