Sneakerheads, viciados em tênis
Colecionadores paulistanos buscam novidades e fazem de tudo para obter modelos raros
Em 2005, a Nike fez uma campanha em parceria com o cineasta Tim Burton e lançou uma série limitada de um modelo inspirado no filme “A Noiva-Cadáver”, que foi sorteado entre os fãs em um site nos Estados Unidos. Para ficar com o cobiçado par da marca esportiva americana era preciso acertar uma série de perguntas sobre os filmes do diretor e depois ter a sorte de ser escolhido. No Brasil, a única pessoa contemplada com o produto foi o paulistano Persio Tagawa. “Gastei horas nessa operação, mas o resultado valeu a pena”, diz ele. Proprietário de uma loja de tênis na Rua Augusta, a Maze Skateshop, o comerciante, além de vender esses produtos, engrossa uma curiosa tribo de colecionadores capaz de tudo para amealhar exemplares raros desse tipo de calçado. Seu acervo é formado por 150 peças, quarenta delas só da marca americana Airwalk, lançada nos anos 80 e bastante usada pelos skatistas.
Tagawa é um legítimo representante dos sneakerheads (viciados em tênis, na tradução para o português). Essa mania surgiu nos anos 60 na Europa e em países como Japão e Estados Unidos. Em terras americanas, a coisa chegou a tal ponto que a distribuição de lançamentos especiais, como a de alguns dos pares com a assinatura do superastro do basquete Michael Jordan na década de 90, passou a ser feita nos fins de semana, de modo a evitar que a garotada matasse aula para ficar nas filas dos estabelecimentos. Por aqui, a onda chegou em 2007, e o marco disso foi a estreia do site www.sneakersbr.com.br em uma festa na Vila Madalena.
Idealizado pelo pernambucano Ricardo Nunes, o endereço começou como um blog sem compromisso para falar de preciosidades da área e trocar opiniões com outros amantes da atividade. Hoje, com 450.000 acessos por mês, a página é a principal referência para os fãs do negócio. “O sneakerhead não é o cara que tem 1.000 pares de tênis. Esse é quem tem dinheiro. O sneakerhead pode ter só cinco pares, mas ele sabe a história de cada um”, explica.
O estilista Marcelo Sommer enquadra-se perfeitamente nessa definição. O forte de sua coleção são os exemplares da Vans, marca californiana também ligada ao skate. Mas seu acervo inclui outros itens curiosos, como um par da Nike dos anos 70 comprado em um brechó de Nova York que ele nem usa para não estragar. “Adoro também os relançamentos de modelos antigos”, afirma.
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As empresas da área vêm dando atenção a esse nicho de mercado nos últimos anos, abastecendo-o com novidades que emulam clássicos de outras eras. “Desenvolvemos coisas para atender vários tipos de público, de grafiteiros ao pessoal ligado nas últimas tendências de moda”, afirma Tiane Allan, gerente de marketing da Adidas Originals, divisão da fabricante criada para desovar nas lojas séries especiais de calçados. Recentemente, ela bancou uma linha desenvolvida com a temática do filme “Guerra nas Estrelas”, de George Lucas. Outro modelo que tem causado comentários é o Air Mag, da Nike, conhecido como o tênis do “De Volta para o Futuro 2”, filme dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Michael J. Fox. No mês passado, ocorreu um leilão de 1.500 pares nos Estados Unidos e alguns chegaram a custar mais de 65.000 reais, com toda a renda destinada a uma instituição mantida pelo ator.
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Para que uma peça seja valorizada entre os sneakerheads, ela precisa de alguns predicados: ser limitada, bonita, ter algum valor agregado por artista ou designer e, principalmente, estar ligada a algum fato rocambolesco. Um dos xodós do colecionador Persio Tagawa é um modelo da Nike inspirado em Freddy Krueger, o vilão de uma série de blockbusters de terror trash dos anos 80. Como o estúdio que possui os direitos autorais do personagem não permitiu a distribuição, o negócio nunca chegou a ser vendido, mas alguns exemplares foram parar no mercado negro e um deles está hoje na casa do comerciante. “Descolei a raridade com um cara na Inglaterra”, conta ele. Seu objetivo é duplicar o número de Airwalks nos próximos anos. “Existe um que foi comercializado só na China que eu sou doido para ter, mas ainda não encontrei. Isso é assim. Um vício. Não para.”