Envolvido em caso de agressão, bar Quitandinha não abre no Carnaval
Frequentadora acusou o bar de ter sido conivente com um assédio praticado por outros dois clientes na noite da última quinta (4)
Acusado de ter sido conivente com uma tentativa de assédio e agressão a duas clientes, por parte de outros dois frequentadores, na última quinta (4), o bar Quitandinha, localizado na Rua Fidalga, no coração da Vila Madalena, decidiu não funcionar durante o Carnaval.
A reportagem de VEJA SÃO PAULO visitou o estabelecimento neste domingo (7) e encontrou as portas cerradas. Um segurança, que vestia uma camisa com o brasão do bar, informou que o local também não abriu na sexta e no sábado (5 e 6).
A situação inusitada constrasta com a dos bares vizinhos, que aproveitavam o grande movimento de público do Carnaval para faturar. Procurados para explicar o episódio, os proprietários não foram encontrados. Nos últimos dias, o empreendimento manifestou-se apenas por sua conta oficial no Facebook.
O caso
Em uma postagem em seu perfil no Facebook na última sexta (5), a universitária Júlia Velo afirmou ter sofrido agressões físicas e verbais enquanto frequentava o Quitandinha na noite de quinta com uma amiga.
Na ocasião, ela teria sido abordada em sua mesa por dois homens e, após responder negativamente às investidas, passou a ouvir xingamentos e até um puxão pelo braço. Segundo seu relato, além de não receber solidariedade por parte da gerência do bar, ainda terminou expulsa pelo segurança.
O depoimento teve mais de 100 000 curtidas e 33 000 compartilhamentos nos últimos dois dias. Um evento chamado de “Fecha Quitandinha”, conclamando um boicote para os próximos dias, recebeu cerca de 2 000 adesões.
O bar, por outro lado, colheu uma enxurrada de críticas desde a divulgação do episódio. Mais de 23 000 avaliações negativas foram postadas em sua página na rede social desde sexta. Na tentativa de resolver o problema, a administração divulgou uma nota no último sábado (6), mostrando “indignação”. Mas com a garota.
“Estranha o fato da pessoa que conta a história não querer assistência como foi dada no momento, estranha a pessoa não querer denunciar o agressor e sim, apenas falar do bar. (…) O bar está à disposição para a verdade, será encaminhado tudo ao jurídico para tomar as devidas providências e mostrar a verdade dos fatos, esses que terão que ser provados, caso contrário, será movido um processo por difamação e calúnia contra o estabelecimento”.
O comentário infeliz enfureceu ainda mais os internautas, que acusaram o estabelecimento de tentar culpabilizar as vítimas de assédio. “Direção machista e tosca. Além de passarem pano para playboy porco agressor de mulher ainda tenta de todas as formas inverter a situação e culpar as mulheres”, postou um dos seguidores.
Diante de mais uma avalanche de reclamações, uma nova nota surgiu na página oficial do bar, informando que houve um “engano na interpretação do texto”. Algumas horas depois, no entanto, ainda no sábado, o estabelecimento recuou, mudou de tom e divulgou um pedido de desculpas.
“Devido à gravidade e relevância da situação ocorrida, relatada por Júlia Velo, a equipe do Bar Quitandinha pede desculpas se em algum momento demos a impressão de que estávamos transferindo alguma culpa ou acusando alguém.” Em seguida, uma nova postagem: “Queremos que vocês saibam que estamos trabalhando com toda nossa força pra descobrir exatamente o que houve na noite do dia 4 e para responsabilizar os culpados pelo fato acontecido é narrado por Júlia Velo e seus amigos”.
O relato
Júlia conta que, na noite da última quinta (4), ela e uma amiga foram abordadas por dois homens, que sentaram à sua mesa sem serem convidados e insistiram em conversar, apesar da recusa. Incomodadas com o assédio, as duas chamaram um garçom, que não as atendeu.
“Enquanto eu e a minha amiga tentávamos ignorar os dois trogloditas, eles resolveram partir para o contato físico, já que uma conversinha amigável não estava adiantando. Um deles puxou meu braço. Pedi para ele não tocar em mim”, escreveu Júlia. Ela conta que, logo após, os homens começaram a xingá-las. Ao reclamarem novamente com a gerência, foram expulsas do lugar.
“Ao invés de retirar os caras, o segurança nos retirou, de forma bruta. Sim. As duas meninas que estavam sentadas na mesa tomando conta das nossas próprias vidas. Nesse ponto, nossos amigos homens já tinham voltado e estavam tentando convencer a equipe do bar de que a culpa não era nossa, também em vão, também indignados com tudo”, escreveu.Júlia ainda escreve que o gerente do bar declarou que “se não houve agressão física, não poderia fazer nada. Que os dois indivíduos que nos assediaram eram clientes e não iriam lidar com as nossas acusações”.
A polícia chegou a ir ao local na madrugada de sexta, mas a corporação informou que nenhuma das partes quis prestar queixa na ocasião.