‘Triângulo da Tristeza’: uma sátira daquilo que nos tornamos
Em cartaz nos cinemas, filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes está indicado a 3 Oscar
✪✪✪✪ Ruben Östlund é um diretor provocador. Detentor de duas Palmas de Ouro do Festival de Cannes – recebidas no intervalo de apenas cinco anos –, o sueco cutuca feridas da sociedade de um jeito inusitado (por vezes até evidente demais) através das reações humanas.
Em The Square (2017), a crítica está direcionada para o mundo da arte. Já em Triângulo da Tristeza, vencedor de Cannes em 2022 e já em cartaz, o foco é explorar os limites da natureza humana dentro de um iate de luxo, repleto de milionários que pensam diferente uns dos outros.
Os modelos Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean, que faleceu repentinamente em agosto devido a uma doença) são um casal que navega pelo mundo da moda. Quando os dois são convidados para viajar em um cruzeiro de luxo com uma galeria de passageiros milionários, tudo parece “instagramável” e perfeito demais.
Mas as companhias da viagem (que vão de um russo excêntrico a um capitão desequilibrado, interpretado pelo talentoso Woody Harrelson) são intensas e uma tempestade começa a se formar – de forma metafórica e literal. Tudo sai dos eixos e, a partir daí, é melhor não ir adiante com possíveis spoilers.
O fato é que Triângulo da Tristeza, com todas as suas alegorias, seus exageros e suas críticas afiadas ao comportamento humano diante de opiniões extremas e individualismo, é um filme bem “ame ou odeie”.
Östlund não abre espaço para meio-termo em sua narrativa. Essa característica se estende ao impacto direto no espectador, que pode abraçar a provocação ou recusá-la por completo. De toda forma, vale (e muito) mergulhar na atmosfera bizarra deste cruzeiro que mascara preconceitos e hipocrisia com belas refeições e uma etiqueta fora da realidade.
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de fevereiro de 2023, edição nº 2829
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