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Sinais

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h44 - Publicado em 18 set 2009, 20h19

Certa vez eu estava diante de uma grande decisão em minha vida. Ia vender a casa onde morava. Não era exatamente um bom negócio. Mas os gastos andavam altos. Eu precisava arriscar novos caminhos profissionais. Não queria estar preso a tantas despesas fixas. No dia de assinar o contrato, fui até o terraço, repleto de plantas. Sentei a uma mesa, cheio de angústia. “Devo vender?”, pensei. “Não seria melhor desistir de tudo?” Olhei para cima. Pensei profundamente: “Ah, como eu queria um sinal!”

Parece incrível. No mesmo instante, um pássaro verde, da família do papagaio, voou até a mesa. Pousou diante de mim. Em seguida se foi. Eu me senti tremendamente aliviado. “Vou bater as asas como o pássaro”, decidi. Fechei o negócio e nunca me arrependi. No ano seguinte precisei tomar decisões profissionais bem complicadas. Talvez tivesse ficado com medo, se continuasse com tantas despesas. Mas eu me sentia livre! Garanto que tudo redundou no melhor!

Quando escrevi a novela Alma Gêmea, e mais recentemente, ao lançar o livro Senhora das Velas, ambos místicos, dei muitas entrevistas. Logo vinha a pergunta:

– Você já teve experiências mágicas?

– Sim, todo mundo tem – respondia.

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Sinais, coincidências espantosas que Jung chamava de “sincronicidade”, estão sempre presentes. Dava um exemplo:

– É comum alguém se lembrar de um amigo que não vê há muito tempo e encontrá-lo pouco depois, por acaso. E dizer: “Puxa, pensei em você ainda ontem!”

Quem nunca passou por isso? É como se houvesse uma ligação imperceptível entre todas as coisas, que só se percebe em certas ocasiões! Mas muita gente exagera, deixando a imaginação falar mais alto e vendo sinais em toda parte. Há quem dirija pensando: “Se o semáforo ficar verde, vai me acontecer uma coisa boa. Se for vermelho, ai…”

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Uma vez, eu vivia um difícil momento emocional. Fui até o jardim do crematório de São Paulo. Antes de falecer, meu pai pediu para ser cremado. Espalhei suas cinzas embaixo de uma árvore do tipo de que ele sempre gostou. Mais tarde, as de entes queridos que partiram também. Na falta de um túmulo, rezei diante da árvore. Deixei o coração explodir. De pé, de olhos fechados, eu chorava pensando em tudo o que tinha perdido recentemente: em meu pai, na segurança que ele me dava, na minha confusão, e nas escolhas que devia fazer sozinho. Pedi, com todas as forças: “Se estou tomando o caminho certo, preciso de um sinal!”

Não pensava em nada mágico, era mais um desabafo. Esperava ver tudo mais claro dali a alguns dias, talvez. Mas senti o toque de dedos em meu ombro. Abri os olhos. Uma senhora estava à minha frente com uma criança. Tinha um ramalhete de rosas vermelhas. Retirou uma, sorriu, me entregou e partiu sem uma palavra, provavelmente para depositar as rosas junto à arvore de um ente querido. Ela teve um gesto de solidariedade, pelo qual sempre agradecerei. Para mim foi uma experiência única e extraordinária, que me deu forças para seguir com a vida.

Um outro ano está começando. É a hora de ficar algum tempo sozinho e ouvir a voz do silêncio mais íntimo. E deixar que os sinais de um novo tempo falem com o próprio coração!

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Obrigado, Uno

Meu querido cachorro Uno partiu pouco antes do Natal. Tentamos uma operação no intestino, mas, talvez devido à idade, os pontos se romperam e ele teve septicemia. Assim, não precisei tomar a dolorosa decisão de sacrificá-lo. Tenho certeza de que as centenas de mensagens de solidariedade dos leitores contribuíram para que seus últimos dias fossem de alto-astral. Nunca vou me esquecer da lambida carinhosa que ele deu na minha mão ao ser levado para o veterinário e das lágrimas que escorreram dos meus olhos, pois, no íntimo, eu sabia que ele não voltaria. Mas fico feliz que tenha partido antes de muitos sofrimentos. Agradeço porque, de alguma forma, meu cachorro me ensinou a amar.

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