São Paulo do futuro: o que esperar da metrópole nos próximos anos
Com os avanços da tecnologia, a cidade apresentará novidades em áreas como transporte, urbanismo, consumo, cultura e gastronomia
No aniversário de 465 anos da cidade, comemorado nesta sexta (25), VEJA SÃO PAULO mostra o que se pode esperar da metrópole nos próximos anos em áreas como transporte, urbanismo, consumo, cultura e gastronomia. Confira:
Transportes
APLICATIVOS. Em 2019, a grande aposta do Uber, app pioneiro do transporte compartilhado na capital, será o aluguel de bikes elétricas. O pagamento de bilhetes de metrô diretamente na ferramenta também está em fase de provas, mas não há previsão de lançamento. A companhia começa a testar em 2023 viagens com um tipo de helicóptero elétrico, o Uber Elevate, desenvolvido desde 2016 com empresas do naipe da Embraer. A ideia é que o passeio no veículo voador custe 50% a mais que no sistema premium do app, o Uber Black. Assim, uma corrida do centro até o Aeroporto de Cumbica, por exemplo, que sai por cerca de 150 reais, poderá custar na faixa dos 225 reais. Outras empresas do ramo, como 99 e Cabify, também se movimentam e trazem iniciativas como o compartilhamento de patinetes (Cabify) e a criação de medidas de segurança, entre as quais o reconhecimento facial de motoristas (99), ambas ainda sem data de implementação.
DUAS RODAS. Experimente pedalar pela movimentada ciclovia da Avenida Faria Lima no pico das 18 horas. Em 2018, o número de ciclistas cresceu 13% por ali. Hoje, são mais de 7 000 viagens diárias. Destaque para as bicicletas compartilhadas, que dominam a área e ganharam a companhia das patinetes elétricas. Point de veículos de duas rodas, a região virou uma espécie de Vale do Silício das startups de mobilidade, como Bike Sampa, Ride, Scoo… A Yellow, que promete despejar 100 000 magrelas pela cidade, fez mais de 1 milhão de viagens em quatro meses de operação. O desafio da metrópole agora é estender a transformação para outras regiões que sofrem com a degradação em boa parte dos 498 quilômetros de ciclovias. A prefeitura mantém a promessa de aumentar a malha para 1 420 quilômetros até 2028, o que nos aproximaria de Nova York, com 1 820 quilômetros. “É fácil estabelecer metas de curto prazo e não cumpri-las”, rebate Daniel Guth, coordenador de projetos da associação Aliança Bike.
MAPEAMENTO. A digitalização de edificações tem muito a oferecer a São Paulo. A americana Autodesk desenvolve um sistema capaz de modelar em 3D qualquer tipo de obra. Lá fora, Washington e Los Angeles digitalizaram seu território. No caso do viaduto que ruiu na Marginal Pinheiros, em novembro, um escaneamento da passagem, que custaria cerca de 40 000 reais, poderia abreviar o tempo da reforma. A tecnologia consiste na utilização de laser e drones que recompõem a parte necessária em formato tridimensional. Essa técnica já é utilizada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Quando uma estação tem de ser reformada, em vez de os técnicos passarem um mês tirando as medidas das estruturas, o sistema mapeia tudo em dois dias. “Não precisamos interromper a operação para isso”, diz Eduar do Tavares, chefe de projetos da companhia. “No futuro, quando novas estações forem construídas, conseguiremos pular algumas etapas que consomem tempo e dinheiro.”
PELO AR. Aeroporto mais movimentado do Brasil, com mais de 42 milhões de passageiros anuais, Cumbica, em Guarulhos, pode crescer? Para a GRU Airport, concessionária que administra o espaço, a resposta é sim. Estudos embrionários mostram que uma terceira pista de pousos e decolagens poderia dobrar a capacidade do local. A concessão termina em 2032, e análises de viabilidade econômica indicarão as reais necessidades. “Nossos projetos apontam para essa possibilidade, mas antes disso precisamos saber se haverá realmente uma demanda”, explica Gustavo Figueiredo, presidente da GRU Airport. Em 2014, a inauguração do Terminal 3 aumentou em 40% a capacidade do lugar.
