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Santana tem relação antiga com a velocidade

Berço de dois dos pilotos mais importantes do Brasil, bairro reforçou sua vocação para as corridas ao sediar, neste ano, a estreia brasileira na Fórmula Indy

Por Romulo Tesi
Atualizado em 1 jun 2017, 18h38 - Publicado em 17 dez 2010, 16h49

Santana deu ao mundo dois dos maiores ases do automobilismo internacional, Chico Landi e Ayrton Senna. Vários anos depois, o bairro reafirmou sua ligação com o esporte. No mesmo local em que carros de passeio e caminhões costumam trafegar lentamente, no trecho da Marginal Tietê próximo ao Anhembi, pilotos aceleraram seus monopostos a mais de 300 quilômetros por hora, na estreia da etapa brasileira da Fórmula Indy, em março. O tricampeão mundial de Fórmula 1 conheceu bem a Marginal. Sem ligar para o perigo, treinava se arriscando com seu kart em uma das pistas mais movimentadas da cidade. Se estivesse chovendo, melhor. “Ele tinha duas namoradas: uma fixa e outra que sempre mudava”, conta Viviane Senna, presidente do instituto que leva o nome do irmão.

A tal “namorada fixa” ocupava grande parte da rotina do menino. Na oficina de sua casa, gastava horas “montando e desmontando o kart umas 400 vezes”, recorda Viviane. Claro que destoava das outras crianças da Rua Aviador Gil Guilherme — morou também na Rua Condessa Siciliano, até os 12 anos. “Ele sempre tinha um carrinho na mão. Ao contrário dos amigos, não ligava para futebol”, completa. Após sua trágica morte, em 1994, em Ímola, Senna batizou uma infinidade de ruas, avenidas e estradas por todo o país. Curiosamente, nenhuma em Santana.

Com bem menos logradouros em sua homenagem, Chico Landi é, ele próprio, o início do automobilismo no Brasil. Nascido em 1907 e morador da Rua Banco das Palmas — passou ainda pela Rua Voluntários da Pátria —, era criança quando teve o primeiro contato com a velocidade, ao assistir a corridas de carroceiros, próximo ao terreno onde hoje é o Campo de Marte. Ia com o pai, dono de uma empresa de terraplenagem que realizou obras no Vale do Anhangabaú. Quando o italiano Paschoal morreu, vítima de tifo, o garoto de 15 anos teve de arranjar emprego. Em uma oficina do centro, nasceu a paixão pelos carros. Lá teve contato com a elite paulistana e, por volta dos 18 anos, começou a participar de rachas em ruas da região das avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio. “Ele ganhava todas”, conta o filho Luiz.

Landi chegou a tentar voos mais altos, literalmente: em 1946, inscreveu-se no curso de pilotagem de aviões do Campo de Marte, mas desistiu após sofrer um acidente sem gravidade. Foi mesmo no chão que ele fez história. Começou em 1934, no Circuito da Gávea, no Rio, sendo campeão três vezes. Em 1948, venceu no Circuito de Bari, na Itália, com uma Ferrari e conquistou a amizade do comendador Enzo, fundador da escuderia. Em 1951, estreou na Fórmula 1. Permaneceu até 1956, abrindo o caminho para o Brasil na categoria. Ainda assim, a família lamenta a falta de reconhecimento. “O Chico é lembrado só de vez em quando”, diz o sobrinho Roberto Landi. Um desses momentos ocorreu em 1995, quando a curva do lago, em Interlagos, passou a homenageá-lo — ele também batiza uma rodovia estadual, quase toda de terra, na região de Avaré. O irmão Quirino é que virou nome de uma rua próxima ao circuito, onde Landi trabalhou como administrador entre 1984 e 1989, ano de sua morte. O corpo foi cremado, e as cinzas, guardadas no autódromo.

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Chico Landi 2196a
Chico Landi 2196a ()

As duas lendas não viveram para assistir à transformação de Santana em palco da Indy. O circuito de rua do Anhembi, criado especialmente para a corrida, apresenta a maior reta da categoria, com 1,5 quilômetro, na Marginal Tietê, além de trechos como “S de Samba” e “Reta de Marte”. Na primeira prova, o australiano Will Power levou a bandeirada final na “Reta do Sambódromo” e acrescentou mais um capítulo à história de velocidade do bairro.

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