Quando adolescente eu gostava de saber as origens e os significados dos nomes das pessoas. Ainda me lembro de alguns: Soraia, do persa, significa estrela da manhã; Helena, do grego, luz brilhante; Lúcia, do latim, luminosa; Cristiano, do grego, seguidor de Cristo; Beatriz, do latim, que traz felicidade; Bruna, do germânico, escura; Inês, do grego, pura; Renato, do latim, renascido; Alberto, do germânico, ilustre; Débora, do hebraico, abelha. São coisas que grudam na memória, sem explicação.
Os almanaques traziam essas curiosidades, e era neles que muitos iam buscar inspiração para batizar os filhos. Procuravam significados e sons que funcionassem como um bom presságio. Hoje, qual o sentido de nomes que se vão fundindo por aí?: Francisbel, Francislene, Richarlyson… Sim, há nomes antigos que são fusões, como Marinês – mas são fusões eufônicas, consagradas. Por que inventar coisas esquisitas? Precisa?
Na literatura é diferente. Autores inventam para suprir, para exprimir o que não encontraram escrito. Você não acha no dicionário a palavra sagarana. Guimarães Rosa a inventou depois de procurar muito tempo um título para o seu primeiro livro de contos. Juntou a palavra nórdica “saga” (radical germânico, de significado próximo a epopéia) com o sufixo “rana”, do tupi, que significa à maneira de, ou com jeito de. Sagarana: à maneira de epopéia.
O sobrenome Sarney, dizem, foi invenção: juntaram o som do inglês “sir” com Ney. Sabe-se lá. Parece explicação para forró, que, segundo alguns, seria como os nordestinos entendiam o “for all” dos soldados americanos acantonados em Natal durante a II Guerra. Sou mais o dicionário: é forma abreviada de forrobodó. Os americanos é que pronunciavam forró com o sotaque deles, e saía coisa parecida com “for all”.
Nem sempre a invenção de um nome é obra de uma pessoa, mas sim preciosidade esculpida pelo tempo. Por exemplo, Gibraltar. O Estreito de Gibraltar, trecho de mar mais estreito entre o norte da África e a Europa, foi a passagem (djab, em árabe) marítima usada pelo conquistador árabe Tariq para invadir a Espanha. Djab al Tarik – a passagem de Tariq – virou, com o tempo, Giab-al-tar, Gibraltar.
Garantem-me que o bairro carioca do Realengo é uma dessas criações sem pai nem mãe. A palavra existe, existia, significa próprio do rei, relativo ao rei. O sufixo “engo” indica “relativo a”, como em avoengo, que quer dizer “relativo aos avós”. Não seria o caso do bairro do Realengo. Havia, na então distante paragem carioca, um engenho chamado Real Engenho. Quando surgiram os bondes, o que ia para lá, o Real Engenho, teve abreviado o nome do seu destino para que ele coubesse na tabuleta: REAL ENG.º. O povo lia tudo direto e cunhou o nome Realengo.
Às vezes o nome esquisito é um equívoco. A tia de um amigo, de estranho registro Uruksan, era na verdade Roxane, sendo Uruksan a grafia aproximada daquilo que o agente da imigração entendeu quando o libanês escandiu o nome da sua filhinha menor.
Embora inventados, esses acabam tendo um sentido, um significado. Já Richarlyson… Ou Meyre/Meire, que é uma oitiva equivocada do inglês Mary. Como a Paôla que andam pronunciando por aí. Só falta es–tenderem a anomalia para Fabiôla. O ex-RH de uma empresa me relata nomes hilários, inclusive o Ualdisnei, que foi como os pais conseguiram grafar o nome que queriam pôr no filho, Walt Disney. E por aí vai: Leididaiana, Greiciquelli, Maicon…
Na verdade o que eu queria era reivindicar espaço nas certidões de nascimento para nomes suaves, eufônicos, que pela raridade já vão ficando nostálgicos: Eunice, Alice, Cecília, Lúcia, Letícia, Isabel, Elisa, Dalva, Susana, Míriam, Geraldo, Rubens, Renato, Celso… Os nomes, como tudo, são modas.