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Amor, ativismo e picuinhas: os 25 anos da Parada do Orgulho LGBT+

O evento volta a acontecer presencialmente na Avenida Paulista neste domingo (19)

Por Tomás Novaes
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h52 - Publicado em 17 jun 2022, 06h00
Imagem mostra homem segurando bandeira LGBT grande, sentado, sobre suas pernas.
O vice-presidente da APOGLBT, Renato Viterbo. (Leo Martins/Veja SP)
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“Vim para a Parada como voluntário, e ele também, em 1999. A gente ficou segurando a bandeira. Eu estava de um lado, ele do outro, ele me olhou, eu olhei para ele, e a partir disso a gente nunca mais se desgrudou.” Antes de se tornar o vice-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT), em 2017, o baiano Renato Viterbo, 55, já era um dos inúmeros rostos que apareciam anualmente na Avenida Paulista.

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O evento que começou 25 anos atrás (leia mais sobre veteranos ao final do texto) e, no fim dos anos 90, reunia milhares, hoje junta milhões e se mantém como uma das maiores, por vezes — em 2006 e em 2011 — a maior, paradas LGBTQIA+ do mundo.

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E foi em meio à terceira edição que Viterbo conheceu o marido, o gráfico Ricardo Marchioro, 65. “Era o meu primeiro ano. A de 1997, por exemplo, vi pela televisão. Ainda achava estranho as pessoas naquela época estarem se expondo”, admite Viterbo, que hoje cuida da organização junto da presidente, Claudia Regina.

Imagem mostra dois homens de camiseta branca e shorts abraçados, sorrindo
Renato Viterbo com o marido, Ricardo, que conheceu no desfile. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Após dois anos sem o grande evento presencial, a manifestação política combinada a desfile multicolorido com jeito de balada voltará a acontecer no domingo (19), com o tema Vote com Orgulho. Em clima de eleição, esse é o terceiro mote que proclama um sufrágio consciente, depois de 2010 e 2018.

Parte do calendário oficial da prefeitura, a parada é um dos três eventos permitidos na Avenida Paulista, ao lado do réveillon e da São Silvestre. Em 2019, movimentou mais de 400 milhões de reais na cidade, de acordo com a prefeitura (veja roteiro de festas paralelas aqui). “A gente tem muita consulta de empresas querendo vir para a Parada. Mas, pesquisando, percebemos que às vezes ali não tem um trabalho de diversidade, o que não nos interessa”, observa o organizador.

A fila de anunciantes interessados foi grande para a edição de 2022, que tem expectativa de público de 3,5 milhões de pessoas, boa parte de fora da cidade. Haverá dezenove trios elétricos, com artistas como Pabllo Vittar, Luísa Sonza e Liniker, da Paulista à Praça Roosevelt.

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Apesar dos dois anos de aguardo, com edições virtuais, o retorno completo do desfile teve menos tempo de preparo do que o usual, relata Nelson Pereira, um dos sócios-fundadores da APOGLBT. “A questão era a pandemia. Ficamos na espera por causa disso. Estávamos trabalhando para ter uma forma híbrida: usar um es- paço menor e fazer via virtual.” A autorização da prefeitura para a realização presencial chegou 45 dias antes do dia de se colocarem os trios para rodar.

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Sobre a recente alta do número de infectados por Covid-19, Pereira afirma que a organização fará a recomendação do uso de máscara. No quesito segurança, considerando os casos de violência ocorridos recentemente no Vale do Anhangabaú na Virada Cultural, o policiamento feito pela GCM, pela PM e por seguranças privados deve ser reforçado. “O que mais acontece é roubo de celular”, afirma. “Mas costumo dizer que a Parada é um evento seguro, e vamos continuar assim.”

Na terça (14), parlamentares simpáticos à causa LGBTQIA+ receberam ameaças por apoiarem a Parada. Na mensagem de e-mail, o autor diz que colocará uma bomba na avenida e que “muita gente vai morrer”. Quem comunicou o fato foi a deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL). Além dela, são citados o deputado federal Alexandre Frota (PSDB) e os vereadores Thammy Miranda (PL) e Erika Hilton (PSOL). O texto cita ainda os organizadores do evento e o secretário de Justiça, Fernando José da Costa.

No último ano, 300 pessoas LGBTQIA+ foram mortas violentamente no país, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia.

Imagem mostra cartaz em preto e branco escrito com informações sobre uma Parada LGBT.
Cartaz da 1a Parada LGBT de São Paulo, em 1997: na época com o nome “Parada do Orgulho GLT”. (Acervo APOGLBT/Divulgação)

Entre passado e presente

Em um tempo em que não havia filas de anunciantes nem caravanas de diferentes cantos do Brasil, grupos pioneiros, corajosos, davam a cara a tapas nas ruas. Um deles, essencial no movimento LGBTQIA+, é o das drag queens, artistas que performam usando roupas e acessórios como perucas e maquiagens geralmente relacionados ao universo feminino.

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Nomes clássicos da noite como Nany People, Salete Campari, Kaká di Polly e Silvetty Montilla estamparam as fotos da primeira edição da Parada do Orgulho GLT de São Paulo, há 25 anos, e costumam participar de quase todas as edições desde então. “Quando eu cheguei à avenida, foi uma coisa maravilhosa. Eu vi todo mundo igual a mim, lutando pela mesma causa”, diz Salete Campari, 53, que também é hostess em boates e militante da causa.

Imagem mostra pessoa com figurino azul e uma foto antiga na mão
Kaká di Polly: figurino pronto para a Parada e a foto de 1997. (Leo Martins/Veja SP)

Silvetty Montilla, 54, que faz shows de humor em festas e trabalha como atriz, relembra a época. “Eram poucas pessoas, foi em uma perua velha que descemos a Paulista. No encerramento, na Praça Roosevelt, me chamaram para falar — e foi a partir daí que fiquei apresentadora, por dezesseis anos”, orgulha-se. Kaká di Polly, 65, drag queen histórica da cidade, conta outro causo de 1997: “Me joguei no chão no meio das faixas da Paulista. Logo, já fizeram um isolamento e, enquanto isso, pegaram o carro e o botaram para andar”, conta.

Elogios a outras personalidades do momento, como as cantoras drags Pabllo Vittar e Gloria Groove, não faltaram quando questionadas sobre as novas gerações. Na mesma medida, as transformistas veteranas reivindicaram não serem deixadas para trás. “Quando a gente passa dos 50, 60, termina sendo esquecida em tudo”, diz Salete. Silvetty, que ficou afastada do evento por quatro anos, retorna neste domingo à Paulista. “Me convidaram novamente. É isso, pessoas novas vão entrando, a única coisa que eu acho é que se deve lembrar de quem começou tudo isso”, conta.

Em 2020, a primeira edição virtual da Parada foi envolta por uma polêmica sobre a ausência de nomes importantes na programação, como os das drags veteranas. Renato Viterbo, vice-presidente da APOGLBT, diz que houve um desencontro. “Em algum momento a comunicação se perdeu”, explica. Sobre Kaká, afirma que ela “não tem uma ligação com a associação da Parada”.

“Achei aquilo um absurdo. Você fazer parte da história, estar viva e não ser lembrada para falar dois minutos justamente por pessoas que estão à frente desse movimento”, reclama Kaká, que voltará à Paulista neste ano, com o tema Vote com Orgulho. Após declarar voto no presidente Jair Bolsonaro (PL) e depois, durante a pandemia, externar seu arrependimento, a drag afirmou à Vejinha que já está decidida. “É Lula ou Lula, a gente não tem mais opção.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de junho de 2022, edição nº 2794

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