A improvável história de amor entre Suzane e Sandra
Como as trajetórias distintas de uma menina rica da Zona Sul paulistana e a de uma jovem "barra pesada" da periferia se encontraram no presídio de Tremembé
Aos 19 anos, quando cometeu o crime que mudaria para sempre os rumos da sua vida, Suzane von Richthofen era uma típica menina rica da Zona Sul de São Paulo. Frequentara um dos melhores colégios da cidade, fazia viagens para o exterior, cursava Direito em faculdade particular. À noite, voltava para dormir no casarão com piscina, escritório e biblioteca que dividia com os pais, o engenheiro Manfred e a psiquiatra Marísia, e o irmão Andreas. O restante da história já é conhecido.
Enquanto isso, na Grande São Paulo, outra adolescente enfrentava o cotidiano do bairro de Jundiapeba, na divisa de Mogi das Cruzes e Suzano. Em uma rua sem asfalto e uma casa com portão de madeira e numeração escrita a giz, crescia Sandra Regina Ruiz Gomes, a “Galega”, como a vizinhança a conhece até hoje. Aos 21 anos, ela não queria saber de estudar – largara a escola antes do Ensino Médio -, tampouco trabalhar. Fez alguns bicos, mas gostava mesmo era de virar a noite em festas e arrumar briga na rua. A mãe dela, Sônia Regina Ruiz Gomes, sofria de diabetes e morreu de câncer em 2009. O padrasto, Teódolo da Silva, o “Bahia”, trabalha como pedreiro.
Apesar de realidades tão distantes, Suzane e Sandra, ambas com 31 anos atualmente, tornaram-se personagens da crônica policial pelos crimes que cometeram e hoje, detidas na penitenciária feminina de Tremembé, no interior de São Paulo, vivem um relacionamento amoroso.
Paixões e crime
Tanto uma quanto a outra viveram paixões perigosas que as levaram à cadeia. Em 2002, Suzane namorava Daniel Cravinhos, com quem planejou e executou o assassinato dos pais. Em 2003, Sandra vivia um relacionamento com o vizinho Valdir Pereira Martins, reprovado pela mãe e pelo padrasto. Enquanto Manfred hostilizava Daniel Cravinhos na mansão do Campo Belo, o pedreiro Bahia dizia umas verdades para Valdir na porta do barraco.
Antes de Sandra, Martins namorou outra vizinha da rua e o relacionamento terminou mal. Para se vingar, ele planejou o sequestro do irmão da ex, Talisson Vinicius da Silva Castro, de apenas 14 anos. Convidou a Galega para ajudá-lo sob a condição de dividirem o dinheiro do crime. O papel de Sandra foi negociar e extorquir os parentes de Tallison. Uma noite, depois de já ter arrancado os 3 000 reais da família que morava do outro lado da rua, ela abriu a porta de casa pela última vez para o namorado. “Sai fora, sai fora. Matei o menino”, ele avisou. A diferença entre os crimes de Suzane e Sandra é de exatamente um ano – Manfred e Marísia foram mortos em outubro de 2002; Tallison, em outubro de 2003.
Não demorou para que Martins fosse pego e entregasse os comparsas – Sandra e outros dois amigos. Todos foram presos. Ela foi a única a ter o processo desmembrado e, por não ter participado da execução, conseguiu ter a pena diminuída de 27 para 24 anos de cadeia em regime fechado. Isso custou 9 500 reais das economias do padrasto, que havia finalmente conseguido juntar a quantia após anos construindo casas de luxo em Toque-toque Grande, no litoral norte de São Paulo. “Era para fazer o muro e ajeitar a casa. Deixei tudo no advogado”, conta Bahia. Contrataram um dos melhores escritórios da região, o do criminalista Munir Jorge, já falecido.
Família
Mesmo com tanto esforço feito na época, hoje Bahia não fala mais com a enteada. “Nunca fui visitar, não gosto de coisa errada. Aguentava tudo por causa da mãe dela”. Sandra só recebe visita do irmão mais velho, o empresário Fulvio Ruiz. Procurado, ele não quis se pronunciar.
Já Suzane não conta com a simpatia do irmão e, desde que demitiu seu advogado e tutor Denivaldo Barni, não tem recebido visitas. Uma das poucas pessoas que ainda a chamam de amiga é a também advogada Luzia Helena Sanches, na casa de quem Suzane ficou hospedada quando esteve em liberdade. Mesmo assim, elas perderam contato nos últimos anos.