PELA ÁGUA. Promessa de campanha do governador João Doria, a navegabilidade nos rios Tietê e Pinheiros estará em pauta na nova gestão do Palácio dos Bandeirantes. A ideia do tucano é criar o chamado Hidroanel Metropolitano, ligando os dois cursos de água às represas Billings e Guarapiranga, além de instituir um transporte turístico e de carga por essa malha hídrica. A iniciativa, porém, esbarra na atual situação das águas. “Da forma que está hoje, não dá para falar em navegabilidade”, afirma Marcos Penido, secretário de Energia. A pasta, que promete manter o Projeto Tietê, iniciado em 1992, quer se debruçar sobre processos pelo mundo e atrair novas tecnologias para a tão prometida (e tão não cumprida) despoluição no trecho da Grande São Paulo.
CARONAS. O Waze, dispositivo de navegação, lançou em agosto um sistema de carona paga, o Carpool. A medida é voltada para quem vai trabalhar de carro e está disposto a pegar passageiros no trajeto. Por um percurso de 15 quilômetros, o cliente paga cerca de 7 reais. No primeiro mês, os 125 000 usuários rodaram 96 000 quilômetros. O próximo passo da companhia é fazer parcerias com universidades e postos de combustíveis, que podem oferecer pontos de encontro.
ÔNIBUS. Com 9,5 milhões de passageiros por dia, que se espremem em 14 377 veículos, o sistema de transporte público municipal é um grande desafio da cidade. A prefeitura, que espera concluir a tão sonhada licitação no primeiro semestre de 2019, definiu as regras para os próximos vinte anos de operação. Detalhe: os contratos são emergenciais desde 2013. Entre as exigências, as empresas deverão possuir 25% da frota com ar-condicionado. Carros com mais de dez anos não poderão rodar. Em 2018, a gestão Covas desembolsou quase 3 bilhões de reais em subsídios. “Deveríamos discutir a capacidade dos ônibus e o desempenho do sistema, com a implantação de BRT (Bus Rapid Transit), não se eles terão wi-fi”, afirma o arquiteto e urbanista Flamínio Fishman. “Daqui a vinte anos, esse processo em estudo estará caduco.”
CARROS AUTÔNOMOS. Os automóveis que andam sem motorista devem revolucionar o trânsito. “Vejo em quinze ou vinte anos esses carros, que são muito mais seguros, nas nossas ruas”, diz o consultor de tecnologia Thiago Ramaciotti. A Ford, por exemplo, lança no exterior seus primeiros veículos do tipo em 2021. Outra aposta é nos carros elétricos. Um corredor de carregamento entre Rio e São Paulo, na Via Dutra, opera desde o ano passado. Recentemente, a Toyota anunciou a fabricação no Brasil do primeiro modelo híbrido flex, movido também a álcool e gasolina. “Em quarenta anos, o mercado de combustíveis fósseis se reduzirá drasticamente”, prevê Ricardo Bastos, diretor de assuntos governamentais da Toyota.
Setor Imobiliário
COMPRA DE IMÓVEIS. Nos últimos anos, a venda de imóveis teve mais baixas do que altas. Em 2018, foram mais de 21 000 novas unidades comercializadas — há uma década, o número ficou na faixa de 36 000. Nesse cenário, as exigências em torno da aquisição passam por aceleradas transformações. Vaga na garagem é uma condição a desaparecer. “Criamos edifícios nos quais só metade das unidades tinha espaço para estacionar, depois reduzimos esse índice para 30% e percebemos que cada vez mais sobram vagas”, afirma Antonio Setin, presidente da Setin Incorporadora. “Desistimos ainda de investir em bicicletários porque a tendência é alugar as bicicletas.” Tamanho também não é mais documento. As pessoas buscam praticidade. O empresário Alexandre Lafer Frankel, da construtora Vitacon, promove a ideia de apartamentos compactos em sessenta prédios lançados desde 2009. O menor dos seus imóveis tem 10 metros quadrados e fica na Rua das Palmeiras, na região central. “O morador se força a sair de casa, conviver em áreas comuns, e isso traz benefícios para sua vida”, acredita Frankel. O negócio dá resultado: a Vitacon teve um crescimento de 57% em 2018.
