A cada chuva, oitenta semáforos param de funcionar em São Paulo
Até quando eles serão suscetíveis a raios, queda de árvores e alagamentos?
Luzes piscantes só têm graça nas pistas de dança das baladas paulistanas. Quando esse pisca-pisca acomete os semáforos da cidade, ninguém se diverte. Ainda assim, enfrentar sinalizadores com defeitos, especialmente em dias de temporais como os das últimas semanas, é algo frequente na metrópole. Segundo a CET, apenas 120 dos 6.072 cruzamentos com faróis são vulneráveis aos estragos provocados por tempestades. Registros da própria companhia, porém, mostram que não é bem assim. Em 24 de janeiro, após um fim de semana de forte chuva, 600 deles (um em cada dez) haviam entrado em pane. Em dias normais, em média quarenta cruzamentos apresentam problemas desse tipo, número que dobra sob trovoadas. Na última terça, 109 semáforos chegaram a estar pifados ao mesmo tempo. A quantidade de agentes trabalhando no conserto também impressiona: são 45 equipes todos os dias.
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Enquanto os equipamentos estão fora do ar, dezenas de marronzinhos são deslocados para os pontos mais problemáticos, na tentativa de organizar minimamente a passagem de carros, ônibus, motos e pedestres. Com cerca de 800 agentes trabalhando por turno, falta quem dê conta de tanta complicação. “Quando não há quem opere, a rua é simplesmente fechada e o motorista, obrigado a dar uma volta maior e a passar mais tempo no congestionamento”, afirma o engenheiro de transporte Sergio Ejzenberg. Especialistas ouvidos por VEJA SÃO PAULO foram unânimes em afirmar que a CET é um órgão competente, que executa bem o que está dentro de suas possibilidades. O que falta são investimentos para sanar o problema, que se tornou crônico, e eliminar situações caóticas, em vez de apelar a improvisos para contê-las.
Sinais instalados próximo uns dos outros funcionam de maneira interligada, ou seja, se um para de funcionar, todo o grupo para. O “cérebro” do conjunto, de onde partem os comandos, é uma caixa metálica colocada na calçada, vulnerável a alagamentos e a descargas elétricas, que derretem suas placas internas e impedem a operação.
Além disso, semáforos estão tão suscetíveis a quedas de energia quanto residências e comércios, já que todos se conectam à mesma rede elétrica. Quando acaba a luz, simplesmente não há o que fazer, a não ser esperar pela normalização. “Uma linha independente resolveria boa parte da questão”, diz o consultor Luís Antônio Seraphim, que trabalhou na CET por catorze anos. Outra saída seria enterrar a fiação, deixando-a mais protegida. Ou ainda implantar mecanismos movidos a energia solar, com lâmpadas de LED (diodo emissor de luz), mais econômicas. A CET diz que já prevê a troca das lâmpadas comuns pelas de LED. Estuda ainda criar um banco de dados com histórico de funcionamento e análise de variação de energia — informações inexistentes hoje.
Não há um sistema de alerta automático que avise a companhia quando um semáforo pifa. Os agentes só ficam sabendo da situação se câmeras captam imagens do local, alguém liga reclamando ou se um deles passa por ali. Em Ourinhos, cidade do interior paulista com 100.000 habitantes, há três anos funcionários da prefeitura recebem no celular alertas sobre falhas. “Não gastamos combustível nem pessoal em rondas e atuamos imediatamente”, conta o coordenador de trânsito Francisco José Hial.
Um circuito reserva é ativado em caso de pane e pequenos geradores garantem sobrevida por mais uma hora quando cai a energia. Cada equipamento custa cerca de 4.000 reais e pode ser acoplado à estrutura antiga — um semáforo comum custa em torno de 6.000 reais. “A atualização de toda a rede não custaria mais de 200 milhões de reais”, afirma o consultor de engenharia urbana Luiz Célio Bottura. É um valor bastante razoável para resolver ao menos uma parte dos imensos problemas do trânsito paulistano, cujos congestionamentos — que se agravam com os semáforos inoperantes — causam prejuízos diários colossais à economia da cidade, além de infernizar a vida de toda a população.