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DJ Zé Pedro cria selo para relançar vozes femininas esquecidas

Joia Moderna pretende resgatar grandes cantoras que enfrentam barreiras para gravar novos discos

Por Alexandre Mercki
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h55 - Publicado em 9 fev 2011, 22h59

O incansável Zé Pedro ataca de novo, desta vez como dono de gravadora. Batizada de Joia Moderna, será lançada oficialmente nesta quinta (10), e é dedicada exclusivamente a grandes cantoras que já fizeram muito sucesso mas perderam espaço. “Quero iluminar vozes que adoro, intérpretes maravilhosas”, conta. O DJ (e, agora, empresário) explica que o modelo atual de negócios acaba por deixar de lado inúmeros talentos. “Muitas estão fora porque o mercado não sabe administrá-las.”

Joia Moderna nasceu em um jantar. Zé Pedro lembra que estava com o produtor Thiago Marques Luiz, um apaixonado por vozes femininas que lhe mostrou dois projetos que não encontravam abrigo. “Ele tinha um disco com a Cida Moreira e outro com mulheres cantando Taiguara, mas não havia interessados.” O DJ resolveu ajudar dentro de suas possibilidades. “Fazemos mil cópias. Depois, o disco é todo da artista”, explica.

A gravadora lançará quatro discos por vez. A primeira leva, além dos projetos de Marques, conta com Zezé Motta e Silvia Maria, esta última estava sem gravar havia trinta anos. “Se uma acabou virando mais atriz do que cantora, da outra ninguém nem mais ouvia falar.”

Silvia Maria — “Ave Rara”

Zé Pedro conta que, quando escrevia seu livro “Meus Discos e Nada Mais — Memórias de um DJ na Música Brasileira”, procurou material sobre Silvia Maria, em vão. “Em outubro do ano passado, fui vê-la em um show na Sala dos Espelhos, no Memorial da América Latina. É talvez a melhor de sua geração e só tinha dois discos, de 1973 e 1980.”

O novo álbum foi gravado em apenas duas semanas. “Minha maior surpresa foi ‘Rio Vermelho’, letra de uma música do Milton Nascimento que ela achou em um caderno antigo.”

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+ Ouça trechos de “Rio Vermelho” e “Sete Cordas”

Zezé Motta — “Negra Melodia”

“Quando a chamei para o projeto, sugeri um repertório que misturasse Luiz Melodia e Jards Macalé. Ela topou na hora.” Zezé apareceu com a música “Soluços”, que nem ele tinha. “É a melhor faixa do disco. Uma composição do Jards gravada com tanta intensidade que ninguém teve coragem de cortar.”

+ Ouça trechos de “Soluços” e “O Sangue Não Nega”

Cida Moreira — “A Dama Indigna”

Zé Pedro a define como visceral. “Ninguém toca piano como a Cida, com tanta intensidade. No disco, ela canta e assume o piano. Tinha de ser assim. Se eu chamasse alguém para acompanhá-la, não ficaria tão bom.” Foram vinte músicas que ela gravou como quis, interpretando de Amy Whinehouse a Tom Waits. “Dessas, tiramos as faixas que estão no disco.”

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+ Ouça trechos de “Soul Love” e “Back to Black”

“A Voz da Mulher na Obra de Taiguara”— Várias

“Meu pai ouvia Tim Maia, Roberto Carlos e Taiguara, um compositor que me marcou muito.” Zé Pedro e Thiago Marques Luiz chamaram então catorze mulheres, “do passado e do presente”, para dar nova vida às suas canções.

“Tanto nesse como nos outros três discos, parecia que todo mundo estava gravando seu primeiro trabalho. E eu falava que estávamos abrindo uma cooperativa, que o projeto era nosso. Ali, era para brincar, sem pensar em mercado ou em tocar na novela.”

+ Ouça trechos de “Manhã de Londres” e “Mudou”

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Zé Pedro conta que os quatro discos custarão entre 20 e 25 reais, e que bancou o projeto sozinho. “Sou DJ, é essa minha profissão. E não tenho filhos. Resolvi investir parte do que tenho nessas cantoras que adoro.”

Disposto a ver como esses álbuns serão absorvidos, ele diz não ter medo da pirataria. “Imagino que o público da gravadora seja como eu, que baixo as faixas e, se gosto, compro o disco”, afirma. “Sou de um tempo em que a música precisa vir embalada e conheço muita gente que tem esse romantismo também.”

O coquetel de lançamento da Joia Moderna acontece no MIS, às 20h30. Já estão programados shows individuais para cada disco. Novos álbuns também. “Toda grande cantora que perder o bonde do mercado pode subir no meu trem.”

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