Fabíola Cidral relembra histórias para acreditar que tudo tem jeito
A apresentadora da rádio CBN acredita que aprender a ouvir é um caminho para ser feliz
As histórias que mais me encantam são aquelas que falam da capacidade do ser humano de se transformar. De encontrar alegria em meio à tristeza, de plantar o verde no cinza, de sonhar grande durante o aparente pesadelo. É esse olhar que tenho para essa cidade chamada São Paulo, que aprendi a amar e pela qual luto todos dias para que se torne um lugar melhor. É uma cidade impessoal, gigante. São Paulo é caos, é trânsito, mas não é só isso. Não, São Paulo não é só isso. Porque as cidades são feitas por pessoas. E, se as pessoas têm capacidade de transformação, as cidades também. Para observá-las de maneira positiva, às vezes é preciso só mudar o ângulo de visão.
Meu desafio é mostrar essas mudanças que gosto de ver no mundo, é ser eu mesma essa mudança. Não importa se me chamam de idealista ou sonhadora, essa foi a maneira que descobri de acreditar que São Paulo tem jeito, as pessoas têm jeito, nós podemos ser felizes. E percebo que não estou sozinha nessa.
Recebi um e-mail incrível. “A festa no busão” era o título. Um ouvinte contou que o motorista e o cobrador do ônibus que ele pega todos os dias são tão bacanas que os passageiros resolveram fazer uma festa-surpresa para o cobrador no dia do aniversário dele. Cada um levou uma coisa: bolo, salgadinhos, sucos. Tinha até balão de gás. Em outra mensagem, um professor universitário revelava quanto ele era feliz por não ter carro. Todo o dinheiro que ele gastava com o veículo agora investe em viagens. Eu também aderi ao movimento dos sem-carro e não me arrependo. Liberdade é ter brisa no rosto ao caminhar pelas ruas.
Uma história que descobri numa caminhada e que me emociona bastante é a de um ex-morador de rua, o Robson Mendonça. Quando ele vivia nas ruas, adorava ler, mas não tinha acesso aos livros das bibliotecas públicas por não ter comprovante de residência. Nessa época, encontrou alguns ativistas sociais que resolveram ajudá-lo e criaram a “bicicloteca”, uma biblioteca numa bicicleta, que ele usa para distribuir livros gratuitamente aos moradores de rua.
Do centro para a Zona Leste, outra história emocionante é do plantador de vidas Hélio Silva. Cansado de tanto cinza, ele resolveu pôr a mão na massa e construir um parque. A tarefa não foi simples: as pessoas arrancavam as árvores, mas ele resistiu semente a semente, dia a dia. Hoje são mais de 17 000 árvores de 170 espécies típicas da Mata Atlântica. E o senhor Hélio ensina: “Missão não tem fim, não tem desânimo. Esse ‘falta muita coisa’ é que é o fantástico, que nos permite ir para a frente e nos faz lutar”.
Quando estive no Japão, realizei um trabalho voluntário de limpeza nos jardins do Palácio Imperial. Lá, conheci uma senhora de 70 e poucos anos, a dona Tomoko, que também fazia um trabalho voluntário. A diferença é que ela vinha de uma província que havia sido destruída por um tsunami e ainda estava sendo reconstruída. Com lágrimas correndo no rosto, ela sorria dizendo que as pessoas não podiam ficar tristes com a destruição, mas sim mostrar na face a alegria de se reerguer. Acho que é disso que nós precisamos. Da alegria das pessoas, para que elas se transformem e assim transformem a cidade na qual vivem.
Fabíola Cidral aprendeu com sua avó Emília a prestar atenção nas histórias reais e descobrir o que há de educativo e positivo em cada uma delas. Âncora do jornal CBN São Paulo, ela acredita que aprender a ouvir é um caminho para ser feliz.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 24 de abril de 2019, edição nº 2631.