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‘Personal shoppers’ selecionam lojas para clientes e fazem prova de roupa por vídeo

Especialistas em compras, essas profissionais ganham cada vez mais consumidores na capital e lucram com a nova rotina em home office

Por Humberto Abdo
Atualizado em 19 jul 2021, 14h50 - Publicado em 30 abr 2021, 06h00

Na feirinha da madrugada, Marcela Dellarole, 37, descobriu sua vocação. A paixão pelas boas compras fez com que ela se tornasse consultora de imagem, ou personal shopper, no termo em inglês. “Meu pai me levava às 4 da manhã para comprarmos roupas, que depois eu estilizava, e sempre ajudei as amigas com dicas de como se vestir”, relembra. Indicar as cores que “favorecem”, os looks certos para ocasiões especiais e como renovar o guarda-roupa são algumas das tarefas da personal shopper, além da parte divertida (e trabalhosa, garantem) de flanar pelas lojas. O serviço é cobrado por sessões ou pacotes e pode chegar a 4 000 reais (nos shoppings que oferecem essa opção, o atendimento é gratuito).

Marcela Dellarole sentada posando para a foto com a cabeça apoiada no braço
Personal shopper Marcela Dellarole (Divulgação/Divulgação)

“Quem experimenta não para mais”, propagandeia a personal Katia Fridrich. “Muita gente acha que o Iguatemi lançou isso em primeira mão, mas a verdade verdadeira é que começou comigo no Cidade Jardim. Cheguei a ir para Nova York fazer pesquisas sobre como tudo funcionava nas lojas de departamento e montamos um projeto adaptado.” (Em resposta à alfinetada, o Iguatemi afirma ter lançado o serviço em 2008; o Cidade Jardim foi inaugurado em 2009.)

As etapas do trabalho costumam ser sempre as mesmas: após conversar com a cliente, a personal seleciona lojas de acordo com sua rotina e orçamento para as compras. Depois de fazer uma pré-seleção de peças no shopping, a profissional retorna com a cliente para provar as opções. “Na revitalização de armário eu não tenho dó nem piedade”, brinca a personal Mariana Aragão, 24. “Eu dou minha opinião sincera e sinto que algumas pessoas ficam resistentes sobre o que querem doar. Às vezes a mãe da cliente participa, aí você tira uma peça e ela coloca de volta…”

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A vontade de se renovar e reduzir os itens do guarda-roupa também atraiu mais clientes nos últimos meses. “Trabalhamos muito na pandemia! As pessoas perceberam que têm coisas que compraram por impulso”, conta a personal shopper Rita Heroína, 44. Além desse detox das roupas, a consultoria completa pode incluir trabalhos em parceria com dermatologistas e esteticistas. “Nessas horas, falo se precisa arrumar o dente ou ‘colocar’ um pouco de boca, por exemplo.”

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“Confinada em casa, a mulher agora quer refazer seus looks porque ouve reclamações do marido e dos filhos sobre estar se vestindo mal, largada em casa”, surpreende-se Marcela Moura, 40, da Persone Imagem. Mas a demanda vem de vários nichos, segundo ela, entre médicos que não têm tempo para fazer suas compras e funcionários que passaram a se preocupar com o que devem vestir nas reuniões via Zoom. “Meu primeiro cliente foi o dono de um atacado de produtos de limpeza”, exemplifica Dellarole. “Muitos acham que só atendemos as ricas e famosas de São Paulo.”

Para as celebridades, o serviço não é novidade. “Embora não queiram que as pessoas saibam que elas precisam disso, preferem dar a entender que elas próprias têm senso fashion”, revela Moura. Composta de quase noventa pessoas, a carteira de clientes de Dellarole não costuma ter os requisitados artistas. “Por saber que eles não pagam, só fazem parcerias, eu não poderia me dar ao luxo.”

Com as restrições dos comércios devido à pandemia, quase todos os processos migraram para o home office: os links dos produtos são enviados por e-mail, as provas são feitas por vídeo e algumas marcas trabalham com a mala de roupas entregue em domicílio. “Nos sites, você consegue fazer uma pesquisa maior”, acredita Mariana, que acabou gostando do modelo on-line. “E nos ajudou a reduzir tempo, pois antes gastávamos cerca de três horas em cada pré-seleção”, pondera Dellarole. “Muitas vezes, ao retornar, a vendedora não encontrava meus produtos ou descobria que tinham sido vendidos. Essa é a grande barreira: lojas que não entendem que somos um apoio nas vendas.”

Flávia Farhat de lado mexendo em tablet
Flávia Farhat, personal shopper do Shopping Cidade Jardim (Divulgação/Divulgação)

No Shopping Cidade São Paulo, essa foi uma alternativa para manter o comércio a portas fechadas. “Notamos aumento na procura por brinquedos, roupas confortáveis e produtos de beleza”, diz Maria Flavia Alvarenga, superintendente do local. No novo canal de atendimento, a equipe faz as vendas personalizadas por WhatsApp. “Nós nos surpreendemos com a adesão do público masculino, que pede sugestões de presentes. Muitos não gostavam de frequentar shopping e encontraram uma forma rápida de fazer suas compras.”

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Com a estreita relação ao lado dos compradores, o papel da personal shopper pode envolver desabafos e breves casos de família. “Um cliente já me procurou pedindo ajuda para reatar o casamento”, conta Flávia Farhat, 28, personal do Cidade Jardim. “Depois de uma briga com a mulher, ele precisava de dicas para presenteá-la e a boa notícia é que no final eles reataram.” Sem um curso para essa área no Brasil, a habilidade de se relacionar bem é essencial para dar certo na profissão, acredita Flávia. “As pessoas acabam vendo na personal shopper alguém para desabafar e ao conversar comigo se sentem à vontade para falar de coisas pessoais.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 05 de maio de 2021, edição nº 2736

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