Tatuapé: a capital da Zona Leste
Além dos edifícios de alto padrão, bairro abriga três shoppings, 22 salas de cinema, seis universidades e moradores para lá de orgulhosos
O Tatuapé e seu vizinho Jardim Anália Franco aparecem na televisão duas vezes ao dia no horário nobre da Rede Globo: na novela das 7, ‘Ti-ti-ti’, e em ‘Passione’, o folhetim das 8. Não é por acaso. A região, localizada a 8 quilômetros do centro, vive seu melhor momento. O ritmo acelerado impressiona. A cada ano surgem novos edifícios de alto padrão, faculdades, escolas e lojas tão sofisticadas quanto as de bairros reconhecidamente nobres. Segundo Francisco Castro Neves, diretor da consultoria Escopo Geomarketing, 47% da população do Tatuapé é da classe B, enquanto a média paulistana desse segmento é de 31%. A renda da família no bairro gira em torno de 9 000 reais e o potencial de consumo local equivale ao de cidades como Araraquara, em São Paulo, e Anápolis, em Goiás.
Números assim costumam encher seus moradores de orgulho. Pesquisa realizada pela Faculdade São Marcos mostra que 69% dos tatuapeenses ascendem de vida, mas se recusam a mudar dali. É o caso da empresária Ana Paula Giustino, que consegue avistar o primeiro prédio onde morou, 25 anos atrás, da varanda de seu novo apartamento. “Somos altamente bairristas. O Tatuapé é como uma família, só a gente pode criticar”, brinca ela. Não é apenas o apego às raízes, no entanto, que mantém os moradores fiéis. O Tatuapé tornou-se uma espécie de capital da Zona Leste, com estrutura para atender às mais variadas necessidades. Das 547 000 pessoas que circulam diariamente por ali, 169 000 estão em busca de lazer e serviços. São 22 salas de cinema e seis universidades — que representam mais de 70% das instituições de ensino superior da Zona Leste.
O Hospital São Luiz, por exemplo, investiu 150 milhões de reais para inaugurar, em 2008, na Rua Francisco Marengo, um centro médico do nível de suas unidades do Morumbi e do Itaim. “Por ser mais novo, ele é a nossa referência em arquitetura e conforto”, afirma Ruy Bevilacqua, diretor da filial. O São Luiz levou para a região um equipamento a laser importante no tratamento de cálculos renais, além de serviços diferenciados como as salas de parto natural com hidromassagem, cromoterapia e musicoterapia.
Fincado numa área de 8,5 quilômetros quadrados e servido por duas estações de metrô, a Carrão e a Tatuapé, o bairro conta com três shoppings para atender às necessidades de seus quase 100 000 habitantes. Com shows gratuitos em parceria com a rádio Eldorado FM, o Shopping Anália Franco atrai gente de toda a cidade — a apresentação do cantor Lenine, em julho, reuniu 4 000 pessoas. Em busca de sofisticação, o empreendimento inaugurou no ano passado mais uma ala, com 76 lojas. No corredor, grifes como a masculina Ricardo Almeida e o salão de beleza Studio W. Nenhuma delas, entretanto, causa tanto burburinho como a até então desconhecida Adaaz, no 1º andar. Vêm dali as roupas extravagantes usadas pela personagem Clô (Irene Ravache), de ‘Passione’, e criações do estilista Victor Valentim (Murilo Benício), de ‘Ti-ti-ti’. “Os produtores de ‘Passione’ precisavam gravar uma cena diante de uma vitrine que tivesse um vestido vermelho exposto”, conta a proprietária, Andréia Montone. “Eu tinha um e gostaram muito. Quando entraram, perguntaram se eu possuía uma peça extravagante para a personagem da Irene Ravache ir a um casamento. Havia um vestido, dourado, que estava quase na medida para a atriz. Viramos a noite trabalhando em ajustes e o entregamos no hotel dela.” Depois de tirar a sorte grande quase por acaso, o movimento da loja dobrou.
A estrela do mercado imobiliário também anda reluzente. A região divide-se em duas grandes áreas: Tatuapé (com o metro quadrado cotado a 5 600 reais) e Jardim Anália Franco (6 400 reais o metro quadrado). Entre os dois, está o emergente Alto do Tatuapé. Nos últimos cinco anos, foram lançadas 6 704 unidades em 67 empreendimentos, mais da metade apartamentos com quatro dormitórios. O ritmo de lançamentos dificilmente será mantido, pois já faltam terrenos. Para compensar o investimento feito na desapropriação de 38 casas, na Rua Marechal Barbacena, a Evidence Imóveis, por exemplo, promete vender seus apartamentos de quatro quartos a 7 000 reais o metro quadrado. Como no caso do Residencial Saint Claire, na Rua Professor João de Oliveira Torres, potenciais compradores não devem faltar. Cada um de seus trinta proprietários tem direito a nove vagas de garagem e adega climatizada. O apartamento-padrão conta com 625 metros quadrados de área privativa. A cobertura dúplex, com 1 111 metros quadrados, foi vendida por mais de 7 milhões de reais. Não à toa, o Tatuapé ganhou o apelido de “a pérola do Leste”.