Empresa transforma fios de cabelo em revestimento de parede
As sobras são coletadas de salões de beleza da capital; o item inusitado custa 350 reais por metro quadrado
Durante três anos, o engenheiro Helio Hatisuka, 34, acumulou 10 toneladas de cabelo na sede do Grupo Fragmaq, empresa que desenvolve soluções para resíduos e da qual é diretor, em Diadema, na Grande São Paulo. O motivo: encontrar uma aplicação para o resíduo coletado de salões de beleza e comercializar o produto, que normalmente pararia em aterros sanitários. A solução foi inusitada: cabelos nas paredes! E não grudado no banheiro, depois do banho, mas como fibras que fazem parte da composição dos revestimentos utilizados na decoração de ambientes internos.
“A gente estima faturar 60 000 reais por mês com esse produto”, diz Hatisuka. O item inusitado custa 350 reais por metro quadrado e pode ser encomendado em diversos formatos, dependendo da demanda do cliente. “Com 1 quilo de cabelo fabricamos 160 metros quadrados de revestimento”, explica o engenheiro. Mas como a façanha é possível?
Os revestimentos de parede normalmente levam em sua composição, além do cimento, fibras de polipropileno, feitas de plástico. Essas fibras, com cerca de 1,5 centímetro cada, conferem resistência, absorvendo impactos e dificultando a quebra das placas. “A função é evitar também a retração do material. O comportamento do cabelo foi muito parecido com o da fibra de polipropileno”, explica o engenheiro da Associação Brasileira de Cimento Portland, Claudio Oliveira, responsável pelos estudos para a viabilização do produto. Testes para definir se o item é mais ou menos resistente do que os revestimentos normais ainda estão sendo concluídos.
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“Com 1 quilo de cabelo fabricamos 160 metros quadrados de revestimento”
“O preço deve baixar ainda mais. Inserindo em fabricação de larga escala, no futuro, pode ser mais em conta que as linhas tradicionais”, explica o diretor de desenvolvimento da Lythos, Tomás Bertolacci, que fabrica o produto — um revestimento normal sai com eles, em média, por 240 reais o metro quadrado.
A captação das 10 toneladas de cabelo ocorreu graças ao Projeto Beleza Verde, do Grupo Fragmaq. A iniciativa coleta resíduos de cerca de sessenta salões de beleza da capital. “O resto das tintas de esmalte, por exemplo, utilizamos como substituto do combustível em fornos de fabricação de cimento”, explica Helio Hatisuka.
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Os salões pagam mensalidades que variam de 600 a 1 200 reais, dependendo do volume de resíduos, e a empresa é responsável por instalar recipientes para a separação e também pela coleta: são cerca de 3 toneladas de resíduos captados por mês na capital paulista.
O Beleza Verde recicla também latas de spray aerossol e outros itens. “Com esse projeto temos um faturamento de cerca de 150 000 reais por mês”, afirma Hatisuka.
Com os revestimentos “de cabelo”, a proposta é, inicialmente, vender o produto para salões de beleza e companhias interessadas em promover a sustentabilidade. As vendas começaram no início de julho e os primeiros 20 metros quadrados do produto foram para uma empresa de reciclagem em Valinhos. O próximo passo é utilizar o cabelo na fabricação de pisos. Pode-se encomendar o item pelo site belezaverde.com.
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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de julho de 2021, edição nº 2747