Semáforos queimados: sinal de alerta
Sem manutenção há dois meses, semáforos com lâmpadas queimadas espalham-se pela cidade
O sinal está vermelho para boa parte dos 6 100 cruzamentos semaforizados da cidade. E não apenas no sentido figurado. Em alguns deles, a luz vermelha é a única que funciona. Para outro grande número de equipamentos, a situação é ainda pior: nada acende. Em vez de cumprir sua função de controlar o fluxo de veículos, garantindo a segurança viária, o farol, quando apagado, consegue complicar ainda mais o caótico vaivém de automóveis na cidade. Semáforos de pedestres passam pelo mesmo problema.
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A manutenção inadequada é a causa do apagão. O contrato da prefeitura com as três empresas que eram responsáveis por deixar os faróis tinindo se encerrou em meados de julho. De lá para cá, apenas as sete equipes da Companhia de Engenharia de Tráfego se encarregam disso. Não dão conta, porém, de atender às 300 intervenções diárias ligadas a semáforos. Desse total, cerca de setenta são consideradas prioritárias. Incluem-se aqui os sinais apagados ou em amarelo piscante, que podem resultar em acidentes.
A prefeitura marcou para o dia 2 de agosto o pregão que serviria para selecionar as empresas que zelariam pelas sinaleiras. Descontentes com o valor inicial de 15,7 milhões de reais proposto para quinze meses de serviços — para o período anterior, o contrato era de 14,3 milhões de reais —, as concorrentes decidiram, em conjunto, se ausentar da sessão. “Não podíamos concordar com o preço defasado”, afirma Ailton Luís de Faria, gerente da Sitran-SP, uma das participantes. Para essas companhias, as exigências da CET acabaram por elevar muito os custos e encurtar a margem de lucro. “Tínhamos de manter várias equipes trabalhando em muitos turnos, além de um rol grande de equipamentos, como carros e guindastes especiais”, diz o engenheiro eletricista Mauro Corrêa, da Terwan, outra participante da licitação. “Não era possível baixar ainda mais o valor ofertado.”Uma nova disputa foi remarcada, então, para o último dia 17. Desta vez, a empresa Serttel, do Recife, levou a melhor. Por 13,7 milhões de reais, ela terá de manter 41 equipes a postos em três turnos nos próximos quinze meses. “Já assinamos o contrato e devemos começar as operações no fim deste mês”, promete o superintendente Carlos Farache. “Até lá, a manutenção será feita pela CET.” Há onze anos, a cidade contava com 62 grupos de funcionários para realizar o mesmo serviço.
A compra de lâmpadas também enfrenta entraves burocráticos. Segundo um fornecedor de luzes que não quis se identificar, a CET costuma esperar o estoque ficar vazio para só então lançar um novo pregão. Entre o edital e a entrega da mercadoria, a demora, em média, é de quatro meses, pois os produtos são quase todos importados de países como a China. A troca de lâmpadas não precisaria ser tão constante se a tecnologia LED (light emitting diodes), já consagrada no mundo, fosse adotada por aqui também. Mais modernas e pelo menos 50% mais caras que as convencionais, essas lampadinhas duram até 100 000 horas e exigem menos gastos com manutenção. A vida útil das halógenas e incandescentes, as mais usadas hoje, varia entre 2 000 e 10.000 horas. Além disso, as LEDs são 90% mais econômicas que as tradicionais e não se apagam totalmente mesmo depois de uma pane, garantindo mais segurança aos motoristas. Em boletim deste ano, a própria CET admite que seu uso traria benefícios como redução de despesas e de riscos no trânsito. Apesar dessas vantagens comprovadas, apenas 15% dos semáforos da cidade estão equipados com elas. “O ideal seria que a LED estivesse presente em 100% dos cruzamentos”, afirma o engenheiro de tráfego Alexandre Zum, especialista em sinalização.
Para Zum, as lâmpadas com problemas seriam trocadas mais rapidamente se o serviço de manutenção fosse descentralizado, e não concentrado no edifício da CET localizado na Marginal Pinheiros, como é hoje. “Além de as equipes demorarem para atender pontos como a Zona Leste, o custo do serviço com transporte aumenta muito.” Em 2007, a prefeitura gastava, em média, 57,80 reais com a substituição de cada lâmpada queimada. Um estudo de 1999, conduzido pelos engenheiros de tráfego Luiz Carlos Matias e Marcelo Antonio Fernandes, já recomendava a regionalização dos serviços. Nada foi feito e, enquanto isso, continuamos no vermelho.