1. Meu coração é corintiano
Na última quarta, Sérgio Timerman, 54 anos, cardiologista e diretor da escola de medicina da Universidade Anhembi Morumbi, montou um esquema especial para chegar a tempo ao Pacaembu. Convidado a integrar uma banca de tese de doutorado em Belo Horizonte, negociou a mudança de horário do compromisso, que era no fim da tarde daquele dia para o início. Saiu de lá correndo rumo ao Aeroporto de Confins, passou em seu apartamento em Higienópolis para apanhar a camisa do Corinthians e entrou no Pacaembu pouco depois das 21 horas. “Fui a todos os outros jogos da Libertadores, não podia ficar fora deste”, conta ele, que chorou copiosamente após o apito final do juiz.
2. A musa do alambrado
De férias em Barcelona, a analista tributária Tânia Scaffa e Adura, de 37 anos, mudou os planos quando soube que o Timão havia se classificado para a final do torneio sul-americano. Saiu da Espanha, desembarcou em São Paulo para pegar sua camisa do Corinthians (“Só tinha levado biquíni e shortinho para lá”) e tomou outro voo com destino a Buenos Aires. “Foi a maior loucura que já fiz pelo time”, diz. Nos jogos realizados no Pacaembu, costuma acompanhar tudo agarrada ao alambrado. “Já tentei ficar em outro local do campo, mas a equipe começou a perder e voltei correndo para o lugar de sempre.”
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3.
Filosofia de uma paixão
O músico e professor de filosofia Fepa Teixeira não sabe explicar sua grande identificação com o Corinthians. “Ele atinge um lugar de emoções muito primitivas”, diz. “É capaz de me fazer chorar aos 35 anos de idade.” Aos 13 anos, já ia ao estádio sozinho. Certa ocasião, em 1993, foi acompanhar uma partida contra o Flamengo no Maracanã infiltrado na torcida adversária. Os cariocas abriram o placar. Pouco tempo depois, os paulistas empataram. Para não ser desmascarado, Teixeira inventou um jeito de comemorar. “Coloquei a cabeça entre as pernas e gritei abafado”, lembra.
4. O pagador de promessas
O jogo contra o Vasco, no Pacaembu, pelas quartas de final, foi um dos mais dramáticos de toda a campanha. Expulso, o técnico Tite assistiu a parte do segundo tempo no meio da torcida, e o goleiro Cassio salvou a pátria com uma imortal defesa cara a cara na arrancada do atacante Diego Souza. No meio do nervosismo, o editor de vídeo Gustavo Forti Leitão, de 27 anos, disse a si mesmo: “Caso o Corinthians se classifique, vou a pé de casa, no bairro da Saúde, até as obras do novo estádio, em Itaquera”. Foram quase 23 quilômetros na sola do sapato pagos dias depois. A caminhada consumiu quatro horas e vinte e três minutos. “Foi muito dolorido, mas cumpri com gosto a promessa”, afirma.
5. Gavião fanático
“A primeira imagem que eu tenho do mundo dos campos é de uma partida pela Copa São Paulo de Futebol Junior contra o América-MG quando eu tinha uns 7 anos. Lembro de um jogador do rival arremessar uma camisa verde e a torcida corintiana rasgá-la. Fiquei muito impressionado com aquilo”, lembra o professor de educação física Luciano Rodrigues, de 24 anos, que já inventou doença para faltar ao trabalho e acompanhar o time na penúltima rodada do Campeonato Brasileiro do ano passado, já na iminência de levantar o caneco. “O meu azar foi que eu apareci na transmissão da TV”, conta. Depois disso, o emprego não durou muito tempo. Na última quarta, ele estava no meio da Gaviões da Fiel para empurrar a equipe ao seu primeiro título da Libertadores. “Não existe lugar melhor para ver o Timão jogar”, diz. “Lá tem desde o cara que nem sabe como vai voltar para casa até gente com dinheiro mas que faz questão de ficar no meio daquela loucura.”
