“Savana Glacial” tem tensão eletrizante
Montagem em cartaz no Sesc Belenzinho provoca a plateia e oferece várias leituras ao enfocar um casal confinado
Aos 27 anos, o carioca Jô Bilac firma-se como grande revelação entre os dramaturgos brasileiros. Depois de surpreender em “Cachorro!” e “Rebu”, ambas encenadas por Vinícius Arneiro e vistas aqui, respectivamente, em 2008 e 2010, ele ganhou o reconhecimento que faltava. No mês passado, recebeu o Prêmio Shell carioca de melhor texto com o drama Savana Glacial, agora em cartaz no Sesc Belenzinho. A montagem dirigida por Renato Carrera traz uma intrigante trama e representa outra brisa criativa soprada do Rio de Janeiro para movimentar a atual sonolenta cena paulistana.
No palco, Michel (Renato Livera) muda de apartamento com a mulher, Meg (Andreza Bittencourt), na tentativa de fazê-la esquecer de vez o passado. Ao conhecer a vizinha Agatha (Camila Gama), os dois têm a intimidade invadida e começam a se sentir perturbados. Meg passa, então, a questionar o confinamento no qual vive. Em um clima de tensão eletrizante, Bilac e Carrera desenham um jogo em que realidade e ficção se confundem o tempo inteiro. Com o mínimo de recursos, a exemplo de luzes que se acendem e apagam aos poucos, o diretor valoriza as palavras do autor. O espectador pode até se incomodar diante das múltiplas possibilidades de leitura e da fragmentação das cenas. Mas sairá tão provocado quanto os personagens, muito bem defendidos pelo quarteto de intérpretes, completado pelo ator Diogo Cardoso.
AVALIAÇÃO ✪✪✪