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Filho de pedreiro e doméstica, estudante da USP irá a Harvard

Para custear passagem e hospedagem, Rafael Silva lançou um financiamento coletivo na internet

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 nov 2017, 06h01 - Publicado em 10 nov 2017, 06h00

Na infância, a brincadeira predileta de Rafael Silva era folhear obras sobre o corpo humano. Mais tarde, ele se decidiu de vez pela carreira de médico ao acompanhar o sofrimento da avó paterna, que morreu aos 80 anos, depois de uma dura batalha contra o câncer.

Filho de um pedreiro e de uma empregada doméstica, Rafael frequentava uma escola pública e sabia que jamais sua família poderia pagar por um cursinho de preparação para o vestibular, muito menos por uma faculdade privada. Por isso, chegou a passar doze horas por dia debruçado sobre livros, devorava material didático gratuito disponível na internet e ficou fluente em inglês sem nunca ter frequentado um curso do idioma. Aprendeu tudo prestando atenção a séries, jogos de videogame e filmes.

O câmpus em Boston: pesquisa em laboratório de cardiologia (Denis Tangney Jr./Getty Images/Veja SP)

O esforço acabou sendo recompensado. Em 2015, foi aprovado na Faculdade de Medicina da USP (58,7 candidatos por vaga) e, em setembro passado, conseguiu uma façanha ainda maior: foi um dos sete alunos da universidade selecionados para intercâmbio de um ano na Harvard Medical School, nos Estados Unidos, uma das instituições de ensino mais prestigiadas do mundo.

A fórmula do sucesso? “Meta clara, perseverança, muito estudo e apoio da família e dos professores”, resume o rapaz de 19 anos. A ida para os EUA, programada para janeiro, será sua primeira viagem internacional. Lá, Rafael vai realizar pesquisas em um laboratório de cardiologia.

Nascido na cidade de Blumenau, em Santa Catarina, o garoto caseiro e de jeito tímido é filho único de Jonas e Valdirene Silva. A renda mensal da família não chega a 3 000 reais. Na mudança de Rafael para São Paulo, os pais passaram sufoco para bancar os 2 000 reais necessários para estadia em uma pensão em Perdizes, transporte e alimentação.

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“Mesmo fazendo horas extras, não estava dando”, lembra a mãe.“Peguei um ônibus com meu marido e fomos à assistência social da USP pedir ajuda chorando.” A direção da universidade se sensibilizou com o caso, e Rafael conseguiu acomodação gratuita em um alojamento no câmpus da Zona Oeste.

A mãe, Valdirene: “Será um doutor do povão, que trata as pessoas com carinho, e não daquele tipo que nem olha para você na consulta” (Reprodução Facebook/Veja SP)

Depois da festa ao passar no funil para o intercâmbio na Harvard, Rafael teve de driblar outro dilema financeiro, pois o programa não custeia viagem e estadia. A solução encontrada por ele foi contar sua história, incluindo uma cópia da carta de aprovação da instituição de ensino americana, e pedir ajuda no Catarse, plataforma de financiamento coletivo.

Em apenas duas semanas, havia conseguido chegar à meta de amealhar 50 500 reais para a empreitada. No último dia 8, o valor alcançava quase 90 000 reais. Cerca de 40% dos financiadores são de Santa Catarina. Duas pessoas anônimas doaram, cada uma, 10 000 reais.

Rafael diz que não está namorando atualmente. “Ando focado nos estudos”, afirma. Nos raros momentos de folga, gosta de participar de churrascos com amigos e de curtir um som. Fã de compositores eruditos como Mozart e Beethoven, ele curte também folk metal, mescla de rock pauleira com elementos de música tradicional celta.

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Jonas, o pai: a renda mensal da família não chega a 3 000 reais (Reprodução Facebook/Veja SP)

Um de seus ídolos na vida é Leonardo da Vinci. “Por ter uma mente além do seu tempo”, justifica. A exemplo do estudante catarinense, o gênio renascentista não nasceu em berço de ouro: era filho bastardo de um notário e de uma camponesa.

O calouro da Harvard ainda não decidiu em qual área da medicina vai se especializar. Balança entre cardiologia e psiquiatria. Independentemente disso, sua mãe já tem uma certeza. “Será um doutor do povão, que trata as pessoas com carinho, e não daquele tipo que nem olha para você na consulta”, orgulha-se ela.

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