Exclusivo: Criadores de ‘Stranger Things’ dizem que série se encaminha para o fim
O Volume 2 da 4ª temporada estreia nesta sexta-feira (1) na Netflix
As expectativas estão altas para o desfecho da 4ª temporada de Stranger Things, que chega à Netflix nesta sexta (1) no formato de dois episódios com mais de 2h de duração cada.
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À medida que o fim do mundo invertido pode estar mais próximo após a intensa batalha de Starcourt, que deixou um rastro de terror e destruição na cidade de Hawkins no fim da terceira temporada, vimos o grupo de amigos se separar pela primeira vez. Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb Mclaughlin), Will (Noah Schnapp), Max (Sadie Sink) enfrentam o Mundo Invertido e outras ameaças, enquanto Eleven (Millie Bobby Brown) se depara com seu passado sombrio.
Para aquecer até o dia da estreia, leia abaixo a entrevista da Vejinha com os irmãos Ross e Matt Duffer, criadores do fenômeno da Netflix.
Para que possamos relembrar, contem como terminou a temporada 3 e onde começa a temporada 4?
Matt: A temporada 3 teve um final bem dramático com a batalha de Starcourt. Todos os nossos personagens entraram na luta e Hopper sacrificou a vida para impedir o Devorador de Mentes de fechar o portal para o Mundo Invertido e acabar com tudo – ou pelo menos foi o que pareceu na época. A suposta morte dele teve um grande impacto em todos os personagens e fez com que eles se dispersassem no fim da temporada. Na temporada 4, nós vemos que os Byers e Onze foram para a Califórnia. Além disso, Joyce recebe uma pista misteriosa, indicando que Hopper pode estar vivo na Rússia.
Essa temporada é muito maior em termos de escopo e escala. O que diferencia a temporada 4 das outras temporadas de Stranger Things?
Matt: Nós dizemos que essa temporada é a nossa Game of Thrones porque tem várias locações. O fato de estarmos espalhados por vários locais define a temporada mais do que tudo, e faz com que ela seja muito singular e especial dentro de Stranger Things. Estamos em Hawkins, como sempre, mas também estamos na Califórnia e na Rússia. Essas três grandes locações têm suas respectivas tramas, e cada uma delas tem um visual bem específico. E, por mais distantes que pareçam, todas essas histórias inevitavelmente acabam se encontrando. É uma temporada sem igual.
Ross: O fato de a temporada 3 se passar no verão foi bastante divertido para nós porque era tudo muito brilhante, bem technicolor e pop. Foi o nosso filme de verão, mas teve um dos finais mais sombrios da série, com o que aconteceu com o Hopper e nosso grupo se separando. E a escuridão continua nessa temporada, que aborda o medo e também traz revelações. Nós acumulamos várias ideias ao longo dos anos, e nessa temporada parece que finalmente daremos vida a quase todas elas. No geral, eu diria que o tom é muito mais sombrio. A intenção era fazer a temporada mais assustadora de todas.
Então, o que vocês podem falar sobre essa mudança de tom?
Matt: Sempre tentamos fazer algo diferente a cada temporada, para garantir a evolução da série. E isso acaba acontecendo naturalmente porque nossas crianças estão crescendo. É engraçado que nem posso mais chamá-los de “crianças”, porque já são jovens adultos. Nós decidimos que esse era um bom momento para colocá-los no que é basicamente um filme de terror. Especialmente na trama de Hawkins, esses adolescentes estão lidando com um filme de terror no estilo de A Hora do Pesadelo. Isso tem muito a ver com o novo vilão, um monstro de aparência mais humanoide, no estilo dos serial killers sobrenaturais clássicos. Esse foi outro fator crucial para definir a temporada.
O que podemos esperar dos monstros nessa última parte da 4ª temporada?
