Um grupo de amigos toca a campainha de uma casa no Pacaembu e é recebido calorosamente, com salgadinhos e refrigerante. Ajeita-se nas cadeiras e almofadas no chão enquanto a dona da residência tira o telefone do gancho e apaga algumas luzes. Preso, o cachorro late no quintal. Um dos convidados brinca que o latido faz as vezes de terceiro sinal. Vai começar a peça Cartas de Amor, criação da companhia Teatro Delivery, especializada em apresentações fora de palcos tradicionais. O grupo surgiu há nove meses, em uma oficina para atores. “Pedi aos alunos que montassem cenas com base em suas correspondências de amor”, diz o ator Edmilson Cordeiro, responsável pela oficina e que estreia como diretor. “O resultado surpreendeu.” Desde então, os seis atores já fizeram treze apresentações. Quem contrata o grupo paga 500 reais.
“Recebê-los em casa é mais seguro do que sair para a rua”, diz a decoradora Fanny Eizenberg, que recentemente reuniu doze amigos no salão de festas de seu prédio. “Ainda evitamos a amolação de pegar trânsito e gastar com estacionamento.” A empresária Vera Telefssen ofereceu a experiência a quarenta funcionários de sua empresa, enquanto o casal Marjory e Marcelo Glensy recebeu a apresentação como presente de casamento em seu apartamento no Campo Belo. “Bastam um sofá e uma plateia para o espetáculo”, conta o ator Roberto Borenstein. Assim como o diretor, ele também pertence à companhia Redimunho, em cartaz com os espetáculos A Casa e Vesperais nas Janelas, no Casarão da Escola Paulista de Restauro, na Bela Vista. O restante do elenco tem outras profissões.
Ao longo do espetáculo, cozinha e banheiros são usados como coxia. A história sobre encontros e desencontros afetivos é contada em meio ao cenário, à luz e ao som disponíveis. Na apresentação no Pacaembu, por exemplo, o próprio diretor tocou os CDs da trilha sonora em um aparelho de som portátil. O público pareceu não se importar. E aplaudiu de pé, como em um teatro de verdade.
Teatro Delivery. Tel. 3222-3431.