ALUGUEL DE IMÓVEIS. O status de formar patrimônio tornou-se pouco significativo para as novas gerações. Cada vez mais, o lema é ser, viver e dividir experiências. “Da mesma forma que os jovens se interessam menos por carros, é possível que também percam o desejo pela casa própria, porque preferem liberdade e mobilidade”, afirma Danilo Igliori, professor doutor da FEA/USP e presidente do DataZAP, empresa de inteligência imobiliária do ZAP Imóveis. Essa dinâmica começa a ser estudada pelas construtoras. A criação de prédios exclusivos para aluguel deve ser fortalecida — há previsão de lançamento de pelo menos quatro unidades nesse formato por aqui em 2019. Nos Estados Unidos, o Airbnb firmou uma parceria com a incorporadora Niido para construir, até 2020, catorze empreendimentos focados em compartilhamento de lares. Um deles já existe em Nashville, no Tennessee.
ÁREAS COMPARTILHADAS. Apartamentos grandes geram trabalho e despesas sem sentido. “Se a máquina da lavanderia geral quebrar, será uma despesa do condomínio e não vai impactar o seu bolso da mesma forma que o conserto da sua”, exemplifica Antonio Setin. A empresa que ele preside é responsável por apartamentos de 18 a 49 metros quadrados no centro. Eles, no entanto, dispõem de piscina, cozinha, academia, sala de jogos, churrasqueira, bicicletário e escritório para todos. O mesmo vale para os carros comuns ao condomínio. Basta reservar o veículo e depois devolvê-lo, sem a preocupação com as despesas de quem é um proprietário. Hortas comunitárias aparecem igualmente como tendência. E, ainda nessa onda da natureza, vale dizer que os tetos verdes e jardins verticais despontam como opções de sustentabilidade e beleza.
COWORKING. O compartilhamento de espaço e recursos também será cada vez mais a tônica dos escritórios. Segundo a Ancev, associação nacional do segmento, a capital possui 300 coworkings. A empresa americana WeWork chegou a São Paulo em 2017. As facilidades oferecidas em suas instalações incluem sala de jogos, cabines para ligações privativas e espaço com manicure e massagista. Depois de se instalar nas avenidas Paulista e Faria Lima, o negócio cogita investir na revitalização das regiões da Luz, do Bom Retiro e dos Campos Elíseos. “Em Nova York e Los Angeles, verificamos o impacto econômico ao trazer novas pessoas, empresas e atividades econômicas para os bairros em que nós nos instalamos”, conta Hugo Silveira, diretor de comunidade do negócio por aqui. Com o avanço da tecnologia, que torna dispensável o deslocamento do funcionário até a sede do trabalho, o chamado home office também está em alta.
VALORIZAÇÃO DO CENTRO. Tendência nas metrópoles internacionais, a valorização do centro é crescente em São Paulo. Em 2017, foram lançadas 5 544 unidades residenciais nesse eixo, mais de 4 000 delas com área inferior a 45 metros quadrados. A nova geração almeja usufruir o espaço público. A movimentação aos domingos na Avenida Paulista e no Elevado João Goulart, o Minhocão, é uma prova disso. Quem procura um imóvel com esse perfil — muitas vezes solteiros ou casais sem filhos — fica atento às opções do entorno porque deseja desfrutar a região como ponto de encontro. A preocupação com os deslocamentos também é minimizada pelo fácil acesso ao transporte público. Novos empreendimentos no Bom Retiro, na Vila Buarque e na Praça da Sé, inspirados em estúdios de Londres e Nova York, comprovam essa onda.
