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Jornalista fala sobre a consciência como forma de cura

Com mais de vinte de anos cobrindo a área da saúde, Bárbara Cheffer relata sua experiência com microdosagem de psilocibina e o autoconhecimento

Por Bárbara Cheffer em depoimento a Helena Galante
8 dez 2023, 06h00
 (Getty Images/Yana Iskayeva/Reprodução)
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No dia 31 de outubro, fiz a minha consulta de retorno com o dr. Wilson, psiquiatra que escolhi para seguir com um tratamento com microdosagem de psilocibina, um princípio ativo que é encontrado nos cogumelos do gênero Psilocybe e que tem um potencial terapêutico relevante. Depois de contar como estava após os primeiros quinze dias de tratamento, ele me falou essa frase que uso como título desse relato: “Efeito colateral da psilocibina: consciência”.

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Para contextualizar, a minha busca por um tratamento começou no início do ano, após começar a ter momentos de muita ansiedade e tristeza. Estive no consultório de uma médica que, depois de uma hora de conversa e de ter me visto chorando, me receitou um antidepressivo leve.

Saí de lá com a receita, mas não estava confortável em tomar a medicação. Não achava que esse era o caminho. Afinal, eu procuro seguir algumas premissas para cuidar da saúde: alimentação equilibrada, atividades físicas todos os dias, técnicas de respiração, meditação. Acredito que o remédio alopático deve ser a última opção. Nada contra tomar remédio, mas acho importante esgotar todas as opções naturais. Também confesso que sou adepta de uma medicina mais integrativa, além de buscar sempre trabalhar o autoconhecimento e a espiritualidade como forma de cura.

Por isso, quando descobri o dr. Wilson e a sua proposta de trabalho, me identifiquei na hora.

Estive com ele, conversamos sobre as opções de tratamento e comecei a fazer uso da substância no dia 17 de outubro. Admito que nas primeiras doses estava um pouco “apreensiva” com os efeitos. No primeiro dia, dormi que nem uma pedra. Sabe aquele sono que você tem e que, quando acorda, não sabe nem o seu nome?! Nos dias subsequentes sonhei em francês, inglês, fiquei tagarela, senti a minha boca ressecar e me mantive atenta a todos os sinais que o meu corpo dava.

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Mas, depois desses primeiros dias com sensações mais físicas, comecei a ter outras percepções que me agradavam: o cansaço e desânimo que apareciam à tarde sumiram, assim como a angústia que estava me acompanhando. Ela vinha de mansinho, devagar, sem mexer tanto na rotina, mas estava lá, sempre presente. Os picos de ansiedade e tristeza também diminuíram.

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Como mencionei acima, foi por causa desses momentos que fui atrás da medicina psicodélica e suas opções de tratamento. Essa angústia começou a desaparecer e deu espaço para a criatividade, e para algo que eu tenho chamado de percepções mais conscientes das minhas ações, sentimentos e sentidos.

É como se eu estivesse mais atenta. Prestando mais atenção aos pensamentos que chegam, ao que eu falo e ao que sinto. Não digo que tomei a pílula mágica, que só existe em contos de fada, mas o fato de estar mais perceptiva, ou seja, consciente, tem sido muito bom.

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Tenho percebido o sentimento ruim (ele não deixou de aparecer), mas a sua força e a sua atuação dentro de mim mudaram. Em vez de deixá-lo crescer, alimentando-o com pensamentos negativos, eu o olho de frente e digo: “Calma, isso também vai passar”.
E não é que passa?!

Como eu comentei com o dr. Wilson na nossa primeira consulta, sempre falo “Vigiai e Orai” em vez de “Orai e Vigiai” e acredito que o autoconhecimento está muito ligado a isso. Afinal, não deixa de ser uma investigação de si mesmo e é aí que entra o “vigiai”. Vigiar e estar atento às nossas percepções, de como somos atingidos pelas atividades externas e como lidamos com isso tudo. Tentar entender como as informações chegam até você e conseguir parar antes de reagir por impulso. O que aquilo causa em você?! Aí entra também a importância de estar consciente dos nossos pensamentos, sentimentos e ações.

Ao finalizar a minha consulta, além de contar todos os benefícios que tenho sentido nesses últimos dias, comentei o fato de ter saído do Instagram. Depois de muita reflexão, entendi que estar nas redes sociais agora não estava fazendo sentido para mim. Percebi (olha a consciência novamente) que a rede social não estava me agregando nada. Tinha momentos em que me via olhando a vida de uma pessoa que nem conhecia ou então querendo fazer um curso que não tem nada a ver comigo, só pelos estímulos que as postagens causavam. Ou seja, gatilhos para a ansiedade.

Acredito que essa percepção tenha a ver com essa nova consciência que eu sinto que estou adquirindo. Uma consciência que eu espero e luto ver cada vez mais no mundo.

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Bárbara Cheffer
Bárbara Cheffer é jornalista com mais de vinte anos de experiência na área da saúde. Como missão, procura levar, através da comunicação, a cura pelo autoconhecimento. (Divulgação/Divulgação)

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.

Publicado em VEJA São Paulo de 8 de dezembro de 2023, edição nº 2871

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