Ana de Armas dá show em ‘Blonde’, mas visão machista predomina
Em filme da Netflix, Marilyn Monroe é mais uma vez reduzida à figura de sex symbol
✪✪ Ana de Armas é a estrela de Blonde. Isso é fato. Desde a primeira foto divulgada – seguida de uma imediata explosão de expectativas para vê-la na pele de Marilyn Monroe – já era evidente que a atriz cubana encarnou com seriedade a icônica figura de Hollywood.
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No Festival de Veneza, Ana foi aplaudida de pé por vários minutos. E, agora, ao terminar de assistir ao filme recém-lançado na Netflix, baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates (que reimagina a vida da atriz), a resposta provavelmente será uma só: a atriz merece todos os aplausos e está sublime no papel. Marilyn sempre teve esse poder de conquistar todos os olhares em todos os lugares. E a personificação de Ana vai além das imagens que emulam cenas de clássicos da Era de Ouro, eventos importantes e sessões de fotos.
Sua Marilyn Monroe, interpretada com tanto empenho no filme de Andrew Dominik, é mais um indicador de seu talento. Desde a voz até o trabalho corporal, Ana mergulha em uma performance arrebatadora. O filme, por sua vez, vai para uma direção na qual a história de vida de Marilyn pouco importa.
Nas quase três horas de duração, a estrela norte-americana é diminuída a uma visão simplista. Mais uma vez, Marilyn é tida como alguém que apenas sofreu, chorou e viveu seus dias de forma infeliz e solitária. Sua persona como sex symbol é quem ganha mais espaço, enquanto os diversos homens que preencheram sua vida pessoal e profissional garantem voz e lugar especiais.
A primeira cena já é uma espécie de prenúncio: é uma captura da cena mais conhecida de O Pecado Mora ao Lado. No marcante vestido branco, as pernas de Ana são o foco de um dos primeiros frames. Não é seu rosto ou o cabelo loiro; são as pernas. Em várias cenas, homens falam sobre a aparência da atriz. Ela é abusada mental e sexualmente em outros momentos. É como se fosse um filme de horror, não uma biografia “livre”.
Blonde é uma reimaginação de como teria sido a vida de Marilyn. Uma viagem que pode ou não ter acontecido. E, de fato, a atriz não viveu uma vida perfeita. Mas Dominik parece mais interessado em mostrar uma espécie de pesadelo interminável. E não é como se o diretor destacasse seus momentos frágeis para intensificar os bons: nenhuma cena da protagonista é genuinamente feliz. E isso nos faz pensar… Marilyn Monroe (ou melhor, Norma Jeane Baker) nunca conheceu a felicidade? Por que perpetuar sua fama de forma tão humilhante, sem focar em seus trabalhos e conquistas?
Pelo fato de o roteiro sempre estar percorrendo por caminhos tortuosos, quem conhece Marilyn Monroe em sua versão sexy – e não faz ideia de quem foi Norma Jeane – vai continuar com a mesma visão. Ana de Armas tenta evidenciar a profundidade de sua protagonista enquanto ser humano e, em raros momentos, isso pode ser visto pelo espectador. Mas, infelizmente, Dominik reduz sua estrela à vítima.