HOSPEDAGEM. No Japão, o chamado hotel-cápsula é uma realidade. Trata-se de cubículos para hospedagem rápida, perto de aeroportos e estações. Um hostel na região da Avenida Paulista investe no modelo desde o fim do ano passado, com quartos de 3 metros de profundidade e 90 centímetros de largura. No setor hoteleiro paulistano como um todo, que dispõe de 43 500 apartamentos em 400 hotéis, flats e pousadas, verifica-se uma crescente taxa de ocupação. O desafio do futuro é aproximar São Paulo cada vez mais de Nova York ou Paris, que, além de capitais de negócios, são cidades exploradas em razão da cultura e do lazer. No último réveillon, 50% dos quartos foram alugados, enquanto há duas décadas esse índice atingia 5%. O Carnaval se mostra outro novo êxito. A projeção para 2019 é chegar aos 55% de ocupação — que já foi praticamente zero no fim dos anos 80. Sucesso recente entre as opções de hospedagem, o Airbnb aposta em adaptações para fidelizar a clientela. A duração média das viagens a São Paulo é de seis dias, maior que a nacional, de 4,5 dias. Então, a venda de atividades compartilhadas no próprio site, como experiências gastronômicas e espetáculos, busca a simpatia do público.
Consumo
GUIDE SHOPS. De acordo com pesquisadores associados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos próximos anos o segmento varejista buscará o aumento da produtividade por meio de ferramentas como a radiofrequência para a localização de produtos no estoque e a convergência da experiência on-line com a real, vista em estabelecimentos como as guide shops. Em São Paulo, essa última tendência deve se popularizar ainda mais. A marca feminina Amaro é um caso bem-sucedido, com dez unidades na cidade. O cliente experimenta a roupa no endereço, compra pelo site em computadores espalhados por lá e recebe em casa em, no máximo, 24 horas. Isso reduz a necessidade de estoque. “Na entrada da loja do Shopping Pátio Higienópolis, há sensores que analisam quem entra e quem sai. Eles também conseguem saber a altura das pessoas e se se trata, por exemplo, de uma família”, explica Dominique Oliver, CEO da rede.
PAGAMENTO. Nada de ficar na mão ao esquecer o cartão de crédito em casa. Nos próximos anos, deve crescer a tecnologia Near Field Communication (NFC). Essa aplicação permite que você cadastre seus dados bancários em dispositivos tais como celular, relógio e pulseira. Para concluir uma compra, basta aproximá-los de uma maquininha retangular, parecida com essas que usamos hoje. Para que o consumidor se sinta seguro, as vendas com valor acima de 50 reais são feitas somente mediante a digitação de senha. Há ainda outras tendências na digitalização de pagamentos, como o uso de QR Codes, bastante disseminado na China, e de bitcoins, que, de forma tímida, acontece na capital. Outra possibilidade são os totens de autoatendimento, vistos, por exemplo, em doze lojas do Burger King na cidade. “O cliente pode analisar as fotos dos produtos, customizá-los e pegar uma fila menor”, explica Clayton Malheiros, CFO da rede no Brasil.
LOJA COM EXPERIÊNCIA. Com a disseminação dos e- commerces, sair de casa para comprar algum produto se tornou desnecessário, o que tem alterado cada vez mais o modelo das lojas físicas. “Na nova fase, os estabelecimentos vão investir na forma como se comunicam”, explica Roberta Nigri, especialista em comportamento do consumidor e inovação de mercado. Em sintonia com essa tendência, a Ri Happy abriu em 2015 uma loja-conceito no Shopping Cidade São Paulo, onde há bastante espaço para testes de brinquedos. “Devemos evoluir para ser também um ponto de serviço e entretenimento, que contará, por exemplo, com aulas sobre um jogo ou um local em que os pais poderão deixar as crianças”, explica Flávia Drummond, diretora de marketing da cadeia.
