‘Priscilla’ mostra retrato da solidão em casamento com o Rei do Rock
Novo filme de Sofia Coppola tem Cailee Spaeny em atuação sublime como Priscilla Presley
✪✪✪✪ Sofia Coppola é uma cineasta que cresce nos detalhes. Em todos os seus filmes, a solidão e o protagonismo feminino se destacam – assim como o trabalho sempre minucioso na direção de atuações das mais diversas, que vão de Kirsten Dunst até Scarlett Johansson.
+O melhor que o cinema entregou em 2023
Em Priscilla, em cartaz nos cinemas, quem brilha (e muito) é Cailee Spaeny. A atriz vive Priscilla Presley desde o início do namoro até o fim de seu conturbado casamento com Elvis Presley.
Por razões que vão para além do título, o rei do rock fica em segundo plano, algo que só engrandece a performance de Cailee e deixa claro o quão impactante foi essa relação. Um relacionamento que, de forma orgânica e também forçada, dominou todos os âmbitos de sua vida.
Para expor isso em tela, Coppola opta por apresentar a rotina do casal, mas especialmente dela sozinha na mansão, sob um olhar externo. Tal olhar pode parecer distante inicialmente, mas não se engane. Priscilla é o cerne de tudo e seu silêncio toma conta. É preciso muita atenção para imaginar o que ela está pensando todas as vezes que o marido sai para suas viagens.
Mas a diretora dá as ferramentas (narrativas e visuais) para que o espectador entenda aquela quietude e se sinta ali, ao lado da personagem nos amplos cômodos de Graceland, em Memphis. É de um primor o cuidado de Coppola em construir uma suposta vida de conto de fada e, em contrapartida, a sutileza de Cailee em derrubar tudo por terra com olhares e decisões que jamais são ditas em voz alta.
Priscilla é baseado na biografia Elvis e Eu, de 1985, de Priscilla Presley e Sandra Harmon.
Publicado em VEJA São Paulo de 05 de janeiro de 2024, edição nº 2874