As boas novidades do Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau
É um salão do automóvel para aficionados por carros, uma Comic-Con para o fissurado em quadrinhos, a extensa filial de uma loja europeia de cosméticos e/ou roupas para fãs de moda – e vou encerrar por aqui as comparações, antes que elas se tornem mais esdrúxulas. Mas o fato é que, para “caçadores” de cerveja, […]
É um salão do automóvel para aficionados por carros, uma Comic-Con para o fissurado em quadrinhos, a extensa filial de uma loja europeia de cosméticos e/ou roupas para fãs de moda – e vou encerrar por aqui as comparações, antes que elas se tornem mais esdrúxulas. Mas o fato é que, para “caçadores” de cerveja, um festival que reúna produtores nacionais e uma grande quantidade de novidades torna-se um estímulo interminável para os olhos, boca e nariz. Foi essa minha sensação ao perambular por dois dias no Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau (SC), que vai até amanhã.
Quem não conseguir ir ao evento na Vila Germânica pode se acalmar antes de me xingar pelas cervejas que descreverei abaixo; Boa parte delas chegará ao mercado em breve. Entre os cerca de 40 rótulos que degustei nos dois dias – em amostras de apenas 50 ml a 100 ml, é bom ressaltar -, foi possível apontar algumas tendências cervejeiras nacionais para 2014 e para os próximos anos.
1) Witbiers: as cervejas de trigo belgas, que levam casca de laranja e sementes de coentro na composição, tiveram um aumento expressivo no total de inscritos do Campeonato Brasileiro de Cerveja de 2014, evento que antecede o festival. Havia 13 rótulos de produtores nacionais. Alguns deles começam a ser vendidos este ano, caso das catarinenses Schornstein Blanche de Maison, medalha de prata no torneio, da Bierland Oceânica e da Baden Baden Witbier. A DUM, do Paraná, colocou à venda uma versão “turbinada” do estilo, batizada de Grand Cru, com cerca de 9% de teor alcoólico.
2) Cervejas ácidas: a melhor cerveja que provei no Festival – e que, infelizmente, não tem previsão comercial – aliou notas ácidas a um aroma complexo de madeiras, resultado do blend de uma cerveja de trigo de 9,3% em diversos barris, como amburana, carvalho e cabreúva. Trata-se da Wheat Wine Sour, da paranaense Morada Cia. Etílica. Do mesmo Estado, e em lançamento comercial, a Way apresentou a linha Sour Me Not, de cervejas ácidas nas versões graviola, acerola e morango. Provei no evento a de acerola, que tem bom equilíbrio entre notas ácidas da cerveja e da própria fruta.
3) Invasão gaúcha: se em 2013 os paranaenses dominaram as atenções, este ano o festival teve boas novidades do Rio Grande do Sul. A Maniba levou medalha de ouro com a Black Metal IPA, uma India Black Ale (versão da IPA com maltes escuros). Já a Baldhead apresentou a boa Kojak American IPA – sim, como sugere o nome, a cervejaria homenageou o famoso e careca personagem de Telly Savalas -, com potentes notas cítricas de lúpulo. De terras gaúchas também foram levadas ao evento boas cervejas de inspiração inglesa, como a English IPA da Lagom – servida no pump, ou bomba de mão, tal qual ocorre nos pubs britânicos – e a Bitter da Babel. Por ora, as quatro gaúchas são encontradas apenas em seu Estado natal; para manter o máximo de aromas, em especial de lúpulo, seus produtores não pretendem pasteurizá-las, o que torna sua vinda para São Paulo dependente de uma cadeia fria de transporte.
4) Session beers: são versões menos alcoólicas de estilos conhecidos, como India Pale Ale e Stout, produzidas para consumo em quantidades maiores sem, contudo, precisarem ser apagadas em termos de aroma e sabor. Foram lançadas no festival a Limbo, Stout de 3,7% da gaúcha Seasons; a Wäls Session!, American Pale Ale de 3,9%; e a Funk IPA, com 4,7%, da carioca 2Cabeças.
5) Madeira: cervejaria mais premiada da competição pelo segundo ano, a Bodebrown, do Paraná, tem uma série de experimentos de seus rótulos com maturação em madeira. O que mais me chamou a atenção foi a Atomga, uma Imperial Stout maturada em barris de Bourbon, que une notas de chocolate e licorosas com baunilha e leve defumado da madeira. De Santa Catarina, a Das Bier também apresentou uma Strong Scotch Ale com maturação em carvalho.
6) Tradição renovada: embora a escola cervejeira alemã seja uma das mais clássicas do mundo, ela também tem espaço para surpresas. A Bamberg, de Votorantim (SP), criou a Franconian Rhapsody, que une as notas de malte e leve lúpulo floral da Helles com uma pegada defumada – encontrada, geralmente, nas Rauchbiers da Francônia. De Porto Alegre, a Abadessa levou ao festival a boa Eisbock. Obtida pelo congelamento e concentração de uma Doppelbock de 7,2% (a Emigrator), ela atinge 17,5% ou mais. Descongelada apenas na hora de ser servida ao cliente, ela cobre perigosamente sua força alcoólica com notas tostadas, de chocolate e corpo denso.