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Blog do Lorençato

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O editor-executivo Arnaldo Lorençato é crítico de restaurantes há mais de 30 anos. De 1992 para cá, fez mais de 16 000 avaliações. Também comanda o Cozinha do Lorençato, um programa de entrevistas e receitas no YouTube. O jornalista é professor-doutor e leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Memória: Takeshi Ito (1942-2023), fundador do Aska

A despedida de um dos personagens mais discretos da gastronomia paulistana, considerado o pioneiro em ter um restaurante só de lámen, na Liberdade

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2023, 09h55 - Publicado em 13 fev 2023, 21h56
Foto de Takeshi Ito
O restaurateur Takeshi Ito: mais de duas décadas dedicadas ao lámen (Rafael Salvador/Aska Lamen/Reprodução)
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As regras sempre foram claras. Desde a abertura em 2000, no Aska Lamen não era possível ficar tagarelando no balcão após comer. Menos ainda guardar lugares para amigos atrasados. Com filas constantes na porta, o funcionamento não poderia ser diferente. Como no Japão, os ramen-yá, ou casas de lámen, são muitas vezes restaurantes formidáveis, mas sempre expressos. É comer e partir. Quem implantou essa cultura foi o fundador Takeshi Ito, que morreu no domingo (12), aos 80 anos.

Um dos personagens mais discretos da gastronomia paulistana, o restaurateur e cozinheiro japonês, nascido na província de Gunma, era arredio a entrevistas. Tentei falar com ele sem sucesso várias vezes. Nem mesmo quando visitei, anos atrás, o Aska com o chef Jun Sakamoto, de quem Ito era próximo, tive êxito. Para Ito, o protagonista era o lámen e não ele.

A única vez que ele topou conversar com alguém foi com o produtor Jo Takahashi, que estava preparando o livro Ramen/Lámen (JBC, 202 págs., 124,90 reais), lançado em novembro de 2022. Mas por meio de um processo simples. “Foram mais de dez tentativas”, contabiliza Takahashi. “Levou um ano e meio para ele consentir.” No final, a entrevista aconteceu numa tarde de agosto de 2019. “A conversa durou mais de 3 horas”, lembra o autor da façanha.

Esse encontro foi realizado no intervalo do almoço e do jantar para que não atrapalhasse o serviço do restaurante. Entre outras preciosidades, Takahashi registrou que Ito, um engenheiro eletrônico, veio ao Brasil muito jovem para fazer uma pesquisa de mercado para a empresa que trabalhava no Japão e aqui permaneceu por um ano e meio. Retornou à capital paulista aos 36 anos e trabalhou até os 60 para a mesma empresa, quando se aposentou em 2000.

Daí, decidiu concretizar o sonho de ter o próprio restaurante. Viajou a Takasaki, na província de Gunma, em busca de um mestre em lámen. Nessa cidade, nas proximidades do Santuário de Nikko e a cerca de 100 quilômetros a noroeste de Tóquio, ele fez seu aprendizado no Men’ya Takumi, que continua em pleno funcionamento. “Como era amador no ramo, achei mais fácil copiar tudo pra não ter erro”, Ito revelou a Takahashi. Assim, reproduziu as receitas de lámen, o guioza e até o mobiliário da casa japonesa.

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O mais interessante é que quando abriu o Aska num movimento pioneiro, Ito lutava contra a corrente. Naquele momento, o sushi vivia uma explosão e o restaurantes especializados se multiplicavam por todos os cantos da cidade. Ele preferiu ficar na Liberdade e servir um macarrão num caldo quente  com fatias de carne de porco, alga e ovo, entre outros itens. Com uma receita tradicional, criava um clássico que continua um tremendo sucesso.

Ito morreu em decorrência de um câncer no fígado. Ele se submeteu a uma cirurgia no sábado da véspera e não resistiu. Deixa a viúva Jacinta, que tocava o Aska junto com ele mais os filhos Mika, que cuida da administração do restaurante, Yuka e Taka.

O velório será nesta terça (14).

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O Aska permanece fechado e a data da reabertura será comunicada pelas redes sociais.

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