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Luiz Henrique Ligabue – Rabo de Galo

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Feijoada à moda de Vinicus de Moraes

Feijoada à minha moda (Vinicius de Moraes) Amiga Helena Sangirardi Conforme um dia prometi Onde, confesso que esqueci E embora — perdoe — tão tarde   (Melhor do que nunca!) este poeta Segundo manda a boa ética Envia-lhe a receita (poética) De sua feijoada completa.   Em atenção ao adiantado Da hora em que abrimos o […]

Por Leonam Bernardo
Atualizado em 26 fev 2017, 23h38 - Publicado em 8 nov 2013, 19h11
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O escritor fazendo poesia na panela. Foto: divulgação

Vinicius escrevendo uma poesia de panela. Foto: divulgação

Feijoada à minha moda (Vinicius de Moraes)

Amiga Helena Sangirardi

Conforme um dia prometi

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Onde, confesso que esqueci

E embora — perdoe — tão tarde

 

(Melhor do que nunca!) este poeta

Segundo manda a boa ética

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Envia-lhe a receita (poética)

De sua feijoada completa.

 

Em atenção ao adiantado

Da hora em que abrimos o olho

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O feijão deve, já catado

Nos esperar, feliz, de molho

 

E a cozinheira, por respeito

À nossa mestria na arte

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Já deve ter tacado peito

E preparado e posto à parte

 

Os elementos componentes

De um saboroso refogado

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Tais: cebolas, tomates, dentes

De alho — e o que mais for azado

 

Tudo picado desde cedo

De feição a sempre evitar

Qualquer contato mais… vulgar

Às nossas nobres mãos de aedo.

 

Enquanto nós, a dar uns toques

No que não nos seja a contento

Vigiaremos o cozimento

Tomando o nosso uísque on the rocks

 

Uma vez cozido o feijão

(Umas quatro horas, fogo médio)

Nós, bocejando o nosso tédio

Nos chegaremos ao fogão

 

E em elegante curvatura:

Um pé adiante e o braço às costas

Provaremos a rica negrura

Por onde devem boiar postas

 

De carne-seca suculenta

Gordos paios, nédio toucinho

(Nunca orelhas de bacorinho

Que a tornam em excesso opulenta!)

 

E — atenção! — segredo modesto

Mas meu, no tocante à feijoada:

Uma língua fresca pelada

Posta a cozer com todo o resto.

 

Feito o quê, retire-se o caroço

Bastante, que bem amassado

Junta-se ao belo refogado

De modo a ter-se um molho grosso

 

Que vai de volta ao caldeirão

No qual o poeta, em bom agouro

Deve esparzir folhas de louro

Com um gesto clássico e pagão.

 

Inútil dizer que, entrementes

Em chama à parte desta liça

Devem fritar, todas contentes

Lindas rodelas de linguiça

 

Enquanto ao lado, em fogo brando

Dismilinguindo-se de gozo

Deve também se estar fritando

O torresminho delicioso

 

Em cuja gordura, de resto

(Melhor gordura nunca houve!)

Deve depois frigir a couve

Picada, em fogo alegre e presto.

 

Uma farofa? — tem seus dias…

Porém que seja na manteiga!

A laranja gelada, em fatias

(Seleta ou da Bahia) — e chega

 

Só na última cozedura

Para levar à mesa, deixa-se

Cair um pouco da gordura

Da linguiça na iguaria — e mexa-se.

 

Que prazer mais um corpo pede

Após comido um tal feijão?

— Evidentemente uma rede

E um gato para passar a mão…

 

Dever cumprido. Nunca é vã

A palavra de um poeta…— jamais!

Abraça-a, em Brillat-Savarin

O seu Vinicius de Moraes.

galo1-rabo-direita

 

O festival “Pois Sou um Bom Bocado”, que apresenta receitas do poeta por chefs famosos, segue para os seguintes restaurantes:

Attimo (chef  Jefferson Rueda)

Na Cozinha (chef Carlos Ribeiro)

Così (chef Renato Carioni)

Marcelino Pan Y Vino  (Chef Daniela França Pinto)

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