Ross: O principal vilão dessa temporada é a nossa versão do Pinhead ou do Freddy Krueger. Desde a temporada 1, queríamos um vilão que pudesse conversar com nossos personagens e expressar seus motivos e pensamentos, além de entrar na cabeça deles. Esse ano é muito mais um filme de terror psicológico do que um filme de monstro. Essa é a primeira vez desde a temporada 1 que voltamos ao mundo das próteses. Nós realmente temos alguém usando uma roupa especial e atuando no estúdio. Claro que também tem computação gráfica, mas desta vez tivemos um monstro real com quem nossos personagens interagiam no estúdio durante as gravações.
Matt: Nós também queríamos explorar vilões mais humanos, então criamos um personagem chamado Jason Carver, interpretado por Mason Dye, que é o novo rei do Colégio Hawkins. Jason trouxe uma oportunidade de explorar um vilão humano, que começa a série como um cara realmente bom — não é como o Billy, que já era um bad boy. Ele é o melhor aluno da turma e se importa com os outros garotos. Jason só tem um pouco de escuridão e raiva dentro dele, que nunca teriam vindo à tona se a vida tivesse tomado outro rumo. Mas ele foi muito atingido no início da série, então acaba se descontrolando e nós acompanhamos todo esse processo. É um personagem que, em circunstâncias normais, teria sido uma pessoa de muito sucesso na vida, mas quis o destino que Jason estivesse em Hawkins, então a situação não ficou boa para ele.
Como foi explorar a locação na Califórnia? E como Onze (Millie Bobby Brown) e os Byers (Winona Ryder, Noah Schnapp, Charlie Heaton) encaram a vida nova?
Matt: A trajetória da Onze é bem diferente. Boa parte da motivação e da tensão dessa temporada acontece porque temos um novo mal surgindo em Hawkins e, pela primeira vez, Onze não está presente. Além disso, ela perdeu os poderes no final da temporada 3 e está indefesa quando descobre o que aconteceu em Hawkins, sendo incapaz de ajudá-los como fez antes. Nessa temporada, Onze precisa revisitar o próprio passado, que é bem traumático, e precisa reviver muitas coisas que gostaria de ter esquecido. E é isso que move a temporada. Mais do que nunca, é uma temporada de revelações. Nós costumávamos brincar e chamá-la de Stranger Things: Revelations para os roteiristas, porque você vai descobrir muita coisa sobre o que aconteceu no passado, por que aconteceu e por que estamos aqui agora.
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Ross: A Califórnia tem um estilo bem diferente. O objetivo nessa locação era ter um clima de E.T. – O Extraterrestre. Quando fizemos o roteiro para o piloto da temporada 1, eu me lembro de ouvir a trilha sonora de E.T., feita pelo John Williams, no fone de ouvido enquanto escrevia a primeira cena do porão e da empolgação que senti por ela ter saído tão facilmente.
O que está acontecendo com o restante do grupo de Hawkins — Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin) e Max (Sadie Sink)?
Ross: Com os Byers e Onze fora de Hawkins, nós ficamos com um grupo muito interessante. Conseguimos criar umas dinâmicas bem divertidas entre os personagens e unir personagens que não interagiam muito. De quebra, teremos mais Dustin e Steve, porque não conseguimos mais escrever Stranger Things sem mostrar esses dois brigando, fazendo as pazes e crescendo. Max ainda está muito abalada com o que aconteceu no ano anterior, especialmente a morte do meio-irmão dela, Billy. O que aconteceu com o Hopper afetou muito a Onze, e o que aconteceu com o Billy afetou muito a Max. Nós vemos as consequências desses eventos traumáticos nessas personagens.
Como foi trabalhar com Joe Keery, Maya Hawke e Natalia Dyer nessa temporada?
