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Filmes e Séries - Por Barbara Demerov

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Apenas Meninas expõe as consequências do casamento infantil no Brasil

A diretora Bianca Lenti fala à Vejinha sobre as razões pelas quais decidiu fazer o documentário, disponível na HBO Max

Por Barbara Demerov
5 nov 2021, 06h00
A imagem mostra duas crianças. As duas olham com seriedade para a câmera.
Documentário Apenas Meninas expõe as consequências do casamento infantil no Brasil (HBO/Divulgação)
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Apenas Meninas, documentário disponível na HBO Max, se apoia no fato de o Brasil ser o quarto país no ranking mundial de casamentos infantis para apresentar diversos depoimentos de jovens que compõem esse cenário. A diretora Bianca Lenti fala à Vejinha sobre as razões pelas quais decidiu fazer o filme, como foi o processo de entrevistar sete mulheres que encontraram esse caminho do matrimônio e mais.

“Acho que fica no nosso imaginário que o casamento infantil está conectado com questões culturais e religiosas, e que ele acontece nos rincões do Brasil, em lugares muito distantes. Isso não é verdade. As nossas personagens estão a, no máximo, 50 quilômetros das capitais de seus estados. Quando deparei com o dado nacional de estarmos em quarto lugar no ranking, fiquei impactada, fui atrás do instituto Promundo (organização que visa a promover a igualdade de gênero e a prevenção da violência) e começamos a pesquisar. Como se trata de um tema áspero, tivemos medo de as pessoas rejeitarem entrar em contato com ele. Então, junto à HBO, tornamos o projeto o mais lúdico e poético possível”, diz Bianca.

A diretora diz que o foco da produção também é entregar dados ao público, visto que são eles que ampliam a discussão a proporções nacionais. O processo de pesquisa, assim como a procura pelas meninas que dão seus testemunhos, foi extenso e, até os encontros presenciais acontecerem, passaram-se meses. “Não foi fácil convencer essas jovens a abrir seus corações e realidades, mas as que toparam não paravam de falar em frente às câmeras. elas queriam muito ser vistas e ouvidas. As meninas — especialmente as periféricas — não querem ser estatísticas ou invisíveis para o estado. Nós acabamos de acompanhar o veto do Presidente Jair Bolsonaro ao acesso gratuito a absorventes, e esse é somente mais um indicativo das dificuldades que as mulheres encontram diante da falta de reconhecimento e atenção.”

Bianca reflete sobre o desequilíbrio que existe entre a posição dessas mulheres na cadeia social e o fato de o Brasil ser um país rico, com tantas possibilidades. “Essas meninas precisam ter oportunidades e outras rotas de fuga. O casamento precoce traz prejuízos e é pouco inteligente economicamente falando. elas estão fora do mercado de trabalho e condicionadas a manter um sistema que não é equânime. elas saem da escola, engravidam mais de uma vez, sofrem violências psicológicas e físicas.”

Tendo isso em vista, o intuito da diretora ao lançar Apenas Meninas é dizer às pessoas que essas jovens têm o direito de possuir uma base sólida de apoio governamental. “Elas precisam sonhar. e, da mesma forma que precisamos de absorventes, mais creches precisam existir para que esse ciclo se encerre e as mulheres tenham sua voz própria.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763

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