Na beira-mar de Juquehy, Sunset Bistrô deve fechar após brigas judiciais
Um dos poucos comes e bebes pé na areia do Litoral Norte pode acabar após a venda do imóvel e conflitos com vizinhos
O Sunset Bistrô, um bar e restaurante com gramado à beira-mar em Juquehy, São Sebastião, deve acabar nos próximos meses. É um raro lugar em que se pode comer e beber com vista para o mar no trecho mais valorizado do litoral paulista, entre as praias da Jureia e de Maresias, onde a orla é ocupada por mansões.
Em junho, os antigos donos venderam o terreno de 2 100 metros quadrados a Michel Gora, um dos criadores da LocaWeb. De acordo com a escritura, ele pagou 15 milhões de reais — descontados 366 000 de IPTU atrasado e outros detalhes. Em agosto, o novo proprietário notificou à dona do Sunset, Patricia Zarranz, que deve deixar o imóvel em noventa dias. “Vou tentar um acordo para ficar até junho de 2022, quando termina o aluguel. Gastei 300 000 em reformas e tenho um contrato com a Heineken para cumprir até lá”, ela diz.
O Sunset enfrentava problemas com a vizinhança. Desde dezembro de 2019 não podia mais fazer casamentos, o filão mais lucrativo do negócio — os noivos pagavam 1 200 reais por convidado no pacote básico. Moradores incomodados com o barulho conseguiram uma liminar que prevê multas para as cerimônias. A ação foi movida por Eduardo Gurovich, advogado e vizinho do bistrô. Ele gravou vídeos para mostrar que a música chegava ao interior de sua casa.
“Estragava o fim de semana”, diz — eram cerca de 24 casamentos por ano, liberados por alvarás pontuais da prefeitura. Por outro lado, Patricia tem vídeos que mostram Gurovich tocando funk em alto volume para atrapalhar uma cerimônia. A empresária obteve um laudo favorável sobre os ruídos, que ele contesta; o advogado promoveu um abaixo-assinado contra o Sunset, que ela diz que foi armado.
Aberto em 2017, o Sunset cobra 200 reais de consumação mínima na área interna, ou vende pedidos avulsos na areia. Fatura até 20 000 reais por dia. Na semana passada, Patricia suspendeu uma ação de despejo do antigo dono, iniciada nas negociações para a venda. A empresária espera que a decisão mude a visão dos juízes e ela consiga liberar cinco casamentos ainda agendados. “O próximo seria uma união homoafetiva no início de outubro”, diz. Procurado, Gora não falou à reportagem. Também não há informação sobre o que será feito no local.
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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de setembro de 2021, edição nº 2756