COMANDO DE VOZ. Em 2019, mais de vinte anos depois do surgimento do primeiro e-commerce no país, o comércio eletrônico está consolidado e responde por 3,5% do varejo no Brasil. Em São Paulo, principalmente, os olhos desse segmento estão voltados para os smartphones — o índice de compras pelo dispositivo móvel deve chegar a 35% neste ano. Dessa forma, aparecem no horizonte investimentos em sites que tenham boa performance, além do aprimoramento de aplicativos que simplifiquem as transações. “Em um futuro muito próximo, as pessoas vão fazer compras por comando de voz”, explica Marcio Kumruian, CEO da Netshoes, um dos principais atores do setor. Outra alteração deve acontecer no modo como as entregas são feitas, pois essa parte da venda se mostra uma das etapas mais dispendiosas para os lojistas. “Você poderá adquirir um produto virtualmente e retirá-lo em um estabelecimento genérico, perto da sua casa, como uma farmácia ou um posto de gasolina”, explica Mauricio Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). Funcionários- máquinas também devem entrar nesse jogo. “Mais à frente, robôs inteligentes ou drones, conforme a legislação permitir, poderão ser utilizados”, explica.
O FIM DAS SENHAS. As fintechs, empreendimentos que levam inovação para o setor financeiro, têm simplificado a experiência do consumidor em atividades como abertura de contas, pagamentos e investimentos. Daqui a cinco anos, algumas das novidades do segmento estarão relacionadas à criação de uma identidade digital, que elimina a memorização de dezenas de senhas, como acontece hoje. “Minha aposta é que uma grande empresa de tecnologia vá resolver esse problema”, afirma Bruno Diniz, presidente do Comitê de Fintechs da Associação Brasileira de Startups. Entre as prováveis soluções para essa questão, estão desdobramentos sofisticados da biometria, como o escaneamento dos olhos. “Trata-se de um atributo único que você tem, como a impressão digital”, explica Diniz, que ressalta a necessidade de associação com técnicas avançadas de segurança.
Gastronomia
MENOS POMPA. Nada de luxo ou salamaleques. O futuro da gastronomia, segundo especialistas ouvidos por VEJA SÃO PAULO, são os lugares mais descontraídos, sobretudo no serviço, mas com cuidado gastronômico. Esse movimento, que já acontece em São Paulo, ainda é recente e tende a se intensificar. Os menus degustação, de endereços de alto nível, podem estar ameaçados. A cozinha mais espontânea, com cardápios enxutos e pratos que variam todo dia, vai crescer.
VEGETARIANISMO. O movimento deve ganhar ainda mais força nos restaurantes. “Tenho visto, no Brasil e no mundo, pessoas com projetos bem bacanas nessa área”, conta a chef Helena Rizzo, que em seu premiado restaurante Maní, no Jardim Paulistano, prepara algumas receitas que dispensam as carnes. “O mundo vegetal oferece um outro espectro para ser trabalhado, tanto em criatividade quanto em proposta de cozinha.” Na mesma esteira, os estabelecimentos devem entrar com tudo na chamada alimentação saudável, com atenção às restrições da freguesia. “Veremos desde hambúrguer mais saudável até saladas cada vez mais gastronômicas”, acredita o empresário Ricardo Garrido, da Cia. Tradicional de Comércio. “Se olharmos para alguns mercados mais desenvolvidos nesse setor, como o da Costa Oeste americana, esse assunto é uma obsessão.”
DELIVERY MAIS RÁPIDO. As empresas do setor de entregas tendem a crescer ainda mais. Para aumentar a velocidade do delivery, a área tem investido em tecnologia e novas formas de transporte. Além de entregue por motos e bicicletas, a comida vai ser levada a pé (por que não?), de patinete ou por drone. O Uber Eats vem testando o artefato aéreo nos Estados Unidos, mas ainda não há previsão para a chegada da modalidade ao Brasil. Outra novidade são os armários. O iFood experimenta instalar em grandes empresas compartimentos com aquecimento. Os profissionais deixam a entrega guardada e vão embora antes mesmo de o cliente retirá-la, o que facilita a dinâmica.
