São Paulo é pano de fundo para mais filmes e novelas
Nos últimos dois anos, produções que usaram a cidade como cenário aumentaram 20%
As paisagens paulistanas, cheias de concreto e asfalto, podem parecer pouco fotogênicas à primeira vista. A julgar pelo número de produções de televisão e cinema tocadas por aqui nos últimos dois anos, porém, não é bem assim. Só em 2009, foram 1 438 filmagens em nossas ruas, quase quatro por dia. Dessas, 85% concentram-se na região central, segundo a Secretaria das Subprefeituras, responsável por conceder autorização de uso dos espaços públicos a essas produções. No distrito Sé, a quantidade de gravações cresceu mais de 500%: de 200, em 2006, para 1 234, no ano passado. Um dos principais atrativos é a diversidade de estilo dos prédios. “Ali, conseguimos vários cenários apenas mudando de rua”, explica Arthur Machado, da produtora Paranoid, que rodou um comercial de perfumes no Largo São Francisco, no início de maio. Dirigido por Heitor Dhalia e Martin Romanella, o vídeo mostra uma chuva de blusas e lenços sobre uma mulher. “O único inconveniente é que só podemos gravar no fim de semana, para não atrapalhar o trânsito.” Dono de uma empresa especializada em encontrar locações, Alexandre Rocha diz que a região é ideal também para produções ambientadas em outras décadas. “Poucas cidades concentram tantas construções dos anos 60 e 70”, afirma.
Pontos turísticos como o Autódromo de Interlagos e o Estádio do Pacaembu serviram de pano de fundo para duas novelas globais, ‘Passione’ e a próxima trama das 7, ‘Ti-Ti-Ti’. Nos últimos três anos, a emissora investiu pesado por aqui. Gravou outras cinco novelas, como ‘A Favorita’ e ‘Caras & Bocas’, as minisséries ‘JK’ e ‘Queridos Amigos’, e quatro programas, entre eles ‘Estrelas’ e ‘Caldeirão do Huck’. “A cidade é atraente por ter uma diversidade de culturas e de paisagens e pela infraestrutura”, declara Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação.
A quantidade de longas-metragens também cresceu. Segundo a São Paulo City Film Comission, o escritório municipal de cinema criado em junho do ano passado para viabilizar mais produções desse tipo, foram 29 em 2008 — três anos antes, haviam sido feitas apenas dez. Uma delas foi ‘Ensaio sobre a Cegueira’, de Fernando Meirelles, rodado no Minhocão, em algumas ruas da cidade e na Marginal Pinheiros. Em ‘Linha de Passe’, de Walter Salles e Daniela Thomas, a periferia foi o cenário principal. Desde o início do mês, o cineasta Ugo Giorgetti produz aqui o seu ‘Corda Bamba’, filme que se passa em 1970. “Dia desses tivemos de pedir autorização para ‘burlar’ a Lei Cidade Limpa e afixar outdoors”, diz o secretário executivo da Film Comission, Eder Mazini. Para este ano, o escritório, ligado à Secretaria de Cultura, pretende distribuir 6 milhões de reais a longas-metragens. “Em contrapartida, exigimos que 50% das externas sejam rodadas na cidade”, afirma Mazini.
A procura cresceu também devido a mudanças nos procedimentos da prefeitura. Relegada à condição de coadjuvante por décadas, sobretudo quando comparada ao Rio de Janeiro, a cidade começou a ganhar papel mais importante no mercado cinematográfico em 2007. Foi quando um decreto municipal isentou as produções da taxa cobrada pelo uso da imagem de ruas e avenidas, que chegava a 589,65 reais por hora. Além do alívio no orçamento, o processo para autorização das filmagens também se tornou menos burocrático. Para poderem gravar, os interessados precisam encaminhar uma lista de sete documentos à subprefeitura da região em que o trabalho vai acontecer. Se pretendem fechar vias, é necessário ainda o aval da CET, que analisa o processo em até dez dias. “Antigamente, os pedidos não tinham data para ser atendidos e podiam demorar mais de vinte dias”, lembra o produtor Rocha. De janeiro a maio de 2009, a companhia, que cobra entre 119,13 e 1 614,18 reais, dependendo do impacto no trânsito, registrou 150 solicitações para gravações. No mesmo período deste ano, o número saltou para 336.
O CENTRO EM CENA
As dez locações mais solicitadas pelas produtoras ficam na região:
– Praça Ramos
– Vale do Anhangabaú
– Rua Líbero Badaró
– Rua São Bento
– Rua Boa Vista
– Rua Roberto Simonsen
– Viaduto do Chá
– Praça Antonio Prado
– Pátio do Colégio
– Largo de São Bento