Robert Downey Jr. e Susan Downey falam sobre Sweet Tooth, da Netflix
Em entrevista exclusiva a Vejinha, os produtores abordam o trabalho em equipe para dar vida à série e as semelhanças da trama com a pandemia da Covid-19
A série de fantasia Sweet Tooth, da Netflix, estreia nesta sexta-feira (04) no catálogo. Em uma trama que mescla aventura, ficção-científica e um vírus que tornou a Terra em um lugar pós-apocalíptico, a produção terá oito episódios em sua primeira temporada.
Na ficção baseada nos quadrinhos da DC Comics de Jeff Lemire, algo chamado de “O Grande Esfacelamento” causou estragos no mundo e levou ao surgimento de híbridos: bebês nascidos parte humanos, parte animais. Sem saber se os híbridos são a causa ou o resultado do vírus, muitos humanos os temem e caçam.
Abaixo, leia a entrevista com os produtores executivos de Sweet Tooth, Susan Downey e Robert Downey Jr. (intérprete do Homem de Ferro na Marvel):
Como vocês conheceram os quadrinhos Sweet Tooth e por que decidiram adaptar a história para uma série?
Susan Downey: Demos uma olhada nos quadrinhos Sweet Tooth, de Jeff Lemire. Era um título da DC Vertigo, e tínhamos um acordo com a Warner Brothers. Quando vimos que ele tinha escrito e ilustrado tudo sozinho, isso chamou a nossa atenção. A história tinha algo marcante. O personagem principal é híbrido, metade cervo, metade humano. Nunca tínhamos visto nada assim. O desafio era como pegar a jornada desse garoto, essa história de amadurecimento tão diferente, que acontece em um cenário selvagem, e deixá-la mais acessível para o público. Adoramos esse desafio.
Robert Downey Jr.: Os quadrinhos têm uma amplitude emocional enorme, e os personagens são muito interessantes. Queríamos transformar tudo isso em uma ótima experiência para toda a família. Sei que quando a Susan começa a trabalhar com um tema ou um personagem, ela se envolve de verdade e não para enquanto não consegue colocar tudo em prática.
Susan Downey: Sempre que eu e o Robert fazemos uma adaptação, nosso primeiro passo é definir uma estrutura para a história e depois fazer as mudanças necessárias para ajustá-la à mídia, ou seja, para o cinema ou para a TV. Mas também precisamos de uma motivação, e no caso de Sweet Tooth, a sensação de esperança e o otimismo de Gus foram como uma estrela-guia para nós. Adoramos encontrar histórias que podemos assistir com os nossos filhos ou que podemos recomendar às nossas mães, ou seja, esse tipo de entretenimento que agrada todas as idades. Essa história tem elementos muito reais, e o mundo que criamos é muito interessante.
Robert Downey Jr.: É um mundo enorme e uma história épica. Hoje em dia, tudo tem que ser impressionante. Tipo: “Nossa, o que é isso? Onde é? Quem são essas pessoas? O que está acontecendo?” Sempre deixo tudo nas mãos da Susan para garantir que a história seja realista e que os personagens sejam incríveis. Esta série tem grandes elementos para chamar atenção, mas também tem personagens interessantes, que fazem o público torcer para eles.
Na série, um vírus catastrófico muda o mundo para sempre. Essa ideia acabou sendo muito parecida ao mundo real por causa da pandemia de coronavírus. Como essa realidade afetou a abordagem de vocês?
Susan Downey: Quando começamos a desenvolver a história, parecia uma ficção científica, algo impossível de acontecer. No entanto, todos acabamos passando por uma situação muito parecida. Isso nos deu ainda mais vontade de explorar as ideias de esperança, comunidade e recuperação.
Robert Downey Jr.: Jeff Lemire deve ter uma bola de cristal. Ou ele é vidente ou sabe ler tarô. Neste momento tão difícil que estamos atravessando, esta série é uma forma de entretenimento que acabou vindo na hora certa.
Susan Downey: Tivemos a sorte de poder filmar na Nova Zelândia, que tem paisagens lindas e exageradas, perfeitas para o visual que procurávamos. Diferente da maioria das histórias apocalípticas em que tudo é cinza, empoeirado, com prédios caindo aos pedaços, a ideia principal de Sweet Tooth é que a natureza voltou a dominar o mundo. Criamos a ideia de “distopia de contos de fada”, ou seja, tudo tinha que ser grande, verde e viçoso. Então, era o cenário perfeito para contar a história.
