Do fundo da panela: no Brasserie Victória
Entre muitas pessoas que fizeram história nos restaurantes da cidade está a libanesa Victória Feres (1894-1991). Como ela gostava de contar, tinha nascido para ser princesa e não cozinheira. Nunca a encontrei pessoalmente, mas suas falas preciosas estão registradas em artigos publicados na imprensa e no ótimo livro “Memórias da Imigração: Libaneses e Sírios em […]
Entre muitas pessoas que fizeram história nos restaurantes da cidade está a libanesa Victória Feres (1894-1991). Como ela gostava de contar, tinha nascido para ser princesa e não cozinheira. Nunca a encontrei pessoalmente, mas suas falas preciosas estão registradas em artigos publicados na imprensa e no ótimo livro “Memórias da Imigração: Libaneses e Sírios em São Paulo”, do trio Betty Loeb Greiber, Lina Saigh Maluf e Vera Cattini Mattar (São Paulo, Discurso Editorial, 1998). Nas palavras da própria dona Victória, um revés financeiro e um marido pouco afeito ao trabalho a levaram à cozinha. Seu restaurante, o Brasserie Victória, surgiu em 1947, na Rua 25 de Março. No fim de 1982, ganhou a atual sede no Itaim. Sorte nossa. Incansável, dona Victória passou a maior de sua vida preparando delícias de sua terra natal, hoje reproduzidas por seus descendentes. A melhor pedida continua sendo o quibe, tanto o cru quanto o frito, este no formato de uma bola de casquinha fina.
Como ando nostálgico, aproveito para contar como conheci a culinária árabe. Na cidade onde nasci, havia um boteco, o Bar do Titio, do libanês Ratib. Era dona Nena, mulher dele, quem tomava conta da cozinha. Ela fazia esfihas maravilhosas, de massa fina, macia e bem elástica. Mas o que me encantava mesmo era a coalhada seca no formato de bolota e mergulhada no azeite. Ah, essa memória do paladar. Quanta saudade!