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Stella McCartney une moda e sustentabilidade

Defensora dos animais, a estilista inglesa, filha de Paul McCartney, conta como concilia a militância com sua grife de moda

Por Redação VEJA SP
Atualizado em 5 dez 2016, 18h46 - Publicado em 28 Maio 2010, 23h35

O veneno correu solto no mundo da moda quando Stella McCartney debutou como estilista, em 1997. Primeiro, porque foi na tradicional grife francesa Chloé. Depois, por ter sido no lugar de Karl Lagerfeld, um ícone dos fashionistas. Por último — e, definitivamente, não menos importante —, devido ao fato de se tratar da filha do ex-beatle Paul McCartney. Ou seja, não faltou quem concluísse que a oportunidade de ouro lhe havia sido entregue por causa do sobrenome famoso. Talvez nunca se possa afirmar com certeza se foi ou não o caso, mas Stella demonstrou repetidas vezes sua relevância, e não só nas belas coleções exibidas no emprego de estreia.

Contratada pela Adidas e pela loja de departamentos H&M, criou linhas de produtos campeões de vendas. Hoje, aos 38 anos, casada e mãe de três filhos, comanda uma empresa presente em cinquenta países — lançada em 2001, a grife que leva seu nome conta com dezesseis lojas próprias e está em 600 revendedores. Stella faz sucesso entre as mulheres por combinar doses certas de sensualidade e recato em peças de alfaiataria muito bem feitas. Nem por isso está longe de polêmica. Desta vez, devido às convicções ecologicamente corretas que aprendeu com o pai roqueiro e a mãe, Linda Eastman. Vegetariana, a estilista tem horror a matérias-primas de origem animal e não perde uma oportunidade de tentar convencer os colegas de ofício a largar mão das bolsas de couro e dos casacos de pele.

Veja São Paulo — Ser filha de Paul McCartney ajuda ou atrapalha?Stella McCartney — Um nome pode abrir portas, mas não desenha uma coleção para você. Minha posição nunca foi fácil, porque me sinto avaliada o tempo inteiro. Por ser inglesa, por não usar pele nem couro, por ter um pai famoso… Existe uma data de validade, um prazo máximo em que se pode pegar carona na notoriedade de alguém. Em algum momento, você vai ter de provar o seu valor. Acho que, depois de dez anos, cheguei a esse patamar.

Veja São Paulo — Algum dos medos típicos femininos, como idade, cabelo ou pele, assusta você?Stella McCartney — Claro! Não seria normal se não me assustasse. Mas, no fim das contas, todo mundo envelhece, o corpo muda… Fico apreensiva, mas me esforço para viver isso com um mínimo de graça.

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Veja São Paulo — Você tem três filhos e dirige uma empresa. Como se divide para manter-se em dia com esses dois lados da sua vida?Stella McCartney — Em alguns momentos, sinto-me sobrecarregada e culpada, com a impressão de que não estou fazendo nada direito. Como se não conseguisse ser nem 100% mãe nem 100% empresária. Tenho uma equipe fantástica que me ajuda a conviver com esses dois mundos. Além disso, fiz questão de morar perto do trabalho. Daí as crianças podem vir almoçar comigo e estar por aqui durante alguns dos meus compromissos.

Veja São Paulo — Há quanto tempo não come carne?Stella McCartney — Desde meus 6 ou 7 anos de idade, quando toda a minha família parou ao mesmo tempo. A última foi um assado, na Escócia.

Veja São Paulo — Além de ter um carro híbrido e de utilizar energia eólica em sua loja em Londres, o que mais na sua vida é sustentável?Stella McCartney — Minhas escolhas, sempre que possível, são baseadas no que é correto com a natureza. Usamos sacolas biodegradáveis, reciclamos papel ao máximo e só compramos produtos de limpeza que não agridem o ambiente. No caso dos tecidos, além de orgânicos, eles precisam ser tingidos com corantes naturais.

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Veja São Paulo — Fazer roupas ecologicamente corretas é mais caro? Stella McCartney — Sim, custa até 70% mais. No meu caso, também, por trabalhar com fábricas italianas acostumadas há décadas a produzir acessórios com couro. É um desafio para elas usar materiais alternativos.

Veja São Paulo — Um dos obstáculos para estilistas que querem ser ecologicamente corretos é a qualidade da matéria prima sustentável, geralmente ruim. Como resolve isso na sua empresa?Stella McCartney — Meu primeiro trabalho é ser estilista. Ou seja, criar roupas desejáveis, luxuosas e bonitas que as mulheres sintam vontade de comprar. Mas nunca deixarei de aproveitar a chance de utilizar um belo tecido orgânico. Minha primeira decisão é sempre baseada num questionamento: consigo fazer essa peça de uma maneira mais sustentável, sem sacrificar o design? Se sim, não há por que não fazer. O que acho mais importante é pressionar e questionar se podemos criar algo tão bonito sem ter de lançar mão de certos produtos e processos químicos. A indústria da moda precisa pensar do mesmo jeito que muitas corporações enormes que estão agora preocupadas com o planeta. E não fazer a coisa fashion de sempre: agir como se estivéssemos acima disso e simplesmente não dar bola.

Veja São Paulo — Anna Wintour, editora-chefe da ‘Vogue’ americana e uma das mulheres mais temidas e poderosas da indústria, é a favor do uso de peles. Já chegou a debater o assunto com ela?Stella McCartney — As pessoas à minha volta sabem das minhas convicções e são muito respeitosas. Mas já tive, sim, conversas ocasionais com amigos, como ao sentar para ver um desfile e perguntar a eles: “O que você está fazendo vestido com essa pele de animal?”.

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Veja São Paulo — Que lição as outras marcas poderiam aprender com a sua? Stella McCartney — Meu maior desejo é encorajar meus colegas estilistas e diretores de criação a banir as peles e passar a usar menos couro. Gostaria de conscientizar as pessoas da morte de 50 milhões de animais por ano em nome da moda e do impacto disso para a Terra.

Veja São Paulo — O que é luxo para você?Stella McCartney — Enxergo alguns significados para a palavra. Luxo não é uma necessidade, muito pelo contrário. Trata-se de algo de que a gente não precisa, mas almeja e se dá de presente. Também vejo como algo que você valoriza, obtém e deixa de herança.

Veja São Paulo — O que sabe sobre São Paulo?Stella McCartney — Tenho um espaço numa loja, a NK, mas lembro bem pouca coisa da cidade. Visitei-a há tempos, quando acompanhava meu pai numa turnê. Vejo o Brasil como um mercado importante, em ascensão.

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