6. O gringo da fiel
A porta de entrada no Brasil para Rod Chalaby, de 32 anos, foi a bela Praia de Jericoacoara, no Ceará. A paixão foi tanta que ele voltou cinco vezes em dois anos. Depois disso, quis conhecer mais o país e abandonou sua terra natal, a Inglaterra. Radicou-se na capital paulista em 2006 e trabalha hoje como executivo de uma incorporadora imobiliária. Em 2009, entrou para o bando de loucos. “Eu não queria escolher nenhum time por aqui, mas um domingo eu cheguei em casa e vi pela TV o Ronaldo agarrado ao alambrado e fiquei… Como se fala mesmo? Ah, sim, fiquei arrepiado”, descreve, referindo-se ao momento da comemoração do craque após fazer seu primeiro gol pelo Corinthians, numa partida contra o Palmeiras em Presidente Prudente. Chalaby calcula ter visto, desde então, mais de quarenta partidas no Pacaembu. “Todos os gringos que eu levo ao estádio não prestam atenção nas partidas. Eles ficam de olho na torcida o tempo todo, impressionados com a festa da galera.”
7. De mãe para filho
Em 2008, ano em que a equipe disputou a segunda divisão do futebol nacional, a psicóloga Mariana Cordovani, de 37 anos, compareceu a trinta dos 38 jogos do time na competição. “Viajei para Florianópolis, Caxias do Sul, Maceió, Natal…”, enumera. Ela também marcou presença na campanha da Libertadores, incluindo a primeira partida da final contra o Boca, em Buenos Aires. “A gente vive fazendo loucuras pelo Corinthians”, resume. Seu mais novo companheiro de estádio é o filho André Luiz, de apenas 1 ano e 11 meses. “Repito com ele o que meu pai fazia comigo”, explica. “Aos 7 anos, vi ao lado dele o time comandado por Sócrates, aquele que ficou conhecido como a ‘Democracia Corintiana’.”
8. Veterano da invasão
O engenheiro Fernando Hasil, de 58 anos, veio de Santa Catarina ainda criança para São Paulo e não lembra quando virou torcedor do Corinthians. Sabe apenas que, por sua causa, uma boa parcela da família também se tornou alvinegra. Em dezembro de 1976, aos 22 anos, abandonou as provas finais do Mackenzie e foi com mais dois amigos ver a equipe enfrentar o Fluminense no Rio de Janeiro, na disputa pela semifinal do Brasileiro. Na ocasião, os paulistas dividiram meio a meio as arquibancadas com a torcida da casa, no episódio que ficou conhecido depois como a “Invasão do Maracanã”. “Por causa da viagem, tomei bomba na faculdade, mas não me arrependo. Valeu cada minuto.”
9. Sem roupas verdes
A estudante de contabilidade Tassia Bertini, de 21 anos, não veste nenhuma roupa verde e não deixa nada da cor do rival Palmeiras entrar em sua casa. Em dias de partida, começa a se preparar duas horas antes. O ritual tem início com uma cerveja na Praça Vilaboim, a menos de 1 quilômetro do Pacaembu. Em seguida, Tassia vai à Praça Charles Miller ver o esquenta da bateria da Gaviões da Fiel. Coloca sempre a mesma calça jeans e a camisa do time. Ao entrar no estádio, para no alambrado, reza e sobe para o local marcado. “Fico sempre no mesmo lugar, o número 18 das arquibancadas amarelas.” Na quarta-feira, deixou de fumar, cumprindo a promessa que fez em troca do título.
10. Cliente preferencial
Em 2008, o Corinthians criou o cartão Fiel Torcedor, que oferece facilidades na aquisição de ingressos. O melhor cliente do negócio é o caminhoneiro Eduardo Cesar Caetano, de 38 anos. Ele já comprou 137 entradas pelo sistema e criou várias táticas para não deixar o trabalho afastá-lo do Pacaembu. “Quando tenho uma entrega num horário muito próximo ao do jogo, falo que vou jantar e acelero para o estádio. Depois, trabalho dobrado para pôr o serviço em dia.”
11. Santuário particular
O economista Michel Abranches nasceu em 1977, o mesmo ano em que se encerrou o maior jejum de títulos do alvinegro. Suas primeiras idas ao Pacaembu, em 1986, foram acompanhadas pela mãe. “Nós descíamos na Estação Barra Funda do metrô, comprávamos pipoca e íamos a pé até o estádio”, lembra. Em 2010, durante a comemoração do centenário do clube, ele ganhou um presente de sua mulher, arquiteta e também corintiana. Ela fez um projeto para quebrar a área de serviço e o quarto de empregada da casa da família, no bairro de Alphaville. No lugar, mandou construir uma sala decorada com fotos de momentos históricos da equipe e dos ídolos, além de quadros com camisas, ingressos e autógrafos de jogadores célebres. “É o meu santuário particular”, afirma Abranches.