O empreendedorismo social de Regina Esteves
No comando da ONG Comunitas, ligada ao Centro Ruth Cardoso, ela ajuda a destinar recursos privados a regiões carentes de todo o país
Criado para preservar a memória e o trabalho da socióloga e ex-primeira dama do Brasil, o Centro Ruth Cardoso é presidido desde 2009 pela administradora de empresas Regina Esteves. Um dos principais braços da instituição, a ONG Comunitas comemora os resultados positivos de seu programa Juntos, que destina recursos a projetos sociais em áreas carentes de diversos municípios do país. Em quase uma década, cerca de 100 milhões de reais foram investidos em mais de 150 iniciativas. Uma delas é a Escola de Mães, realizada em parceria com a prefeitura de Santos, que de 2016 para cá atendeu mais de 13 000 gestantes e mães de crianças de até 1 ano em atividades gratuitas nas policlínicas da cidade.
A entidade foi fundada para orientar empresários brasileiros a contribuir para causas públicas e reúne nomes como Rubens Ometto, presidente do gigante do segmento de energia Cosan; Ricardo Villela Marino, presidente do conselho estratégico do Itaú para a América Latina; e Carlos Jereissati Filho, da rede de shopping centers Iguatemi. Desde 2012, passou a contar também com a participação de líderes políticos, como governadores e prefeitos. “A ideia de envolver gestores públicos surgiu para aumentar a coalizão e ter um impacto maior”, diz Regina.
A inclusão de políticos no circuito de discussões dos projetos tinha como objetivo fazer com que essas autoridades aprendessem a manter as iniciativas, tornando-as uma espécie de modelo a ser seguido. “Queremos que nossos projetos possam ser replicados até por outras administrações que eventualmente não foram contempladas pelo nosso programa”, afirma a administradora. Regina nasceu, em 1970, na cidade de Marília, na região centro-oeste do Estado de São Paulo, e descobriu sua veia empreendedora cedo, aos 15 anos, ao atuar na empresa do pai. Percebeu também que poderia aproveitar seu gosto por política para causar impacto na vida de outras pessoas.
No fim dos anos 80, mudou-se para a capital, onde cursou administração de empresas na Universidade São Marcos. Formada, assumiu o cargo de pró-reitora na própria instituição de ensino. Hoje mãe de dois filhos, Matheus, de 14 anos, e Carolina, de 12, ela mora no Itaim e começa sua rotina bem cedo. Acorda às 5 da manhã e não costuma retornar para casa antes das 22 horas, depois de uma agenda repleta de reuniões, muitas realizadas na sede da Comunitas, nos Jardins, ou em outros locais.
A experiência no ramo do empreendedorismo social é creditada aos anos de aprendizado com a ex-primeira-dama Ruth Cardoso. As duas trabalharam juntas durante o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002. Regina entrou para o governo logo no primeiro ano, convidada pelo próprio FHC. Na época tinha 25 anos. Ao lado de Ruth, ela ajudou a executar alguns dos principais projetos sociais da gestão tucana, como o Alfabetização Solidária, que atendeu mais de 6 milhões de jovens e adultos em cidades pobres do país. “Trabalhar com ela foi uma imersão no mundo das iniciativas de impacto social. Sempre me recordo dos ensinamentos valiosos que recebi nessa época para minha atuação de hoje”, diz. Com a morte da mentora, em 2008, Regina assumiu no ano seguinte o comando da entidade com o nome da socióloga.
O empreendedorismo social também lhe rendeu alguns prêmios. Poucos, no entanto, tiveram maior significado do que aquele que ela recebeu das mãos do ex-funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) Sérgio Vieira de Mello, morto em um atentado em Bagdá, no Iraque, em 2003. Regina foi premiada em 2002 por ter cooperado com um programa de alfabetização para adultos realizado poucos meses antes em Timor Leste, um pequeno país do Sudeste Asiático.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 06 de março de 2019, edição nº 2624.