MENOS ÁLCOOL, POR FAVOR. Não, não é que a clientela vai parar de beber nos próximos tempos. Mas os drinques com menor volume alcoólico devem ter mais vez nas cartas dos bons bares. Muitas dessas misturas levam vinhos fortificados, como o clássico adonis, com vinho xerez e vermute tinto.
COZINHA TECNOLÓGICA. O uso de robôs pode surgir nos salões e cozinhas de restaurantes e bares. De acordo com um estudo do ano passado do americano Center for an Urban Future (Centro para um Futuro Urbano), há um potencial de 77% para o trabalho de garçons e garçonetes se tornar robotizado em Nova York. O número sobe para 87% se considerarmos também quem prepara alimentos, incluindo fast-food. Em alguns lugares do mundo, é possível ver o fenômeno, que ainda parece distante, acontecendo. Um caso é o Spyce, montado em Boston por estudantes do MIT em parceria com o chef Daniel Boulud, onde a comida é feita por máquinas.
Cinema
SALAS DE CINEMA. O público vem em um crescendo na última década, com quedas apenas nos últimos dois anos. Para efeito de comparação, em 2008 houve 89 milhões de espectadores, contra 164 milhões em 2018. Transformações constantes mantêm as plateias cativas. O luxuoso complexo do JK Iguatemi, da mexicana Cinépolis, passa por uma grande reforma. Haverá projeção a laser, que permitirá imagens de alto contraste com muito mais brilho, e a primeira tela de LED do Brasil, com luminosidade até dez vezes maior do que a das tradicionais. “Outra tendência que deverá crescer será o uso das salas para eventos corporativos e exibições de conteúdo diferenciado”, prevê Luiz Gonzaga De Luca, presidente da Cinépolis Brasil. A americana Cinemark aposta em um resgate do modelo dos minicomplexos. Segundo Marcelo Bertini, presidente da rede no Brasil, a ideia é quase a mesma dos minimercados das grandes marcas: “As pessoas querem resolver tudo dentro do próprio bairro”. Seria algo como uma retomada do conceito do Kinoplex Itaim, aberto em 2003. A Cinemark dá a largada com quatro salas em 2020 em um empreendimento da Helbor que reúne hotel, lojas, restaurantes e apartamentos residenciais na Avenida Rebouças.
STREAMING. Da Netflix à Amazon Prime Video, passando por NOW, Looke e Google Play, há cerca de oitenta serviços de streaming no país. A parceria entre esses negócios e os cinemas tende a crescer, sobretudo com o surgimento de novas plataformas, como o Disney+, que pretende englobar produções do estúdio do Mickey, da Marvel e da grife Star Wars. Para Fabio Lima, sócio da Sofá Digital, que distribui conteúdos em streaming para NOW e iTunes, os canais precisam diminuir o tempo entre a estreia no cinema e no streaming. Ele cita como um bom exemplo a rede de cinemas inglesa Curzon, que lança filmes independentes nas salas e no mesmo dia já os disponibiliza em sua plataforma digital, a Curzon Home Cinema. Os planos de crescimento da Netflix são ambiciosos. Segundo o jornal The New York Times, o gigante pretende lançar 55 produções originais por ano, algumas com orçamento de até 200 milhões de dólares. Vem querendo obter o reconhecimento do mercado exibidor, já que seus longas de maior prestígio estão sendo lançados, sobretudo nos Estados Unidos, simultaneamente nos cinemas e no streaming e têm ganhado prêmios.
HOME THEATER. Telas maiores e áudio cada vez mais potente. A indústria de eletrônicos está se preparando para atrair o consumidor, e o “cinema em casa” tende a ficar mais fiel ao cinema real. É no que acredita Orlando Barrozo, editor-chefe da revista Home Theater. Outra função que, em breve, será oferecida nos aparelhos das marcas Sony, Philips e da chinesa TCL é o Google Assistant. “Haverá uma grande mudança de comportamento com os assistentes de voz nas TVs, já que não será preciso usar o controle remoto para mudar de canal nem o celular ou um app para pedir uma pizza ou chamar um táxi. Tudo será resolvido com a televisão”, acredita Barrozo.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619.