Um cristal de quartzo mais 45 feixes de laser são a matéria-prima básica da obra Mementos, produzida pelos estúdios Aya e Bloco e em exibição da mostra Metaverso, no Farol Santander. Quando você chega à sala, que ocupa a porção central do 22ª andar e tem três metros de altura, nove metros de largura e seis de profundidade, a coreografia luminosa, que conta também com uma trilha sonora, já está a todo vapor. Da cortina de entrada, mesmo você sabendo que aquilo não passa de linhas de luz, bate um receio e você fica em dúvida: “Atravesso ou não essa teia azul? Será que vou me cortar?”
“Não esperávamos que houvesse esse receio, porque na montagem, já estávamos muito acostumados com os feixes. Essa reação nos surpreendeu e entusiasmou, porque mostra que a técnica para construção do trabalho, bem como sua aparência, não vem antes da experiência. Dá para ver os suportes, onde estão os diodos que abrigam os lasers, e também o buraco de onde sai a fumaça. Mesmo com a “mágica” exposta, as pessoas se envolvem”, afirma Matheus Leston, 33, que cuidou da música e programação.
Mementos foi produzida especialmente para exposição, assim como as quatro outras obras que a compõem: Horizonte Utópico, do coletivo Bijari, Reta-Curva, por Sala 28, Aparato 10¹º , pelo VJ Vigas e Interlúdio, outra obra do Aya Studio, agora em parceria com Wesley Lee. O processo de produção da instalação, segundo Felipe Sztutman, 32, autor da composição vista por lá, durou um mês, mas as pesquisas para tal remetem a 2012, quando ele fez o projeto Cachoeira, que interligava de forma luminosa o Viaduto do Chá e o Vale do Anhangabaú. Com as mudanças tecnológicas, foi possível obter outro tom de azul, mais escuro, que é o que ele utiliza hoje no Farol Santander.
Sztutman chama atenção para um ponto fundamental no trabalho que é o encontro entre o físico e o digital, evidenciado pelo diálogo entre o cristal e o feixes: “As pessoas têm um contato muito intenso com o mundo virtual, mas, normalmente, por meio de telas. O que fazemos aqui é criar outro lugar para esse diálogo, que é a sala. Uma de nossas referências para fazer isso foi o designer e pintor László Moholy-Nagy (1845-1946), da Bauhaus, que falava de como modificar o espaço por meio da luz e do movimento.”
Outro aspecto interessante em Mementos é sua falta de começo, meio e fim, além de certa imprevisibilidade do encontro entre os feixes e da música tocada. Os lasers se combinam a partir de comandos de um software. É possível identificar as regras que regem a coreografia, mas não os resultados. A música segue na mesma toada. O desdobramento de tudo isso é o deslumbramento do visitante além da selfie (típica nesse tipo de exposição e bem-vinda, pode clicar sem medo).