“Nosso filme não é histórico, é atual”, diz Cauã sobre ‘A Viagem de Pedro’
Novo longa da cineasta Laís Bodanzky traz o ator como Dom Pedro I e se apoia na desconstrução desta importante figura histórica
✪✪✪ A Viagem de Pedro, novo filme de Laís Bodanzky (Como Nossos Pais), está em cartaz dos cinemas dias antes do bicentenário da Independência. Após ter sido exibido em festivais como a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e Gramado, o lançamento não se dá por acaso.
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Cauã Reymond (Piedade) interpreta dom Pedro I nesta obra que se apoia na desconstrução de uma importante figura da história do Brasil — e é acompanhado por um ótimo elenco. Nomes como Luise Heyer, Victória Guerra, Francis Magee, Rita Wainer, Isabél Zuaa, Luísa Cruz, João Lagarto e Celso Frateschi se destacam.
A ótima direção de Laís — sua primeira experiência com o gênero histórico — concentra-se em momentos extremamente íntimos de Pedro e mergulha (de forma literal, em uma cena memorável) no passado.
Na trama, Pedro precisa encarar a rejeição do povo que antes governou, o preço da ganância pelo poder e suas falhas enquanto marido. A culpa que ele sente pela morte da imperatriz Leopoldina é um dos principais conflitos que vai se desenrolando em uma trama densa e claustrofóbica; afinal, ela se passa majoritariamente dentro do navio rumo a Portugal, próximo do fim de sua vida.
Bate-papo com Laís e Cauã
À Vejinha, Laís Bodanzky e Cauã Reymond falam sobre o lançamento de ‘A Viagem de Pedro’. “Acredito que, agora, próximo do Dia da Independência, o filme ganha novas camadas, especialmente de reflexão.
Ele é uma provocação para nós olharmos sempre para o passado com um olhar crítico, contemporâneo. Devemos questionar: ‘Quem criou essa data?’”, diz a cineasta. “É interessante que, às vezes, o público acha que vai assistir a um filme e o resultado é outro. As pessoas ficam mexidas com o que trazemos na tela. É algo rico, pois não apresentamos o dom Pedro I heroico”, define Cauã.
A dupla relembra que, em uma das pré-estreias, diversos professores registraram o interesse de levar o longa às escolas. “Eles disseram que gostariam de promover debates com alunos. Achamos isso ótimo”, conta Laís.
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Um homem tóxico
A desconstrução de Pedro foi gradual, num trabalho de equipe que começou com um “convite que também foi uma provocação”, segundo a diretora. “Queríamos falar sobre o homem tóxico.
Ele sempre existiu, mas hoje temos a consciência dele. E outras camadas vieram para além dessa crítica. A opressão de raça ganha traços marcantes — não dava para não colocar holofotes nos escravos que conviveram com Pedro.” Cauã completa: “Nosso filme não é histórico, é atual”.
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Publicado em VEJA São Paulo de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805