Paulistanos não vivem sem delivery
VEJA SÃO PAULO avaliou a entrega em domicílio de cinqüenta estabelecimentos. Confira o resultado e as histórias curiosas contadas pelos motoboys
Tempos atrás, encomendar comida em domicílio significava quase que somente receber uma pizza. Ao longo das duas últimas décadas, o delivery ganhou musculatura e passou a fazer parte do dia-a-dia dos paulistanos. Basta uma chamada para ter em casa de uma suculenta picanha a uma bela bandeja de sushi, de um substancioso fusilli a pratos indianos ricos em condimentos. “Cerca de 2 500 restaurantes na cidade dispõem de entrega em domicílio”, calcula Joaquim Saraiva de Almeida, diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Ele aponta as pizzarias como as líderes do setor, com 17 milhões de pedidos a cada mês.
Outra categoria pródiga em entregas é a dos árabes. Em algumas redes, os números impressionam. “No ano passado, o Habib’s recebeu 1,6 milhão de encomendas telefônicas em suas 79 unidades”, diz Marcelo Renato Barros, gerente de operações do grupo em São Paulo. Com quase sessenta anos de história, a rede Almanara só começou a atender por telefone há quatro anos. Para saciar a clientela existente na área em torno de suas oito lojas, mantém uma central de atendimento encarregada de distribuir os pedidos. “O delivery já equivale a 20% de nosso faturamento”, diz o sócio Douglas Coury. “Acredito que atingiremos a meta de 35% nos próximos quatro anos.”
Para verificar como funciona esse universo em expansão, Veja São Paulo testou cinqüenta endereços distribuídos entre onze especialidades culinárias. A avaliação foi feita no fim de semana passado, entre sexta e domingo, das 21 às 22 horas, horário considerado de pico. Sem se identificar e pagando a conta, 24 jornalistas ligaram dos mais diversos pontos da cidade. Foram avaliados os quesitos atendimento (tanto ao telefone quanto do motoboy), tempo de entrega, apresentação, temperatura e qualidade do alimento. Cada casa recebeu notas que variam de bomba, ou péssimo, a cinco estrelas, ou excelente. Os resultados estão nas páginas seguintes.
O caminho do seu pedido
Um exemplo de como funcionam as entregas de restaurantes
O restaurante America faz entregas desde sua inauguração, em 1985. No início, o pedido era levado a pé apenas para as redondezas da primeira unidade da rede, na Avenida Nove de Julho. Dois anos depois, com a inauguração da segunda loja, na Alameda Santos, foram contratados motoboys. Na época, cada estabelecimento tinha a sua equipe de atendentes. Hoje, a Central Delivery do America, criada há seis anos, concentra o serviço. O setor conta com oitenta motoqueiros espalhados por onze das treze unidades da capital, responsáveis por 34 000 entregas mensais.
O que eles dizem
Seis motoboys contam histórias da profissão. Há os que brigam por caixinhas gordas, os que recebem cantadas…
“Temos pressa e precisamos de perícia para equilibrar bebidas como milk-shake e suco. Quando batemos em um retrovisor ou passamos por um buraco, cai tudo mesmo.”
Vicente Moura da Silva, 40 anos, motoboy há oito
“Fazemos de tudo para a entrega chegar na hora, até encaramos chuva. Mas tem cliente, principalmente os de escritório, que nem caixinha dá.”
Marcos Avelino, 37 anos, motoboy há quinze
“Gosto do trabalho. É uma profissão com muita adrenalina. Exige velocidade para não atrasar o pedido e atenção o tempo todo. Sempre tive paixão por moto.”
Francisco de Assis dos Santos, 19 anos, motoboy há um ano e seis meses
“Já cheguei a ganhar 80 reais de caixinha de um cliente no fim do ano. Esse cara sempre dava uma grana alta para quem levava a comida. Imagine a briga para entregar um pedido dele.”
João da Cruz Neto, 34 anos, motoboy há dez
“Tem uma clientela que sempre aparece de calcinha e sutiã para pegar o pedido.”
Everton Prudêncio Procópio, 27 anos, motoboy há cinco
“Acontece de homem dar em cima, sim. Uma vez, um motorista me parou no trânsito, como se quisesse pedir informações. Na verdade, só queria o meu telefone. Não dei, claro.”
Necilton Lima de Oliveira, 31 anos, motoboy há nove
Central delivery
Com 1 000 pedidos diários, o Disk Cook faz entrega para restaurantes bacanas
O Disk Cook nasceu em 1997 com o objetivo de entregar refeições que vão além de pizzas e lanches. “Percebemos que faltavam opções de delivery de restaurantes de gabarito”, afirma Patrick Sigrist, um dos donos. Tudo começou com treze estabelecimentos paulistanos. Hoje, são 53 na cidade, além de cerca de cinqüenta no Rio de Janeiro. Dá para encomendar em casa um bacalhau do Antiquarius, tacos do El Mariachi, um camarão do Tatini… Por dia, uma média de 1 000 pedidos chega à central de atendimento em Jundiaí. No horário de maior movimento (no sábado, das 21h às 22h), 35 atendentes ficam a postos. A taxa de entrega varia de acordo com a região em que foi feito o pedido (o custo do serviço está programado para subir nesta semana). “Mas esse valor fica com as empresas de motoboys”, conta Sigrist. “Recebemos uma comissão de 27% sobre a venda.” A área atendida abrange da Lapa ao Morumbi e de Pinheiros até a Vila Mariana. Os pedidos são feitos via telefone ou site. Há ainda uma revista quadrimestral que divulga o cardápio do Disk Cook – 100 000 exemplares são distribuídos a clientes assíduos e em restaurantes. “Notamos que o paulistano não quer sair de casa, por medo e por comodismo”, diz Sigrist. “Resultado: crescemos 50% nos últimos três anos.”