Zelador demitido de triplex diz que votou em Lula
Para funcionário de prédio no Guarujá, saída foi retaliação após ter prestado depoimento em que contou que família do ex-presidente frequentava o local
O zelador José Afonso Pinheiro, uma das testemunhas da investigação sobre o triplex que seria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi demitido nesta quinta (7). Ele trabalhava no Condomínio Solaris, no Guarujá, há quase três anos e contou a VEJA SÃO PAULO que acredita que sua demissão tenha sido uma retaliação após ter informado em depoimento que a família do ex-presidente frequentava o lugar. Pinheiro disse ainda que votou em Lula para a Presidência da República.
“Estou com os papéis da demissão aqui na mão”, disse o zelador. “Tenho certeza absoluta de que foi retaliação por causa do que eu falei. As pessoas não querem que eu fale a verdade. Isso machucou as pessoas, inclusive o síndico, que disse que eu falava muito. Como tudo neste Brasil é na base da mentira, fui premiado com essa demissão.”
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Pinheiro depôs ao Ministério Público do Estado no inquérito que apura se Lula é proprietário de um apartamento no prédio, o que é negado por advogados do ex-presidente. Em depoimento, narrou que os seguranças do edifício seguravam o elevador enquanto a família de Lula estava no local. Segundo Pinheiro, depois do depoimento, ele foi acusado de “falar demais” e que estava mentindo por pessoas que ele disse ser da OAS.
“Eu vi o ex-presidente Lula, acompanhei a esposa dele, a dona Marisa, mostrei as áreas comuns. Me encontrei com ela depois na hora de ir embora, me despedi dela. Como eu posso falar que eu não vi, que eu não estive com ele?”, disse.
Aos 47 anos, ele mora com a mulher no prédio e agora busca um novo emprego e outro lugar para morar. Questionado se está arrependido do depoimento, afirmou que o Brasil está cansado de falcatrua. “Não me arrependo de maneira nenhuma. O Brasil está cansado de mentira. Eu estou pagando o preço”, disse. “Por enquanto eu moro lá. Vou ver o prazo que tenho (para sair) e vou utilizar o prazo que eu tenho. Depois vou ter que ia à luta. Eu não vou baixar a cabeça. Eu sou um brasileiro que quer a verdade”. Segundo o zelador, alguns moradores estão tentando se mobilizar devido a sua saída. Eles querem uma explicação.
Sobre o governo, disse que apoia impeachment caso seja provado algo contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “Se for provado que ela cometeu um erro, serei a favor, caso contrário, não. É o justo”, disse. Ele também contou que sempre votou no Partido dos Trabalhadores, inclusive no ex-presidente Lula, porém, nas últimas eleições estava já “desacreditado” e não votou.
A reportagem procurou a administradora do condomínio para saber quais os motivos da demissão, mas foi informada que o síndico poderia responder aos questionamentos. VEJA SÃO PAULO não conseguiu contato com o síndico até a publicação deste texto.
A OAS Empreendimentos, construtora responsável por erguer o edíficio e oficialmente proprietária do triplex, informou, por meio de nota, que não tem qualquer interferência sobre a permanência ou não dos funcionários. (Com Estadão Conteúdo)