Como Jim Mickle deu vida a essa “distopia de contos de fada”?
Susan Downey: Tínhamos visto o trabalho de Jim em alguns filmes independentes e sempre o consideramos um visionário. Além disso, ele já conhecia o material, isso foi ótimo. Ele também tinha um ponto de vista alinhado ao nosso, de que a história tinha muitos temas incríveis para aproveitar, mas que o melhor seria criar um mundo divertido para todos os tipos de públicos. Foi o parceiro perfeito.
Robert Downey Jr.: A Susan já precisou lidar com muitos desafios e problemas, mas uma coisa que não dá para resolver de jeito nenhum é a falta de talento. Então, foi um prazer trabalhar neste projeto com uma pessoa que realmente entendia e valorizava a história. Jim foi nossa primeira opção e também a mais importante.
Como vocês selecionaram os atores principais, Christian Convery (Gus) e Nonso Anozie (Tommy Jepperd)?
Susan Downey: Procuramos muito até encontrar o Gus perfeito, e o Christian é um verdadeiro profissional. Gus é muito otimista, mas também tem momentos de sofrimento e choques de realidade quando sai da floresta nessa história de amadurecimento. Encontrar um ator mirim que pudesse transmitir essas duas facetas não foi fácil, mas o Christian fez um ótimo trabalho. Um dia eu estava assistindo aos dailies, e meu filho passou e disse: “Olha, o menino de Brincando com Fogo!” Christian já tinha trabalhado em muitos projetos e já é conhecido entre o público mais jovem.
Robert Downey Jr.: Adoro esse menino. Não havia ninguém melhor para o papel. Também adoro a discrição de Nonso. Como dizem por aí, coragem é ter critério para saber quando se arriscar. Em várias partes da história, ele demonstra que também tem sentimentos por trás dessa aparência fria.
Susan Downey: Carmen Cuba fez o casting, e Nonso foi perfeito para o papel. Ele é um ator de teatro britânico maravilhoso e realmente entrou na pele do Jepperd. Ele e o Christian parecem tão diferentes na tela, mas formam um vínculo superprofundo. É uma beleza de ver. Um dos principais temas da série é a família. Tem a família em que nascemos e a família que construímos. Todos os personagens estão em busca dessa construção, só que alguns demonstram mais do que outros. Gus é como o eixo central, que reúne essas pessoas tão diferentes.
Vocês podem falar um pouco do Exército Animal e da líder Ursa (Stefania LaVie Owen)? Por que o público mais jovem vai se identificar com a história dela?
Susan Downey: A Ursa e o Exército Animal representam muito bem os adolescentes da atualidade, que entendem muito bem o que está acontecendo no mundo, especialmente com o meio ambiente, e veem o ativismo como forma de expressão.
Robert Downey Jr.: A Ursa é como uma guerreira adolescente. Ela protege os híbridos e defende a preservação do mundo natural. Além disso, ela aproveita o poder que tem. O Exército Animal também representa um dos principais temas ou conflitos da série: como não se tornar aquilo que você quer eliminar? Assim que eu vi os dailies de Stefania LaVie Owen, percebi que ela tinha essa energia e essa audácia. Também fizemos um casting bem amplo para encontrar a Ursa, e agora com o alcance da internet, dá para fazer audições literalmente no mundo todo. Ela é de Wellington, Nova Zelândia. É um tesouro nacional. Ouça o que eu digo, essa menina vai ser uma estrela.
Susan Downey: Consideramos várias garotas para o papel de Ursa. A atriz precisava transmitir uma certa vulnerabilidade, mas também ser capaz de fazer o público acreditar que ela é a líder do Exército Animal. A Stefania era naturalmente assim. Pessoalmente, ela transmite muita intensidade e conhecimento, mas também tem essa curiosidade verdadeira, e colocou tudo isso na personagem.
O que vocês esperam que o público sinta ao assistir Sweet Tooth?
Susan Downey: Antes de tudo, espero que o público se divirta. Espero que todos tenham a experiência que temos com os nossos filhos, que a família toda se reúna para assistir e que cada um tenha sua parte ou personagem preferido. Se fizemos bem nosso trabalho, as pessoas vão dar muita risada, torcer e talvez até chorar.