Matt: Adoro trabalhar com Joe Keery, Maya Hawke e todos esses garotos que não cresceram com uma locadora de vídeo por perto, o que é surreal. Eu tive que explicar a eles como o serviço funcionava e até como eram as capas das fitas VHS. Nós adorávamos gravar nessa locação basicamente porque era uma viagem à nossa infância. E acho que o mesmo vale para boa parte da equipe. Essas cenas deixaram todo mundo com uma sensação de nostalgia. Claro que a facilidade da Netflix é muito melhor, mas tem algo bastante mágico em uma locadora de vídeos.
Ross: Esse ano nós conseguimos unir Nancy e Robin, que só disseram “oi” uma para a outra no fim da temporada passada. Elas não interagiram muito, e nem se conheceram. Agora passam muito tempo juntas, e claro que ambas têm personalidades bem diferentes.
Essa temporada nos apresentou ao clube Hellfire, liderado por Eddie Munson (Joseph Quinn). Como foi criar esse clube?
Matt: O Hellfire tem papel importante na temporada, e é um nome pomposo para o clube de RPG do Colégio Hawkins. Joseph Quinn tem uma atuação incrível como o líder. Eddie não é o nerd típico. Ele gosta muito de fantasia, mas também curte heavy metal e tem uma banda. Eddie é um excluído. Na verdade, ele é a epítome do excluído, em vários aspectos. Ele não se encaixa no Colégio Hawkins, exceto entre os integrantes de seu clube, além de ser desprezado e temido pelos outros alunos da escola, mas oferece um lugar em que Dustin e Mike se sentem em casa. Nos anos 80, algumas pessoas tinham uma visão bastante negativa do RPG. Havia um temor de que o jogo causaria um aumento no satanismo e grandes jornais até fizeram reportagens sobre isso. Por isso, algumas pessoas veem Eddie não só como um excluído esquisito, mas como alguém perigoso.
Ross: A série documental O Paraíso Perdido inspirou a criação do Eddie e do Clube Hellfire. Nós queríamos muito mergulhar nisso. Tentamos criar esse clima já no final da temporada passada, quando mostramos o noticiário falando sobre o mal em Hawkins e relacionando a jogos de tabuleiro malignos.
Matt: Você tem um grupo de garotos que basicamente se recusa a seguir as regras como os outros fazem. Eles não se encaixam, estão totalmente deslocados e, por isso, são vistos como perigosos e considerados párias. E, quando algo sai errado, o que tende a acontecer em Stranger Things, é fácil culpá-los.
Nessa temporada, descobrimos mais sobre o Mundo Invertido do que em todas as anteriores. O que levou a tomarem essa decisão criativa?
Matt: Um dos pontos mais empolgantes dessa temporada para nós foi esse aprofundamento no Mundo Invertido. Passamos mais tempo lá esse ano do que em todas as outras temporadas. E olha que nem fomos ao Mundo Invertido na temporada 3. Por isso, um dos nossos principais objetivos nesse ano era passar muito tempo por lá. Queríamos mostrar um pouco mais como ele funciona. Quando Will ficou desaparecido durante toda a temporada 1, nós não vimos o que ele vivia ou como se comunicava com a Joyce. Esse ano nós realmente quisemos explorar um pouco mais o andamento disso e ver tudo da perspectiva do próprio Mundo Invertido. Foi divertido demais escrever essa parte.
Ross: Também é divertido ficar alternando entre dimensões. Na visão original que tínhamos para Stranger Things, os garotos passavam por vários portais, entrando e saindo dessa dimensão. Não tivemos tempo de fazer isso na temporada 1, mas ainda estamos animados com essa ideia.
O que podemos esperar de Stranger Things daqui para frente?
Ross: Dá para sentir que a história está se encaminhando para uma conclusão. Isso é o que mais nos empolga nessa temporada. Nós nos divertimos muito na temporada 3, mas agora chegamos à parte séria, em que começamos a revelar as camadas dessa mitologia. E à medida que você vai recebendo essas respostas, consegue ver que estamos indo para um destino bastante claro e para o fim de Stranger Things. O que é um pouco triste, mas ao mesmo tempo é animador para nós e para todos os envolvidos na série.