A Tal Felicidade Saúde, bem estar e alegria para os paulistanos
Continua após publicidade

A felicidade segundo Sigmund Freud

Para Alexandre Carvalho, jornalista, estudioso da psicanálise e autor do livro "Freud sem Traumas", ser feliz provém de descobrir nossa verdade interior

Por Alexandre Carvalho em depoimento a Helena Galante
Atualizado em 10 dez 2021, 11h13 - Publicado em 10 dez 2021, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Imagine degustar o seu drinque predileto ao mesmo tempo que recebe uma massagem deliciosa nos ombros e nos pés. Bom, né? Pois é exatamente assim que se sente um bebê sugando o leite materno. Está ali o mamá quentinho que, além de alimentar, tem poder analgésico, anti-stress. A voz e até o cheiro da mãe relaxam e acalmam. E o contato com o seio, para um neném, é a melhor experiência tátil do mundo.

    Publicidade

    Para Sigmund Freud, o prazer múltiplo da amamentação é o primeiro passo na direção do que vai se tornar a série de estágios do desenvolvimento psicossexual infantil. Só tem um probleminha aí: ainda falta todo o resto da nossa existência para tentar tornar perene o êxtase dessa felicidade efêmera.

    Publicidade

    +Conjunto Nacional abre mostra em homenagem aos 130 anos da Av. Paulista

    Quando mergulhei nas obras desse criador do pensamento moderno, para escrever o livro Freud sem Traumas, com a intenção de tornar mais acessíveis as teorias psicanalíticas ao leitor não especializado, descobri que Freud entendia que ser feliz equivaleria à expressão plena de nossos desejos. Mas nem todo desejo, principalmente o inconsciente, é compatível com viver em sociedade.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Não dá para ser um cidadão funcional bebendo gim o dia inteiro ou dando corda às suas fantasias sexuais mais extravagantes. A felicidade até seria possível, mas improvável: dependeria de a civilização acolher o cavalo selvagem dentro de cada um.

    +Assine a Vejinha a partir de 6,90.

    Publicidade

    Dois eventos próximos tornaram Freud bem pessimista. Um foi a I Guerra, uma carnificina bem mais chocante do que o conflito entre cavalheiros que se imaginava de início. O outro foi a morte de sua filha preferida, Sophie, vítima da gripe espanhola.

    Continua após a publicidade

    A partir de então, Freud lançou seu conceito de “pulsão de morte”, de que dentro de nós há uma vontade de matar e morrer, uma predisposição que “pode ser despertada com relativa facilidade e se intensificar em psicose de massa”. Se a gente pensar no nazismo e outros “ismos” recentes, até um bem pertinho de nós, brasileiros, fica difícil discordar.

    Publicidade

    +Seu propósito pode estar bem embaixo do seu nariz

    Juntando essa elaboração com o “mal-estar” que sofremos porque a sociedade barra os nossos desejos, o austríaco concluiu que tristeza não tem fim, felicidade sim.

    Publicidade

    Mas tem um outro lado na história bonita da psicanálise. Ao criar a mãe das psicoterapias, Sigmund Freud incitou cada indivíduo a um exercício transformador de introspecção, nos tornando heróis de nossas próprias vidas. A ingerir passivamente um comprimido para uma felicidade artificial, preferiu estimular que cada um pensasse profundamente na essência de quem é — e verbalizasse essa reflexão como uma aventura existencial.

    +Assine a Vejinha a partir de 6,90.

    Publicidade

    Sem o mesmo pessimismo do pai da psicanálise, acredito que a felicidade implica esse autoconhecimento. Encarnar totalmente a persona projetada por outros vai sempre nos afastar de uma felicidade viável — mesmo que episódica. Aquilo que eu desejo é algo que parte da minha essência ou uma forma de satisfazer à expectativa do outro?

    Continua após a publicidade

    Esse mergulho em Freud me fez crer que só a busca da nossa verdade interior é capaz de promover essa transcendência que entendemos como felicidade, modificando a relação com esse ego fugidio que projetamos nas redes sociais à espera de aprovação.

    “Nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.” A frase é de Nietzsche, mas fala de uma autenticidade cara à psicanálise, que tem me transformado num homem mais fiel ao que percebo de mim mesmo — fruto de um estudo de anos a respeito do amante de charutos mais famoso da história. E de muita terapia também.

    Retrato de Alexandre Carvalho.
    Alexandre Carvalho é jornalista, autor de Inveja: Como Ela Mudou a História do Mundo e Freud sem Traumas, lançados pela LeYa Brasil. Estudioso da psicanálise, acredita que todos deveriam fazer terapia. (Alexandre Carvalho/Divulgação)

    +Assine a Vejinha a partir de 6,90.

    Publicidade

    Publicado em VEJA São Paulo de 15 de dezembro de 2021, edição nº 2768

    Continua após a publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de São Paulo

    a partir de R$ 39,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.