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‘Saudosa Maloca’ mergulha nas canções de Adoniran Barbosa

Rodada no Bixiga, produção traz Paulo Miklos na pele do sambista e revisita uma São Paulo do passado

Por Barbara Demerov
Atualizado em 23 out 2023, 18h31 - Publicado em 3 fev 2023, 06h00
Do curta para o longa: Paulo Miklos como Adoniran Barbosa
Do curta para o longa: Paulo Miklos como Adoniran Barbosa (João Oliveira/Divulgação/Divulgação)
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Adentrar a Vila Itororó, centro cultural localizado no Bixiga, e ver o local ocupado pela equipe do filme Saudosa Maloca remete de imediato às músicas de Adoniran Barbosa (1910-1982) e a uma época que não existe mais. Afinal, João Rubinato foi uma das grandes personalidades do bairro e até mesmo o apresentou a Elis Regina (1945- 1982) na década de 70.

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O universo musical do compositor e cantor de Saudosa Maloca e outras pérolas do samba brasileiro é tema do longa-metragem de Pedro Serrano — entusiasta do artista que, por sua vez, dirigiu o curta-metragem homônimo, premiado no Festival de Gramado em 2015, e o documentário Adoniran — Meu Nome é João Rubinato (2018).

Gustavo Machado, Paulo Miklos e Gero Camilo no set
Gustavo Machado, Paulo Miklos e Gero Camilo no set (João Oliveira/Divulgação/Divulgação)

Nesta terceira revisita à história de Adoniran, que deve estrear nos cinemas no fim deste ano ou primeiro semestre de 2024, o cenário é especial. A Vila Itororó, com seus paralelepípedos e casas de época cercados de grandes prédios modernos, representam o que um dia já foi o Bixiga — e esse conflito fará parte do filme, que se passará nas décadas de 50 e 80. “A verticalização de São Paulo afeta Joca (Gustavo Machado), Mato Grosso (Gero Camilo) e Adoniran (Paulo Miklos), os personagens principais.”

Serrano não só aproveita o histórico do local como ainda leva objetos do próprio Adoniran às cenas. O diretor é um dos responsáveis pelo acervo do sambista que fica na Galeria do Rock. “Fiz um acordo com a família para cuidar dos materiais que estavam fechados em um depósito. Para o longa, teremos peças originais. São peças de artesanato, chapéu, paletó, quadros e troféus”, conta.

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Miklos, paulistano que volta a interpretar Adoniran após o curta, relembra os estudos no Colégio Equipe, à época bem próximo da Vila, e comemora o fato de o local das filmagens resistir ao tempo. Ele conecta sua história às reflexões do sambista: “A casa onde morei com os meus pais deu lugar a um edifício. Um metrô foi construído onde era a lojinha de minha avó, na Rebouças. Adoniran chamava a cidade de ‘inferno que anda’. Ela se transforma e leva nossas memórias”, diz, antes de destacar que a Vila Maria Zélia, no Belenzinho, outro “oásis de preservação”, também será visto no filme, que terá distribuição da Elo Studios.

Vila Itororó, no Bixiga: produção que remete aos anos 50
Vila Itororó, no Bixiga: produção que remete aos anos 50 (João Oliveira/Divulgação/Divulgação)

Camilo, outro ator que retorna para as telonas, afirma que o público verá a identidade de São Paulo sendo resgatada: “O filme pega esse passado e lembra que ele também é presente. O passado cultural tem raiz e força”.

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Renata Martins Alvarez, produtora-executiva de Saudosa Maloca, afirma que as escolhas das locações são bem fiéis à história de Adoniran, que viveu no Centro. “Vamos filmar na Vila Economizadora, na Luz, na Santa Efigênia e até na fachada do Palacete Tereza Toledo Lara, que abrigou a rádio onde ele trabalhou.”

Miklos aponta o papel que considera fundamental da produção: apresentar a história dos paulistanos para os paulistanos. “Através da obra de Adoniran, a gente percebe quanto perdemos por não termos preservado o mínimo do espaço físico que rodeia a cidade.” Mas, apesar de o longa tratar do crescimento desordenado da cidade, o ator ressalta que a comédia terá seu espaço. “As músicas dele são tristíssimas, outras trágicas. No entanto, há humor e a possibilidade de superar aquele acontecimento ruim. Amanhã é outro dia — e o filme trará essa mensagem.”

VILA ITORORÓ
Centro Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em um conjunto de edificações de 1920. Rua Maestro Cardim, 60, Bela Vista, ☎ 98397-4800. Ter. a dom., 10h às 19h. Programação aqui.

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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827

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