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A felicidade é um projeto coletivo

"Uma pessoa verdadeiramente brilhante é aquela que se conecta e ama, elevando as pessoas ao seu redor", acredita o escritor René Breuel

Por René Breuel
7 jul 2023, 06h00

Quando meu primeiro filho nasceu, fiquei encantado e, ao mesmo tempo, exausto. Em meio aos afazeres diários, minha experiência da realidade ficou entorpecida, como um personagem de filme abalado por uma explosão. Embora eu continuasse a desempenhar as tarefas de um bom pai — compras, alimentação e colocar meu filho para dormir —, percebi que minhas emoções nem sempre acompanhavam minhas ações. Eu estava em modo de sobrevivência.

Meu primeiro instinto foi buscar momentos de solitude e reflexão, uma vez que sempre me senti à vontade na geografia da introspecção. Eu até escrevi um livro sobre a busca da felicidade. No entanto, logo percebi que não poderia mais separar meu mundo emocional da família, das interrupções e das crianças. Minha sanidade a longo prazo dependia da minha capacidade de integrar todas essas coisas.

Afinal de contas, a felicidade é um projeto coletivo. Ao longo da história, algumas filosofias exaltaram o estereótipo do gênio brilhante, mas a maioria das pessoas intuiu que essa é uma noção irreal, um mito. Precisamos uns dos outros. Uma pessoa verdadeiramente brilhante é aquela que se conecta e ama, elevando as pessoas ao seu redor. Ela luta por vitórias compartilhadas e encontra felicidade dedicando-se ao bem-estar dos outros.

Paradoxalmente, somos felizes não quando refletimos sobre a nossa própria felicidade, mas quando nos esquecemos dela. Um momento se torna muito mais rico quando nos permitimos esquecê-lo e apreciar o sorvete e o rosto na nossa frente, em vez de planejar a felicidade desse instante e mensurá-lo a cada minuto no termômetro do contentamento. Edith Wharton brincou dizendo: “Se parássemos de tentar ser felizes, teríamos momentos bem gostosos”. Ou, nas palavras de Nathaniel Hawthorne: “A felicidade é uma borboleta que, quando perseguida, está sempre além do nosso alcance, mas que, se você sentar-se quieto, pode aproximar-se de você”.

Se ficarmos esperando por circunstâncias perfeitas para sermos felizes, ficaremos esperando para sempre. Viktor Frankl, um psicólogo sobrevivente dos campos de concentração nazistas, observou que o sucesso, assim como a felicidade, surge como consequência de nos concentrarmos em coisas além do próprio sucesso. “Ele deve acontecer como um efeito colateral não intencional da dedicação total a uma causa maior que nós mesmos, ou como o resultado da entrega a alguém além de nós mesmos.” Ou seja, deixe a felicidade fluir e o mesmo vale para o sucesso: deixe acontecer e não se importe com ele.

Para mim, isso se traduziu em uma imersão completa na minha nova fase de vida: a paternidade. Fraldas, noites mal dormidas, birras — tudo isso faz parte da felicidade que busco viver. As dificuldades não são inimigas do bem-estar; são características do único tipo de vida que podemos experimentar. Precisamos fazer as pazes até mesmo com o sofrimento, pois ele é inevitável. Em vez de nos isolarmos, nossas feridas, se bem processadas, podem se tornar um presente com propriedades curativas que nos conectam aos outros.

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É verdade que os filhos demandam tempo e espaço. Em alguns momentos, sinto inveja das pessoas que podem acordar tarde e desfrutar de um brunch preguiçoso aos sábados. No entanto, após me tornar pai, entendi que posso ter menos tempo para mim, mas posso viver mais em função de nós. Ouvir a musiquinha da Peppa Pig às 6h30 da manhã também pode trazer alegria. Bem, pelo menos é o que eu me digo.

René Breuel ()

René Breuel (@renebreuel) é um escritor paulistano que mora em Roma. Autor de O Paradoxo da Felicidade (United Press) e Não É Fácil Ser Pai (Editora Mundo cristão), possui mestrado em escrita criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em teologia pelo Regent college, no canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.

Publicado em VEJA São Paulo de 12 de julho de 2023, edição nº 2849

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