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Todo mundo faz

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h09 - Publicado em 25 set 2009, 13h58

Vamos falar o que é: brasileiro gosta de umas brechas. Pequenas oportunidades aqui e ali, facilidades, privilégios, espertezas – em grande parte delas a lei não proíbe, mas… Quer ver?

Estacionar o carro na vaga do deficiente e do idoso porque ninguém vai saber que o veículo parado ali não é de deficiente nem de idoso.

Enfiar-se no vácuo de ambulâncias para avançar no trânsito. Ha-ha, e ainda rir dos vacilantes: malandro é malandro, mané é mané.

Piscar os faróis do carro nas estradas para avisar aos motoristas que vêm no sentido contrário em alta velocidade que lá adiante há uma patrulha rodoviária.

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Usar idosos para pagar contas no banco porque eles têm prioridade nas filas.

Deixar carrinho de compras no elevador para outros condôminos retirarem e guardarem, na certeza de que ninguém vai saber quem foi o malandro.

Praticar dois preços para a prestação de serviços: com recibo e sem recibo, com nota fiscal e sem nota. Para essa e outras formas de sonegar impostos, criou-se a justificativa: não vou dar o meu dinheirinho suado para o pessoal do governo meter a mão.

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Mentir no currículo.

Colar na prova; copiar material da internet e usar como se fosse trabalho seu.

Fazer a lição de casa para os filhos, por protecionismo.

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Comer no supermercado durante as compras, sem pagar, bolachas, chocolates, sorvete, frutas…

Achar que os incomodados é que devem se retirar.

Combinar com o empregador para receber o salário por fora, sem contratação, enquanto estiver ganhando o seguro-desemprego do governo, “vantagem” para os dois lados.

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Nomear parentes para cargos públicos, sem concurso. Para não dar na vista, inventaram o nepotismo cruzado, “emprega meu sobrinho que eu emprego tua prima”. Como negar o pedido de um amigo, de uma neta?

Pleitear cargos, prestações de serviços ou ser fornecedor oficial de alguma coisa por meio de favores de algum parente, contraparente ou amigo “lá de cima” – e nesse jogo entra quem busca e quem atende, porque é dando que se recebe.

Enfiar o dízimo no próprio bolso.

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Aceitar o teste do sofá para conseguir qualquer coisa.

Achar que vale fazer gol de mão, ganhar no apito ou no tapetão.

A lista da esperteza, do “malandro é malandro, mané é mané”, não pararia por aí. Reparem na expressão entre aspas. O malandro é o cara, já o correto é mané. É esse o espírito da coisa brasileira, a valorização da esperteza. Em outro samba histórico, temos o empreguismo: “Ô Antonico, vou lhe pedir um favor, que só depende da sua boa vontade, é preciso uma viração pro Nestor…” e por aí vai. O amigo pede “uma viração”, não um trabalho. Grandes safados, se não nos agridem com arrogância, se são simpáticos, tornam-se até populares. “Você não vale nada, mas eu gosto de você. Tudo o que eu queria era saber por quê.” Por quê? Porque no fundo tiramos umas casquinhas.

A diferença está no poder e na cara de pau. Pequenas oportunidades, pequenos deslizes; grandes oportunidades, grandes falcatruas, como as dos políticos. Há um dar de ombros, um “todo mundo faz” que sinalizam por que o país não muda. Brejeiro é um dos mais apreciados adjetivos para o povo brasileiro, “povo brejeiro”; só que brejeiro significa, na verdade dos dicionários, vadio, vagabundo, sem-vergonha, patife. No segundo sentido é que vêm travesso e brincalhão.

Brasileiro pisca para o pecado. Pode não ir para o motel, mas pisca – e compreende quem vai, perdoa quem vai.

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