Escritórios gringos de arquitetura abrem filiais em São Paulo
Estrangeiros estão na metrópole para atender incorporadoras e grandes empreendimentos
Em janeiro, uma fachada icônica da Avenida Brigadeiro Faria Lima mostrou a nova cara. Intocado desde os anos 80, o paredão do Iguatemi trocou de revestimento, ganhou janelões e escancarou a vista para a Chanel e a Louis Vuitton. A reforma é o começo da maior operação plástica pela qual passará o primeiro shopping center do país. Até 2016, ano do seu cinquentenário, o interior da caixa de concreto também vai mudar. A reforma pretende melhorar a circulação de um prédio que cresceu à moda desordenada de São Paulo. “Vamos alterar toda a praça central, que terá um jardim ainda mais lindo,e teremos um teto de vidro sobre as rampasde entrada”, afirma Carlos Jereissati Filho, presidente do Grupo Iguatemi.
O autor do projeto de modernização é o americano Eric Carlson, responsável pelo Carbondale, um dos escritórios de arquitetura mais renomados de Paris, na França. Trata-se do seu segundo trabalho para o Grupo Iguatemi. O primeiro foi a concepção do interior do JK Iguatemi, aberto em julho do ano passado na Vila Olímpia (o esqueleto é obra do Arquitectonica, de Miami). Os detalhes da obra do JK foram traçados em conversas com Jereissati a partir de 2008, a cada dois meses, em mesas de reunião e da churrascaria Rodeio. Desde então, Carlson ficou viciado em bala de coco, casou-se com uma carioca residente em São Paulo e descobriu que por aqui havia demanda suficiente de trabalho para abrir uma filial de seu escritório na cidade. “Foi o ponto fundamental para decidir pelo investimento”,conta. Há seis meses, seis arquitetos brasileiros trabalham no primeiro e único Carbondale fora de Paris. A empresa funciona em uma casa de vila nos Jardins.
Nos últimos dois anos, assim como Carlson, outros arquitetos estrangeiros de peso têm adotado São Paulo. “Muitos vieram em decorrência da crise na Europa”, entende Joana Mello, arquiteta e professora da Escola da Cidade, centro de referência na capital em estudos sobre o assunto. Foi a situação econômica portuguesa que motivou Ana Costa, à frente do negócio montado pelo pai em 1959, em Lisboa, a testar o mercado paulistano. “Amigos me apresentaram a empresários e arquitetos conhecidos”, conta Ana. O interior da sede da Odebrecht Properties, braço imobiliário da construtora, localizado no Butantã, está entre os projetos recentes do Ana Costa Design, aberto em outubro de 2011 no Alto de Pinheiros. Ela mantém um apartamento na Vila Madalena e segue uma rotina que inclui ver jogos de futebol no bar São Cristóvão e almoçar bife noix e salada de pupunha no restaurante argentino Martín Fierro.
Nem só a crise estimula a emigração. “As incorporadoras precisam de uma grife para acelerar as vendas e propor ideias além do estilo neoclássico que impera aqui”, analisa Jean-Pierre Bandeira, vice-presidente para a América Latina da yoo, uma conhecida agência de design de Londres, na Inglaterra. O negócio é fruto da sociedade entre o francês Philippe Starck e o empresário inglês John Hitchcox, e abriu há sete meses as portas da sua filial paulistana, na Vila Olímpia. Apesar do pouco tempo de atividade, já assinou contratos para dez edifícios residenciais e um hotel. “Significa a média de um negócio fechado a cada doze dias úteis”, calcula Bandeira.
Há ainda quem prefira encontrar parceiros locais, caso do Concern, escritório de design e arquitetura holandês. Eles estão em negociação para formar uma sociedade com os brasileiros Guto Requena e Maurício Arruda e vender seus serviços em São Paulo. “Amamos a energia daqui e existe muito a fazer”, comenta Ernestien Idenburg, gerente de operações do Concern em Amsterdã. É ela quem se mudará para a capital quando o volume de encomendas solicitar presença constante. Por ora, Ernestien tem vindo a cada três meses. Outro que está estreitando seus laços paulistanos é o parisiense RDAI. Trata-se da grife responsável no mundo pelas lojas da Hermès, um dos maiores símbolos do luxo francês. A convite da JHSF, dona do Shopping Cidade Jardim, a empresa concebeu spa, lobby, brinquedoteca, piscina e biblioteca do Residência Cidade Jardim, condomínio que será erguido na vizinhança do centro de compras. Previstos para 2015, os dezessete apartamentos têm até 1.815 metros quadrados. “São projetos interessantes e de porte que nos atraem e podem justificar no futuro um endereço por aqui”, afirma Denis Montel,diretor do RDAI.