Peruíbe na rota dos ETs
Acredite se quiser: a prefeitura da cidade litorânea cria passeio “ufoturístico” com oito pontos para avistar supostos objetos não identificados
Às 11 da noite do dia 5 de janeiro de 2011, o biólogo e ufólogo Paulo Aníbal jura que presenciou uma esfera alaranjada, desenvolvendo alta velocidade e fora das rotas aéreas usuais, sobrevoar a Praia do Costão, em Peruíbe, e iluminar a areia com um tom avermelhado. Cerca de um minuto depois, segundo ele, o objeto sumiu por trás das montanhas da Serra do Mar, da mesma forma espontânea como havia surgido. É um relato inusitado e um tanto questionável, mas está longe de ser raro na cidade do Litoral Sul: foram mais de 300 semelhantes nos últimos quarenta anos. É, segundo especialistas no tema, o maior índice do estado de São Paulo, inferior no Brasil apenas ao do litoral do Pará e ao do sul de Minas Gerais (onde fica Varginha, conhecida como a capital dos óvnis).
Seres iluminados que deslizam sem tocar o solo, bolas de fogo, naves cilíndricas e em formato de arraia são histórias comuns na região. Para aproveitar o clima do seriado de TV Arquivo X, a prefeitura criou, em 2009, o primeiro passeio “ufoturístico” do país: são oito pontos com registros de ocorrências. No mês passado, 1.300 pessoas se reuniram para a oitava edição do Encontro Ufológico de Peruíbe, com apoio oficial. No entanto, o incentivo público ainda apresenta resultados tímidos: em 2011, cerca de 3.000 pessoas foram ao município à procura de extraterrestres, 0,3% do total de 1 milhão de visitantes (terráqueos) anuais.
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Frequentadora da Praia do Guaraú há um mês — desde que seus pais compraram uma casa de veraneio a 9 quilômetros do centro —, a estudante Gabrielli Marques, de 19 anos, diz ter visto algo bem incomum no domingo (20): deslizando pela areia, um homem vestido de branco cruzou a orla em direção às pedras. Em poucos segundos, o tal ser misterioso sumiu em um matagal. “Parecia uma pessoa de tamanho normal, mas se locomovia mais rápido, sem fazer movimento com as pernas”, conta ela.
Morador local, o designer Marco Carrara tem 35 anos de “convívio” com os extraterrestres e é um precursor do tema na cidade: na década de 90, organizou o “Primeiro Encontro Interplanetário Portal da Jureia”, que discutiu a existência de vida fora da Terra. Em uma ocasião, há quinze anos, teria observado uma nave com 5 metros de diâmetro — e luzes vermelhas, amarelas, azuis e laranja — em frente à janela de sua casa, na Estrada do Guaraú. Ela ficou parada a 3 metros de distância por um minuto e desapareceu. “Desde os anos 70 que eu vejo coisas inexplicáveis”, afirma. “Comecei a tratar do assunto quando ninguém dava bola.” Responsável por oficializar o “roteiro das galáxias”, a prefeita Milena Bargieri está longe de ser uma cética, embora não demonstre tanta euforia com criaturas alienígenas. “Infelizmente, ainda não tive o privilégio de ver nada desse tipo, mas já se tornou algo natural na cidade, as pessoas aceitam isso e convivem com a maior tranquilidade”, disse ela em seu gabinete, decorado com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, da qual é devota, e quadros com imagens de Jesus Cristo.
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O ufólogo Paulo Aníbal investiga os fenômenos do Litoral Sul há anos. Ele mora no bairro Butantã, na capital, e suas visitas a Peruíbe se tornaram mais frequentes desde a suposta aterrissagem de uma espaçonave no Bairro de São José, em agosto de 2008. No último dia 21, ele realizou uma nova vigília na Pedra da Serpente. “Visito a área sempre que há novo relato”, conta. Ele, assim como outros que creem em seres de outros planetas, não considera a possibilidade de que essas aparições sejam fenômenos naturais ou artefatos, como balões estratosféricos. Vestido com calça de moletom, camisa social e colete de oito bolsos, todos pretos (para se camuflar melhor nas tocaias noturnas), ele faz vigília por mais de uma hora, munido de uma caneta prateada em forma de ET, uma lanterna e um magnetômetro — aparelho que registra oscilações no campo magnético e carrega a otimista expressão UFO Detector (detector de óvnis). “As aparições não ocorrem só à noite, mas as luzes das naves espaciais são ofuscadas pela presença do sol e acabam não sendo percebidas”, acredita. Dessa vez, no entanto, a caça não foi produtiva. O único ser avistado por Aníbal naquela noite sem luar foi um siri nativo, que insistia em correr de lado pela areia molhada.
ROTEIRO ALIENÍGENA
As “ocorrências” relatadas em alguns pontos de visitação sugeridos pela prefeitura
Bairro de São José
No dia 18 de agosto de 2008, moradores relataram que uma “nave” com cerca de 15 metros de diâmetro teria pousado em um matagal. O fenômeno foi acompanhado por um apagão nas casas da região.
Ilha Queimada Grande
A moradora mais famosa é a jararaca-ilhoa, espécie de serpente, mas bolas de fogo e objetos cilíndricos teriam sido vistos por ali.
Praia do Guaraú
A praia de 1,5 quilômetro de extensão é apontada como cenário de uma série de ocorrências sobrenaturais, a última delas no domingo (20), quando houve quem notasse um homem vestido de branco deslizando pela orla.
Praia do Perequê
Há onze anos, um morador afirma ter visto um ônibus vindo da direção do Morro do Juquiá, a uma altura de 50 metros. Em seguida, sentiu como se estivesse levitando.
Pedra da Serpente
Há relatos recorrentes de um ser loiro de cerca de 2 metros de altura vagando pelo local. Segundo testemunhas, ele aparece sempre por volta da meia-noite.
Ruína do Abarebebê
Um objeto com uma intensa luz branca teria sido visto pelo secretário de Turismo da cidade, João Fioribelli Jr. Deslocou-se em ângulos retos durante quinze minutos e chegou a sobrevoar a cabeça da testemunha.
Praia da Barra do Una (São Sebastião)
Mesmo a 170 quilômetros de Peruíbe, o local também integra o roteiro da cidade. Em uma ocasião, um casal jura ter flagrado uma nave parada no ar: dela saíram voando algumas criaturas indefiníveis.