Romão Sampere conhece cada passo do Tatuapé. Começou como engraxate na Praça Silvio Romero, no fim da década de 40, e nos anos 80 chegou a ter uma sapataria de 5 000 metros quadrados, na Avenida Celso Garcia. Passou a lustrar sapatos aos 7 anos, para ajudar nas finanças de casa. Não deu certo. “Era o meu primo de um lado do banco e eu do outro”, diz Sampere. “Do lado dele fazia fila, mas ninguém queria vir comigo. Eu sujava as meias dos clientes”. Romão levava jeito para o futebol, que jogava numa rua de terra onde hoje fica a estação do metrô. Gaba-se de haver marcado 4 298 gols, numa contabilidade só sua. Corintiano roxo, mandou entalhar o símbolo do Timão na porta de casa.
Aos 22 anos, montou uma sapataria na Avenida Celso Garcia com a ajuda dos vizinhos. Sem dinheiro, vendia calçados cedidos em consignação por um concorrente. O negócio não dava prejuízo, mas também não decolava. Foi quando um radialista da região ofereceu anúncios na rádio, por 900 cruzeiros. “Recusei, era o triplo do que eu ganhava por mês. Então ele disse que, se eu não vendesse o suficiente para pagar, não cobraria”, lembra Sampere. “Pois só as vendas do primeiro dia depois do anúncio já pagaram o investimento.” Graças aos consumidores do Tatuapé, a sapataria Romão, nos anos 80, chegou a ter mais de 300 funcionários e 3 000 calçados vendidos por dia. Com a decadência do comércio na Avenida Celso Garcia, em 1998 migrou para o Shopping Metrô Tatuapé. E continua lá, orgulhoso e feliz.