Teatro para o público adolescente
Palcos paulistanos têm boas comédias e dramas numa linguagem sob medida para os adolescentes
Há em cartaz na cidade cerca de 100 peças para adultos e outras quarenta infantis. Os adolescentes – que não têm paciência para espetáculos destinados a crianças nem vontade de acompanhar os mais velhos em seus programas – muitas vezes ficam a ver navios. Um cenário que começa a mudar. Atualmente, pelo menos cinco espetáculos de qualidade voltados para o público juvenil ocupam palcos paulistanos. Com temas e orçamentos variados, eles têm em comum uma importante característica: levam a moçadinha a sério. O Médico e os Monstros, adaptação de Mário Viana para o clássico do escocês Robert Louis Stevenson, estréia no Teatro Popular do Sesi neste sábado (23). No palco, os atores Domingos Montagner e Fernando Sampaio, do grupo LaMínima, protagonizam uma trama cômica. Para descobrir como isolar o mal das pessoas, o certinho médico Henry Jekyll testa em si mesmo uma fórmula e dá vida ao desvairado Edward Hyde. Ao lado de quatro ótimos atores, a dupla investe na linguagem do clown e na agilidade das cenas para prender a atenção da platéia. “É uma missão difícil”, diz o diretor Fernando Neves. “Se os adolescentes não gostam, bagunçam mesmo.” Parte do elenco da comédia dramática Cidadania, de Mark Ravenhill, exibida aos sábados no Teatro Cultura Inglesa Pinheiros, acaba de sair da fase das espinhas. Mas isso não significa que o trabalho apresentado seja imaturo. Os dez artistas convencem ao interpretar a história de um garoto em dúvida sobre sua sexualidade. Assuntos atuais como drogas e preconceito também norteiam a montagem Cidadão de Papel, de Sérgio Roveri, inspirada no livro homônimo do jornalista Gilberto Dimenstein. Ela pode ser vista no Espaço dos Satyros Um.
No lugar de situações bem-humoradas, dois dramas enveredam por assuntos complexos para tocar a platéia jovem. A superprodução de 1 milhão de reais O Poeta e as Andorinhas, de Paulo Ribeiro, leva a obra do irlandês Oscar Wilde para o Teatro Imprensa. Com lirismo, fala de morte, egoísmo e liberdade. Na equipe, além de um elenco afiado, estão nomes prestigiados, como o cenógrafo J.C. Serroni e o diretor musical Dyonisio Moreno. Na modesta sala 2 do Teatro Coletivo Fábrica, o pesado texto Os Meninos e as Pedras, de Antônio Rogério Toscano, aborda o impasse entre judeus e muçulmanos. Mesmo com investimento baixo, de 50 000 reais, a produção foi considerada o melhor espetáculo jovem de 2006 pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) e pelo Prêmio Femsa de Teatro Infantil e Jovem, o único especializado nesse segmento. “A qualidade dos espetáculos melhorou muito de quinze anos para cá”, avalia Luiza Jorge, consultora da empresa de bebidas Femsa. “Mas o segmento pode se ampliar.”